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Grifes apostam em iniciativas ecologicamente corretas

Carrões movidos a eletricidade e balada de milionários com economia de luz. Sem perder a pose, o mundo AAA adere à preocupação ambiental

Por Simone Esmanhotto
Atualizado em 1 jun 2017, 18h47 - Publicado em 27 nov 2009, 11h25
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  • Em meio ao cinza predominante da Avenida Juscelino Kubitschek, o restaurante Kaá parece miragem. Um exuberante salão de 700 metros quadrados, ladeado por um jardim vertical com 7 000 plantas típicas da Mata Atlântica, impressiona logo de cara. Nos Jardins, o restaurante do Hotel Emiliano atravessa uma silenciosa revolução de legumes. Inspirado por O Dilema do Onívoro, livro do jornalista americano Michael Pollan sobre hábitos alimentares, o chef José Barattino não só adotou ingredientes orgânicos como passou a encomendar a pequenos agricultores nos arredores de São Paulo as hortaliças servidas nos refinados pratos que prepara. O que une as duas histórias? Além, claro, de receberem públicos parecidos, ambos escolheram iniciativas ecologicamente corretas como diferencial, aposta cada vez mais comum. “Adotar critérios de sustentabilidade é questão de sobrevivência, não só do planeta, mas das empresas de luxo”, diz Luciana Betiol, vice-coordenadora do MBA em Gestão de Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas.

    Apesar de muitas empresas ainda caminharem a passos de tartaruga quando se trata de proteção ao meio ambiente, começam a surgir na cidade iniciativas interessantes. Um exemplo é a iluminação do Club A, point de milionários inaugurado em outubro, que consome menos energia elétrica graças a 2 000 lâmpadas LED. A economia, de 20 quilowatts por hora, daria para manter acesas quatro boates do mesmo porte. O salão de beleza do cabeleireiro

    Marcos Proença, no Jardim Europa, tem apenas madeira certificada ou de demolição. Aliás, a Casa Cor, a maior feira de decoração do país, escolheu sustentabilidade como tema de sua edição deste ano. No começo de 2010, chega a São Paulo o, por assim dizer, irmão hippie da Mercedes-Benz S400. Além do motor a gasolina, terá outro, elétrico. Estima-se que o preço final bata os 500 000 reais, 100 000 a menos que seu equivalente movido exclusivamente a gasolina. O consumo de combustível é 26% menor, de 12,6 quilômetros por litro. A emissão de monóxido de carbono cai de 231 para 186 gramas por quilômetro rodado. A Audi, por sua vez, pretende trazer o e-tron em 2012. Com quatro motores elétricos e bateria de 313 cavalos, o modelo promete ser tão veloz quanto silencioso. “É uma experiência nova para os apaixonados por esportivos”, afirma Paulo Kakinoff, presidente da empresa no Brasil.

     

     

    E pensar que, não faz muito tempo, a simples menção da palavra “orgânico” acionava os alarmes contra ecochatos…Esse cenário começou a mudar quando se falou em economia. Claro, salvar o planeta para gerações futuras motiva qualquer um. Se der para engordar o caixa durante o processo, tanto melhor. Para início de conversa, convenhamos que pega muitíssimo bem para qualquer marca — da Coca-Cola à bodega da esquina — ser vista como amiga da natureza. Aí já se vão milhares de reais economizados em propaganda. E quão sedutor, aos ouvidos de um empresário, soa o argumento número 1 da reciclagem, o de transformar lixo em dinheiro? Defensor de primeira hora das ecocausas, o estilista e empresário Carlos Miele começou utilizando fios confeccionados com plástico de garrafas PET nos jeans e agora produz peças feitas de sarjas orgânicas e tingidas naturalmente. Restos de tecido que seriam descartados viram longos de fuxico, artesanato que precisa apenas de retalhos. “É a nossa alta-costura”, diz. Em março de 2010, sua loja da Rua Bela Cintra passará a ter painel para captar energia solar, sistema de reutilização da água da chuva, pintura feita com tinta à base de água e decoração exclusivamente com móveis de madeira reciclada. Isso representará uma economia estimada em 300 000 reais na reforma do imóvel, além de gastar 10 000 reais a menos por mês com o funcionamento da butique. “A palavra luxo voltou a significar algo especial, não apenas um símbolo de status”, afirma Miele.

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    Carlos Miele - estilista
    Carlos Miele – estilista ()

     

    Num seminário sobre luxo verde realizado em março último pelo jornal inglês International Herald Tribune, François Pinault, presidente do grupo que detém as marcas Gucci e Bottega Veneta, confirmou que o alto grau de exigência do consumidor AAA obriga os executivos a jogar limpo com os funcionários e o meio ambiente. Isso explica, em parte, o fato de a Tiffany & Co. só comprar diamantes certificados pela Kimberley Process, cooperativa internacional de monitoramento da origem das pedras. A ideia é evitar matéria-prima oriunda de zonas de conflito, que poderia financiar violência e agressão ao meio ambiente. Do lado de cá do balcão, as coisas não são bem assim. Mesmo que o consumo consciente tenha virado moda, muita gente compra peças sem se preocupar com a sua matéria-prima nem com o impacto delas para o planeta. Diante de um casaco Stella McCartney, exemplo de moda sustentável, e outro de marca que não se preocupa com tingimentos naturais ou fios orgânicos, a consumidora compra o que melhor combinar com seu gosto. “Infelizmente, ainda temos um longo caminho para que esse critério pese na escolha”, diz Natalie Klein, da NK Store, que vende a grife no Brasil.

     

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