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Gangue aplica golpes em pacientes de hospitais particulares

Albert Einstein, Sírio-Libanês e Samaritano já registraram casos. Prejuízo passa dos 50 000 reais

Por Silas Colombo
Atualizado em 1 jun 2017, 17h18 - Publicado em 4 jul 2014, 23h00
Hospital Albert Einstein
O Hospital Albert Einstein (Adriano Vizoni/Folha Imagem/Divulgação)
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No ano passado, a dona de casa Sônia Paes, de 52 anos, diagnosticada com leucemia, saiu de sua cidade, Santana do Ipanema, no interior de Alagoas, a fim de se submeter a um transplante de medula óssea no Hospital Israelita Albert Einstein, no Morumbi. Algumas horas após a realização da delicada cirurgia, o telefone do quarto tocou e foi atendido pelo marido dela, o engenheiro João. Do outro lado da linha, com todos os dados da paciente na ponta da língua, uma pessoa se identificou como sendo o médico responsável pela operação e fez um alerta. “O procedimento foi um sucesso, mas identifiquei um novo nódulo em sua esposa. Para tratá-lo, vou precisar de três remédios que não são vendidos no Brasil. Felizmente, conheço quem faz a importação. Vou entrar em contato. Prepare-se para transferir o dinheiro ainda hoje, pois o tratamento tem de começar amanhã”, disse.

 

 

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Depois de quarenta minutos, o mesmo homem voltou a ligar. “Consegui amostras grátis de dois dos medicamentos e um desconto no terceiro, que vai sair por 4 852 reais”, afirmou. O marido de Sônia, que já havia deixado tudo preparado com o gerente de seu banco, efetuou imediatamente o pagamento eletrônico para uma conta do Bradesco. No dia seguinte, descobriu que havia sido vítima de um golpe quando o verdadeiro médico de Sônia apareceu para visitá-la. João procurou a administração do hospital para relatar o caso e foi orientado a ir ao 34º Distrito Policial para registrar um boletim de ocorrência por estelionato. O Albert Einstein também resolveu indenizá-lo, e, depois de noventa dias, a quantia estava de volta à sua conta.

 

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Procurados pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, os responsáveis pelo hospital, onde outro caso semelhante aconteceu no ano passado, não quiseram dar entrevista sobre o assunto e se manifestaram por meio de uma nota, admitindo as falhas de segurança e relatando as medidas adotadas depois da ação dos criminosos. “Informamos todos os pacientes sobre a prática por meio de panfletos e advertência verbal. Procedimento este que mostrou efetividade, já que não foi registrado mais nenhum caso”, diz o texto do documento.

Valfrido-Gonzales-Filho
Valfrido-Gonzales-Filho ()

As ações no Einstein não foram episódios isolados. Há registros de golpes semelhantes aplicados em outros hospitais da cidade desde a metade do ano passado. O Sírio-Libanês teve um caso e o Samaritano São Paulo, outro. As vítimas fizeram depósitos em valores entre 3 200 e 21 000 reais. A soma do prejuízo chegou a cerca de 50 000 reais. No Santa Catarina e no Infantil Sabará, juntos, ocorreram quatro tentativas dos bandidos, mas sem sucesso. Embora o volume de crimes não seja grande, esse golpe ofende menos pela quantidade e mais pela desumanidade, por aproveitar um momento generalizado de fraqueza do doente e sua família — e, claro, preocupa porque pressupõe cumplicidade de pessoas de dentro desses renomados centros médicos. “Nesse tipo de episódio, é bem provável que um funcio nário tenha facilitado a ação dos bandidos. Pode ser despreparo ou cumplicidade”, afirma o delegado Wilson Zampieri, do 77º DP, de Santa Cecília, responsável pela área do Samaritano. A suspeita está baseada no fato de que o ponto fundamental que garante o sucesso do golpe é o grande conhecimento do prontuário médico das vítimas. Nos casos registrados no Einstein, por exemplo, alguns empregados forneceram as informações por achar que estavam falando por telefone com o verdadeiro médico. A partir disso, a administração do local resolveu reforçar os cuidados e testa um sistema em que os dados do prontuário só podem ser fornecidos depois da apresentação de uma senha.

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No momento, as investigações estão correndo no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Em todos os casos, os telefones e contas bancárias usados para aplicar o golpe têm alguma relação com uma quadrilha de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. O chefe seria Valfrido Gonzalez Filho, de 34 anos. Enquanto estava solto nas ruas, ele dava os mais diversos golpes na capital sulmato- grossense, passando-se por médico, advogado, delegado, desembargador, supervisor de hospitais, padre, pastor e até vereador. Preso desde agosto de 2012, o estelionatário teria transformado a cela do Estabelecimento Penal de Segurança Máxima de Campo Grande em um “escritório” e, apenas com um telefone celular em mãos, passado a fazer vítimas também em São Paulo e no Paraná.

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delegado wilson zampieri
delegado wilson zampieri ()

A principal pista sobre a gangue, que teria até vinte integrantes, segundo os responsáveis pela investigação, está na dona da conta bancária que recebe a maioria dos valores roubados. Identificada como namorada de Valfrido Filho, Alira Vera da Paixão o visitava com frequência no presídio e agora também poderá ser indiciada por estelionato. No mês passado, policiais do Deic de São Paulo viajaram para Campo Grande para tomar seu depoimento. Ela negou conhecer o marginal e apresentou uma justificativa rocambolesca para explicar os depósitos em sua conta. Segundo Alira, um homem a ameaçava de morte por telefone caso não recebesse o dinheiro e o transferisse para outras doze contas na cidade. Ninguém na polícia levou isso a sério e, no momento, os profissionais envolvidos no caso monitoram a rede de ligações telefônicas na esperança de, em poucos dias, conseguir capturar todos os bandidos.

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