Avatar do usuário logado
OLÁ,

Centro se transforma em point do circuito alternativo de arte

Atraídos pelos aluguéis mais baratos e boa infraestrutura de transporte público, espaços aumentam a oferta de atrações culturais na região

Por Júlia Gouveia
Atualizado em 12 nov 2018, 18h14 - Publicado em 12 set 2014, 23h00
billy castilho tag gallery
billy castilho tag gallery (Fernando Moraes/)
Continua após publicidade

Na Rua Líbero Badaró, a porta de ferro estreita do número 336 divide o espaço da calçada com a tradicional Mercearia Godinho, o histórico Edifício Sampaio Moreira, pombas e alguns botecos pés-sujos. Desde o último sábado (6), porém, a circulação de artistas e gente descolada pelo 3º andar do prédio trouxe um novo astral ao ambiente. O burburinho é causado pela recente inauguração da Tag Gallery, lugar dedicado à arte urbana. No comando da empreitada está o curador Billy Castilho, ex-sócio da Tag and Juice, misto de galeria e loja de bicicletas que fechou as portas no começo do ano na Vila Madalena. “Senti a necessidade de estar em um local mais urbano e conectado com a cidade”, diz ele. A chegada do negócio reforça um movimento que vem ganhando fôlego nos últimos meses: jovens artistas estão optando pelo centro para abrir galerias, ateliês e escritórios. Além do espaço recém-inaugurado, a região conta com pelo menos outras dez iniciativas ligadas ao circuito alternativo de arte, como, por exemplo, o Estúdio Lâmina, a Red Bull Station e a Phosphorus.

 

Atraídos pelo preço mais baixo do aluguel — o metro quadrado para locação por ali custa 41 reais, em média, contra 72 reais em Pinheiros — e pela boa infraestrutura de transporte público, esses grupos realizam uma espécie de garimpo em busca de prédios que, por trás da sujeira e da degradação da fachada, escondem um interior interessante. Esse é o caso de uma das pioneiras na tendência, a Phosphorus. Desde 2011, o espaço sediado em um casarão de 1 000 metros quadrados do fim do século XIX na Rua Roberto Simonsen promove residências artísticas e exposições. “Quando entramos, o imóvel estava completamente em ruínas”, lembra a curadora Maria Montero. “Fizemos uma limpeza, trocamos o teto e pintamos os ambientes.” Em abril, ela inaugurou uma ala: a Galeria Sé, que representa artistas contemporâneos como Rafael RG e Gustavo Ferro. No mesmo prédio, ainda funciona a Casa Juisi, dedicada à moda e ao figurino.

+ Monges do Mosteiro de São Bento usam tablet, Facebook e WhatsApp

estúdio lâmina
estúdio lâmina ()
Continua após a publicidade

Na busca por uma integração maior com o centro, alguns artistas estão indo morar nos mesmos prédios que abrigam suas iniciativas. Foi o que ocorreu com o escultor Luciano Contraruas. Desde 2011, ele se transferiu para o 4º andar de um edifício na Avenida São João onde funciona o Estúdio Lâmina, que acolhe exposições de arte, fotografia e manifestações culturais. “Depois da minha chegada, muitos amigos artistas também se interessaram e se mudaram para outras salas e apartamentos do edifício”, conta. Outra iniciativa é a Red Bull Station, aberta ao público em novembro na Praça da Bandeira. Instalado em um prédio da década de 20 que pertenceu à Eletropaulo, o local tem como foco um estúdio de música e programas de residência artística. “Nosso interesse não é comercial, trata-se de um laboratório para novas ideias”, afirma Paula Borghi, curadora do projeto. Por ali, os visitantes podem passear pelas exposições, acompanhar os artistas trabalhando nos ateliês e participar de workshops gratuitos.

+ Lavanderias diversifcam o atendimento ao cliente

baixo ribeiro eduqativos prédio do farol
baixo ribeiro eduqativos prédio do farol ()

Mesmo quem já estava consagrado em outros bairros resolveu pôr um pé no centro. Famoso pelo Instituto Choque Cultural, na Vila Madalena, o arquiteto Baixo Ribeiro abriu em maio um escritório no Farol, prédio próximo ao Largo do Paissandu. O ponto reúne no mesmo edifício outras empresas nas áreas de design, artes e jornalismo. Mesmo sem ser aberto ao público, o projeto de Ribeiro, batizado de Eduqativos, tem programas de formação de professores de arte e outras ações culturais. “Esta região sempre foi negligenciada, mas é a mais interessante da capital”, opina. “A agitação recente tem potencial para transformar o centro em um novo point de cultura.” Para profissionais do ramo, o circuito alternativo é essencial na renovação da área. “Os espaços independentes trazem uma oxigenação para o sistema: exploram outros formatos e criam um novo público”, opina Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte, a mais importante feira de arte do país.

Publicidade