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OLÁ,

Futebol de drag queens atrai curiosos e ganha apoio da prefeitura

Famosa por sediar produzidíssimas performances, Blue Space coloca seu elenco artístico para fazer algo diferente

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 5 dez 2016, 18h13 - Publicado em 26 mar 2011, 00h52

Há quinze anos, o empresário José Vitor teve uma ideia inusitada para comemorar o primeiro aniversário da boate gay da qual era dono, a Blue Space. Famosa por sediar produzidíssimas performances de drag queens, com direito a bailarinos e cenários portentosos, a casa noturna da Barra Funda pôs seu elenco artístico para jogar futebol na rua lateral. “As coisas eram muito diferentes, não tínhamos nenhuma estrutura e quase ninguém vinha ver”, conta Vitor. “Queria mostrar nossa arte para a vizinhança, que não entendia o que acontecia dentro da boate e ficava tímida de sair nas janelas.” Hoje, a atmosfera é outra. No último dia 20, às 15 horas, um festão com cerca de 3.000 curiosos agitou a Rua João de Barros. Entre eles, estava a gerente financeira Suzi Guerra, que foi com o marido e os dois enteados para a torcida. “Acho importante trazer as crianças a eventos como esse, para mais tarde não haver discriminação.”

Pela primeira vez, a prefeitura apoiou a iniciativa. Havia policiamento, banheiros químicos, cercadinho para delimitar a quadra e um palco estruturado para apresentações antes realizadas no asfalto. Das janelas, os moradores da região tinham visão privilegiada. “Acho superdivertido. A gente faz até lanchinhos para acompanhar no ‘camarote’”, afirma a auxiliar administrativa Jéssica Souza, que mora no 3º andar de um prédio em frente. Às 16h50 começou a partida de futebol, se assim se pode chamar essa livre versão do esporte bretão. A frase mais gritada no microfone pela juíza Silvetty Montilla — uma espécie de rainha das drags, que sobe ao palco de boates em média quinze vezes por semana — era “Bola no chão!”, diante das ajudinhas com a mão. A brincadeira já estava clara na formação dos times. Eram dezessete jogadoras do grupo “feminino” contra onze do masculino, onde figuravam barmen, DJs, seguranças e outros funcionários da casa noturna. Valia tudo: mudar as traves de lugar, agarrar os adversários… “A gente mais corre da bola do que vai atrás dela”, brinca a drag Dindry Buck. “Seguro os ‘bofes’ para as outras marcarem gols.” A confusão era tanta que ficou impossível contabilizar o placar.

Na quadra, o visual era caprichado, com perucas, maquiagens carregadas, saltos e roupas de ofuscar os olhos. No time “azul”, o recepcionista Henrique Callado exibia tranças rosa no cabelo e um short com seu sobrenome estampado. “É da minha irmã, que é jogadora de futebol profissional”, diz. Comentários de Silvetty como “Aqui a programação é rápida por causa do horário do metrô” ou “Da próxima vez vamos fazer uma luta de sumô” divertiram a plateia. Por volta das 18 horas, quando uma chuva se anunciava no céu, a festa foi levada para dentro da boate. Lá, as pernas de pau se transformavam em craques, em shows cheios de purpurina.

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