Flagrantes da metrópole: Nair Benedicto divide seu olhar sobre São Paulo
Confira as imagens de Nair Benedicto, um dos oito ensaios sobre São Paulo em comemoração ao aniversário da cidade

Neste sábado (25), São Paulo celebra 471 anos de história. E esta edição especial comemorativa do seu aniversário tem para a Vejinha um colorido especial. Em 2025, a revista comemora 40 anos, desde a publicação de sua primeira edição, em 9 de setembro de 1985.
Para conjugar tudo numa só celebração, convidamos oito fotógrafos, paulistanos ou forasteiros que escolherem aqui viver, para oferecem aos leitores pequenos ensaios que traduzissem sua visão pessoal sobre esta cidade, tão cheia de contrastes, diversa na paisagem, no povo e na arquitetura. Um prato cheio para o olhar sensível destes profissionais.
Cada um enviou cinco imagens muito particulares, quarenta ângulos da cidade que, juntos, revelam uma metrópole de muitas possibilidades. Confira abaixo os cliques do fotógrafa Nair Benedicto.
Nascida na Liberdade, Nair Benedicto, 85, é a oitava filha de um casal de agricultores que veio para a cidade a fim de possibilitar estudo para os filhos, sete meninas e um menino. “Desde bem criança os contrastes e confrontos da cidade me chamavam a atenção, mas, claro, só percebi e valorizei isto muito mais tarde”, recorda.
Em casa, notou cedo as limitações impostas às mulheres. “Somente o irmão queridíssimo, que nasceu antes de mim, tinha direitos que desde sempre almejava obter”, lembra ela, que adorava dançar, mas, apesar da indiferença do irmão para a prática, era ele quem frequentava a porta dos bailinhos. “Já eu, sempre de longe… na janela… olhando… Minha vida pessoal e profissional sempre esteve ligada à cidade”, conta a tarimbada profissional, que durante um tempo cultivou o hábito de sair para fotografar de madrugada e tem especial interesse por grafites. “Os grafites, não só eles, mas todas as inscrições nas paredes e locais, me ajudam a entender a cidade e as pessoas em seus desejos, frustrações e adequações.”
Admiradora e leitora voraz da arquiteta e urbanista Ermínia Maricato, ela cita como fonte de inspiração a frase: “É preciso distribuir cidade”. Esta terra que a acalentou hoje provoca sentimentos dúbios, ora amorosos, ora amedrontadores. “Mas, com todo o respeito, São Paulo, te carrego no meu peito!”, diz Nair, que desenvolveu trabalhos sobre os guaranis e sobre “o que falam os muros e espaços da cidade”, em que investigou como se organizavam as pessoas mais desamparadas na maior metrópole latino-americana.
“Apesar dos meus 85 anos, ou talvez exatamente por isto, não desisto de reconhecer as muitas São Paulo que existem dentro e fora de mim, de nós. Vamos trabalhar no sentido de torná-la a cidade que queremos?”, convida esta voz da sabedoria.




Publicado em VEJA São Paulo de 24 de janeiro de 2025, edição n° 2928