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OLÁ,

Saiba tudo sobre o novo prefeito Fernando Haddad

Eleito com 55,6% dos votos, o petista passou a infância num bairro da zona sul e ingressou na política quando ainda era estudante de direito na USP 

Por Mauricio Xavier
Atualizado em 27 dez 2016, 16h27 - Publicado em 28 out 2012, 19h23

Eleito prefeito de São Paulo 55,6% dos votos válidos, em disputa com o veterano José Serra (PSDB), o petista  Fernando Haddad tomou posse neste 1º de janeiro, às 15h58, no Palácio Anchieta, atual sede da Câmara Municipal. 

Fernando Haddad circulou anônimo pela região da Rua 25 de Março por doze anos. Começou a trabalhar em 1981 na Mercantil Paulista de Tecidos — a loja de seu pai, o libanês Khalil Haddad, na Rua Comendador Abdo Schahin —, aos 18 anos de idade. Descontado o período entre 1985 e 1989 (quando teve uma construtora e foi analista de investimentos do antigo Unibanco), esteve atrás do balcão do negócio da família até sua extinção, em 1997. No último dia 15, ele retornou ao epicentro do comércio popular paulistano e tudo foi diferente. Sua agenda de campanha previa uma caminhada de cinco minutos do Pátio do Colégio à 25 de Março, onde haveria um “minicomício”. Mas, cercado por uma multidão de jornalistas, correligionários e curiosos que faziam os pedidos mais estapafúrdios — entre eles, um homem com dreadlocks que gritava “Haddad rastafári, olhe para a África!” —, foi impossível percorrer os 300 metros da Praça Padre Manuel da Nóbrega e do calçadão da Rua General Carneiro. No empurra-empurra, não conseguiu dar vinte passos. Desistiu e fez o percurso de carro.

Nem os quase sete anos como ministro da Educação deixaram seu rosto tão conhecido quanto os dois meses de propaganda política na TV. Até agosto, ele ainda era confundido na rua com Gabriel Chalita, candidato do PMDB que ficou em quarto lugar no primeiro turno. A recente exposição é o fato novo em uma vida relativamente pacata. Haddad cresceu no Planalto Paulista, ao longo dos anos 60 e 70, em uma família de classe média. Passou a infância andando de bicicleta e jogando taco. Integrante da colônia libanesa, tornou-se sócio do Sírio, e lá, no verão de 1980, conheceu Ana Estela, com quem se casaria oito anos depois.

Apaixonado por matemática, Haddad pensava em ser engenheiro. “Mudei de ideia quando meu pai quase perdeu a casa da família em um negócio por falta de conhecimento jurídico”, conta. Assim, em 1981, entrou na faculdade de direito da USP, no Largo São Francisco. A época, para ele, ficou marcada pelo estudo e pelo início de sua trajetória política. “Ele era daqueles alunos que sempre me procuravam depois da aula para pedir indicação de livros”, lembra o jurista Dalmo Dallari, professor no 1º ano do curso e um de seus mentores. Em 1985, Haddad tornou-se presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, sucedendo no cargo àquele que se tornaria seu melhor amigo, o jornalista Eugênio Bucci. “Fernando tinha prática na administração da loja do pai e usou isso para botar ordem nas desorganizadas contas do grêmio. Pode-se dizer que a 25 de Março foi sua principal escola”, afirma Bucci.

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Formado em direito, Haddad cursou mestrado em economia e doutorado em filosofia, ambos na USP, onde se tornou professor de ciência política em 1997. Iniciou em 2001 a carreira na gestão pública, como chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Finanças, ocupada por João Sayad na gestão de Marta Suplicy. Em 2003, mudou-se para Brasília — trabalhou no primeiro escalão dos ministérios do Planejamento e da Educação, até assumir essa última pasta em 2005. Ficou marcado pela criação do ProUni — que concede bolsas de estudo em faculdades a estudantes de baixa renda — e também por falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em 2009, houve vazamento de provas. Em 2010, erros de impressão.

Com um patrimônio declarado de R$ 473.000,00 — que inclui um apartamento no bairro do Paraíso e um Ford Ecosport 2006 —, Haddad é “o estereótipo do professor universitário”, segundo pessoas próximas. Em casa, lê muito e toca violão. Fora de lá, caminha pelo bairro e vai a cinemas e restaurantes, dos quais geralmente não lembra o nome. “Qual é mesmo aquele japonês que fica numa esquina?”, pergunta a seus assessores, que consultam o Google Maps para encontrar o Kinoshita, na Vila Nova Conceição. Na ponta da língua, só a lanchonete Joakin’s, no Itaim, que frequenta desde a adolescência. Também não é inclinado a compras. “Vou uma vez por ano a um shopping qualquer, entro numa loja da Richards e resolvo minha vida por um ano, o mais rápido possível”, explica.

Entre a família e os colegas, é conhecido por ser bastante desligado. “Não posso contar com ele para levar um papel em algum lugar, sempre esquece”, entrega Ana Estela. “Não é que seja avoado, mas fica concentrado em suas tarefas e esquece o resto.” Um episódio, que virou piada entre seus amigos, ilustra esse estilo “viajandão”. Em 1995, quando cursava o doutorado em filosofia e lia, fascinado, Economia e Sociedade, obra fundamental nas ciências so ciais, do alemão Max Weber, chegou em casa e anunciou, desconsolado:

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— Roubaram meu livro.

— Onde ele estava? — perguntou Ana.

— No carro.

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— Quebraram o vidro e pegaram o livro?

— Não, levaram o carro.

— Então quer dizer que roubaram o nosso carro!

O Santana nunca mais foi encontrado. E, para desespero de Haddad, nem o calhamaço de quase 500 páginas.

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