“Vou acabando por aqui para não tomar o tempo da sopinha de vocês”, diz o professor de história da cultura Leandro Oliveira. Assim, o carioca, também compositor e maestro, encerra mais uma palestra da série Falando de Música. Criado pela Orquestra Sinfônica do Estado em 2008, o projeto consiste em dar explicações sobre a vida e a obra dos compositores que serão interpretados no dia. “A ideia é transmitir referências para a escuta, evitando um jargão muito técnico”, define ele.
Para participar, basta chegar à Sala São Paulo uma hora e quinze minutos antes do espetáculo e ter o ingresso da apresentação da sinfônica (as séries de câmara e dos concertos matinais aos domingos não estão incluídas). Entre 19h45 e 20h30 do último dia 6, Oliveira discorreu sobre o austríaco Franz Schubert (1797-1828) e o alemão Paul Hindemith (1895-1963).
Na hora do concerto — a récita começou às 21 horas —, o tempinho gasto antes da sopa, do cafezinho ou do suco de maracujá com gengibre se mostra útil. As cerca de setenta pessoas que haviam ocupado as cadeiras dispostas no hall do térreo batizado de Estação das Artes dispunham de informações que boa parte da plateia desconhecia. Que Hindemith, por exemplo, compôs em 1946 o réquiem ‘When Lilacs Last in the Dooryard Bloom’d’ em homenagem ao presidente americano Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) e que a parte vocal da peça é o poema homônimo de Walt Whitman (1819-1892), escrito originalmente para evocar o assassinato do também presidente Abraham Lincoln (1809-1865).
“Isso faz diferença na hora de ouvir a orquestra”, considera a procuradora do estado Regina Valéria Mailart, que levantou a mão para perguntar duas vezes. Ela frequenta o Falando de Música há dois anos e acabou se interessando também por cursos que Leandro Oliveira dá em casa, na Vila Madalena. A partir de quinta (19), as aulas mudam para um novo espaço, a Sala Carlos Gomes, no mezanino, com promessa de melhor acústica.
A Osesp não é a única a oferecer esse tipo de aperitivo musical. Há dez anos, a temporada internacional do Mozarteum Brasileiro conta com o programa Clube do Ouvinte. Na Sala São Paulo ou no Teatro Alfa, o tamanho do público e o formato didático se assemelham aos da Sinfônica do Estado. Desde 2002, as palestras, iniciadas uma hora antes do espetáculo e com quarenta minutos de duração, são comandadas pelo maestro paulistano Sergio Chnee. Ele recorre a curtos trechos de gravações das obras a ser apresentadas. “No próximo compromisso, em 31 de agosto e 1º de setembro, pretendo levar instrumentistas do meu grupo, a Camerata Cantareira, para tocar.”
VEJA SÃO PAULO assistiu ao encontro do último dia 2, no auditório do 1º andar da Sala São Paulo, que antecedeu a exibição da Orquestra Sinfônica de Heidelberg, da Alemanha. O repertório da ocasião era centrado em Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), Antonio Salieri (1750-1825) e Joseph Haydn (1732-1809), expoentes do classicismo, período correspondente à segunda metade do século XVIII. Entre as discussões, a desmistificação da história de que Salieri, corroído pela inveja, teria atormentado e levado Mozart à morte precoce, lenda popularizada pela peça de Peter Shaffer e depois pelo filme ‘Amadeus’ (1984), de Milos Forman. A promotora de Justiça Marúcia Barros Ramos afina o coro dos contentes com as programações didáticas. “Para nós, que somos leigos, ter uma contextualização é fundamental.”