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Faap: livro aponta supostas irregularidades na administração

Distribuído de graça no portão da faculdade, o livro virou assunto entre alunos, professores e vizinhos

Por João Batista Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h31 - Publicado em 18 set 2009, 20h27

Localizada entre os bairros de Higienópolis e Pacaembu, a Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) é presença constante no noticiário cultural e social paulistano. Só seu Museu de Arte Brasileira – que sediou exposições importantes, todas gratuitas, como China – A Arte Imperial, a Arte do Cotidiano, a Arte Contem-porânea, de 2002, e Deuses Gregos, de 2006 – recebeu 230 000 visitantes no ano passado. Atores como Paulo Autran, Marília Pêra, Ana Paula Arosio e Glória Menezes passaram por seu teatro. Isso sem falar nas personalidades internacionais que fizeram palestras no câmpus, entre elas o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton. Nas duas últimas semanas, no entanto, o que tem causado burburinho em seus corredores é o recém-lançado livro Faap – Honestidade por Aproximação (Ed. Biografia; 227 páginas; 39,90 reais), de autoria da jornalista Wanderléia Farias, repórter do canal RIT, transmitido em UHF.

Em duas ocasiões, um homem distribuiu diversos exemplares em frente a uma das entradas da faculdade, na Rua Alagoas. Alguns estudantes receberam a obra em casa, pelo correio. Wanderléia reúne acusações sobre supostas irregularidades cometidas pela diretoria da fundação, que tem Celita Procopio de Carvalho como presidente do conselho de curadores. Ela se refere a questões que vão desde o suposto uso indevido de cartão corporativo até o que define como apropriação de peças de arte. Em um texto cheio de adjetivos e ironias, a autora também relembra as brigas da instituição com a Associação Viva Pacaembu. Uma condenação pela Justiça Federal para que a Faap restitua aos cofres públicos 100 milhões de reais, por causa de contribuições previdenciárias que teria deixado de recolher entre 1996 e 2002, ocupa um capítulo quase inteiro. A Faap entrou com recurso contra a decisão da Justiça.

“É natural que exista uma curiosidade para saber o que está escrito”, diz Camila Mesquita, aluna de rádio e TV. “Afinal, trata-se da instituição que escolhemos para nos formar.” Os professores evitam tocar no assunto em sala de aula. “Eles pedem para falarmos disso fora da classe”, conta Luan Cardoso, de publicidade. Para conter essas e outras especulações, a direção da Faap organizou uma reunião com os representantes dos centros acadêmicos de seus dezenove cursos para informar que está disposta a tirar qualquer dúvida. “O stress na cúpula é grande, e por isso ninguém se atreve a andar com um exemplar no câmpus”, afirma uma funcionária. Essa cautela se estende além dos domínios da Faap. Segundo Roberto Nascimento, gerente da livraria Haikai, na Praça Vilaboim, funcionários da fundação compram o livro, mas pedem que seja embrulhado para presente. “Assim, não existe risco de alguém ver o título”, diz ele. Além da própria Haikai, a obra segue há duas semanas como a mais vendida na categoria de não ficção da Livraria da Vila, dos Jardins.

Nascida na Bahia e radicada em São Paulo há dez anos, Wanderléia Farias diz ter feito o livro por vontade própria, depois de se interessar pela história do conde Armando Alvares Penteado, que deixou estabelecido em testamento que a maior parte de suas propriedades seria utilizada para a criação de uma escola de artes e uma pinacoteca. “Quero mostrar que a Faap é gerida como se fosse uma empresa privada e a favor apenas de um grupo social”, conta ela, que declara ter investido 60 000 reais no projeto. “Apesar de ser uma fundação, ela não respeita a norma do Conselho Nacional de Assistência Social que exige que pelo menos 20% de sua receita seja aplicada em projetos sociais.” Wanderléia garante não ter tido nenhum patrocinador. Mas é exatamente isso que a fundação procura descobrir. Tanto que abriu um boletim de ocorrência para a polícia investigar o nome da gráfica que imprimiu o livro, cuja citação é obrigatória em qualquer publicação. “Não digo o nome da gráfica para proteger amigos que me ajudaram ao longo do processo de pesquisa”, afirma a autora. A fundação acredita que, se souber quem pagou os serviços de impressão, chegará à pessoa que teria patrocinado a obra. “A Faap só vai se manifestar quando a polícia apurar quem fez esse livro, de onde veio o dinheiro e qual é seu objetivo”, diz o advogado Arnaldo Malheiros Filho, que defende a fundação. Até lá, o assunto promete render novas discussões nos corredores da faculdade.

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