Os limites entre a produção sacra e a primitiva sempre se revelaram tênues e difusos. Ainda assim, São Paulo surpreendentemente não recebia havia algum tempo uma mostra que combinasse com tanta eficiência os dois gêneros quanto Arte Sacra Popular, no Museu de Arte Sacra.
Muito bem organizada, tem curadoria de Edna Matosinho de Pontes, dona da Galeria Pontes, dedicada ao estilo naïf, e especialista no assunto. Ela pinçou sessenta obras de dezessete nomes, bastante variados. “A relação proposta pela exposição é pertinente se pensarmos na importância dos elementos de fé para todos esses artistas”, diz. “Motivos sacros atravessam o imaginário brasileiro. Natural, portanto, a absorção promovida pelos primitivos.”
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Integram a montagem pinturas, esculturas e oratórios. Nos temas explorados encontram-se cenas bíblicas à melhor maneira renascentista e festas brasileiras. Algumas das peças não têm autoria, a exemplo das chamadas “paulistinhas”, imagens feitas de barro nos séculos XVIII e XIX, de formas simples e sem ornamentos.
A seleção reúne artistas de diversos níveis de popularidade. Presente com uma via-sacra admirável, o paulista José Antônio da Silva (1909-1996) alcançou a fama e chegou a representar o Brasil em duas edições da Bienal de Veneza. Autor de um presépio repleto de animais selvagens pouco típicos, o mineiro Artur Pereira (1920-2003) já expôs no Instituto Moreira Salles e foi comparado pelo crítico Rodrigo Naves ao escultor romeno Constantin Brancusi.
Outros destaques não tão conhecidos são as santas do pernambucano José Bezerra, a Madona do goiano Odon Nogueira e a maravilhosa Nossa Senhora das Dores do alagoano Antônio de Dedé, cujo coração aparece atravessado por flechas.