Nem mesmo a chuva ou as baixas temperaturas da última quarta-feira (14) intimidaram o grupo de quinze pessoas que, sob guarda-chuvas e com os ombros encolhidos de frio, discutiam o destino de dezenas de eucaliptos da Praça Cidade de Milão, em Moema, vizinha ao Parque do Ibirapuera. Há cerca de um mês, a área de 21 000 metros quadrados passa por uma reforma orçada em 315 000 reais e comandada pela Subprefeitura da Vila Mariana. A etapa inicial inclui alargamento das calçadas e remoção de árvores com risco de queda. Com altura entre 30 e 40 metros e raízes de apenas 2 metros, muitas delas não resistiram às chuvas do início do ano e tombaram. Para evitar mais problemas, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente fez um estudo sobre as condições da vegetação. Constatou que, dos cerca de 500 exemplares, setenta apresentavam problemas. A remoção foi iniciada e, até a semana passada, 51 deles já haviam sido retirados.
A ação, no entanto, foi questionada por um morador da região, o publicitário Walter Costa, que contestou o critério de retirada das árvores e entrou com uma representação no Ministério Público Estadual. “As mais comprometidas continuam em pé”, diz. “Temo que o propósito tenha cunho paisagístico e que esses eucaliptos históricos sejam dizimados.” Os primeiros deles foram plantados no fim da década de 20 por Manequinho Lopes, funcionário público que empregou a espécie para drenar o solo alagadiço da região — originalmente, a praça fazia parte do Parque do Ibirapuera, também repleto de eucaliptos. O promotor Marco Lucio Barreto, do Verde e do Meio Ambiente, decidiu apurar a denúncia e instaurou inquérito civil para ouvir os envolvidos e acompanhar a execução das obras. Encontrou-se então com funcionários da prefeitura e moradores para vistoriar o local. “Há árvores que estão mesmo comprometidas”, disse, após a inspeção. Vem mais corte por aí.
De acordo com o subprefeito da Vila Mariana, o coronel da reserva da Polícia Militar Manoel Araújo, a remoção de cada exemplar leva uma semana e depende de equipamentos do Corpo de Bombeiros, além da cooperação da CET e da Eletropaulo para amenizar os impactos no trânsito e na distribuição de energia. “Somos a favor da remoção”, afirma o presidente da Associação dos Moradores da Vila Nova Conceição, Abrahão Henrique Badra. “Nosso receio é que a praça não seja novamente cercada”, diz, referindo-se ao gradil que rodeava o local e que foi temporariamente removido. Para a associação, sem as grades o espaço se tornará perigoso e virará depósito de entulho. As polêmicas das obras na Praça Cidade de Milão não devem ficar por aí.