Estudantes dos ensino médio e técnico da rede estadual que ocuparam na tarde desta terça (3) o plenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), no Ibirapuera, passaram a noite no local e seguem o ato na manhã desta quarta (4). O grupo formado por cerca de setenta alunos protesta a favor da instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias de desvio de recursos da merenda.
Funcionários relataram que mesas e computadores foram quebrados. Os estudantes negaram que tenham sido eles os autores do vandalismo. A assessoria da Alesp informou que o presidente da Alesp, Fernando Capez (PSDB), vai protocolar na tarde desta quarta-feira um pedido de reintegração de posse do plenário.
Capez, suspeito de receber propina de cooperativas que fornecem merenda para o Estado, não estava no plenário no momento da invasão dos estudantes. Mais tarde, ele recebeu uma comissão de estudantes e garantiu acesso ao banheiro e a água durante a ocupação.
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O tenente-coronel Reinaldo Priell Neto, chefe da Assessoria Militar do Legislativo, afirmou nesta terça-feira que deputados do PT facilitaram a entrada do grupo no plenário da Casa. Imagens de celular mostram o deputado João Paulo Rillo (PT) empurrando um PM que tentava conter a ocupação no fim da tarde.
“Ainda não falei com ele para saber o que aconteceu. Mas dizer que o PT participou disso é uma calúnia e quem disse terá de provar”, afirmou o líder do partido, Zico Prado.
Os estudantes estenderam faixas com os dizeres “Alesp Ocupada” e “CPI da Merenda Já”, subiram em mesas e cadeiras usadas pelos deputados e montaram uma barraca na frente do espaço reservado à Mesa Diretora da Casa. “Nossa única reivindicação é que se instaure uma CPI para apurar os desvios do ladrão de merenda, que se investigue a falta de comida nas escolas estaduais e nas técnicas”, disse o estudante Daniel Cruz, diretor da União dos Estudantes Estaduais (UEE).
Novas ocupações
Desde o dia 20, estudantes de Escolas Técnicas Estaduais (Etecs) se mobilizam para cobrar a adoção de merenda em todas as unidades. Mais duas foram ocupadas na manhã desta quarta-feira: Mandaqui, na zona norte; e Professor Aprígio Gonzaga, na Penha, na Zona Leste.
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Ao todo, são seis Etecs ocupadas por estudantes na capital: nesta terça-feira, foram tomadas a Professor Basilides de Godoy, na Vila Leopoldina, na oeste, e a Jaraguá, na zona norte; e na segunda-feira, 2, a Escola Técnica Estadual de São Paulo (Etesp) no Bom Retiro, na região central, e a Etec Paulistano, no Jardim Paulistano, na Zona Norte.
Já a Etec Santa Ifigênia, região central, teve as aulas suspensas por “medida de segurança”, segundo o Centro Paula Souza. Além das Etecs, a sede da autarquia estadual, também na Santa Ifigênia, continua ocupada.
Em nota, o órgão diz que aguarda audiência de conciliação com os estudantes, marcada para esta quarta-feira, às 15 horas. Mas destaca que “atividades vitais para a rede, onde estudam 285 mil alunos, estão comprometidas”.
Entre os problemas destacados estão a falta de manutenção e o envio de insumos para as 35 Etecs agrícolas, onde estudam e moram alunos, e a paralisação dos processos seletivos do segundo semestre. Também foram suspensas capacitações de professores e atividades pedagógicas.