Nos últimos dias, o entra e sai de clientes em busca de novidades aumentou num ponto comercial localizado no bairro do Belenzinho. Somente as iniciadas conhecem o endereço, pois a fachada é bastante discreta. Não há vitrine, e apenas uma placa de 40 centímetros identifica o estabelecimento: Espaço de Moda Carolina Faggion. A vizinhança, formada por sobrados antigos e barracões industriais, contrasta com a natureza do negócio. Ali funciona a Daslu da Zona Leste, como foi apelidado o lugar que se transformou na maior butique de luxo da região. O movimento se intensificou recentemente devido à chegada da coleção inverno, com 600 peças de vinte marcas, todas grifes nacionais de primeira linha, como Maria Bonita, Juliana Jabour e Fause Haten. “É importante dizer: estar aqui não significa que eu venda roupas mais baratas que as da Zona Sul”, afirma, com uma ponta de orgulho, a proprietária Carolina Faggion, de 33 anos, que toca a empreitada ao lado de sua mãe, Cida. “Ganhamos a clientela porque oferecemos peças interessantes e um atendimento exclusivo sem igual nesta parte da cidade.”
+ Estúdios de tatuagem diversificam seus serviços para ampliar clientela
+ Ricardo Almeida lança linha feminina de roupas e tênis
+ O guia do brechó em São Paulo
A exemplo da assumida fonte de inspiração, o templo de consumo que nasceu na Vila Nova Conceição celebrizado pela falecida empresária Eliana Tranchesi, só mulheres podem frequentar o salão e não há provadores. Como a entrada fica fechada, é preciso se identificar por um interfone para ter acesso aos 550 metros quadrados do estabelecimento. Dentro, a principal peça de decoração é um Fusquinha estilizado, modelo bem mais modesto que os Porsche e Mercedes-Benz que costumam aparecer na porta. Eles são a melhor pista para reconhecer o perfil de parte da clientela: emergentes endinheiradas que podem sair de lá carregando sacolas com mercadorias totalizando 30.000 reais. Boa parte dessa turma mora em apartamentos espaçosos no Jardim Anália Franco e no Tatuapé, que ficam a vinte minutos de distância de automóvel. Lá, o metro quadrado das unidades mais luxuosas custa 14.000 reais, valor compatível com o de bairros como Moema. “Metade das pessoas que recebemos são do pedaço”, afirma Cida. “Mas vem gente até de Alphaville para cá.”
A empresa abriu as portas no fim da década de 90, com uma proposta bem diferente. Na época, oferecia apenas marcas mais simples. A coisa só bombou para valer nos últimos anos, depois de as donas começarem a trazer grifes badaladas e oferecer atendimento personalizado. O negócio, no momento, vive seu auge. Segundo uma estimativa das proprietárias, elas comercializam por mês cerca de 300 peças. Em 2011, o movimento cresceu 30%.
Para algumas clientes vips, abrem o ponto em horários alternativos, fazem as malas antes de viagens e indicam roupas. “Eu sei o que fica bom em qualquer corpo”, diz Carolina, dona também de opiniões um tanto quanto polêmicas sobre esse mercado. Um dos antigos parceiros, Alexandre Herchcovitch, por exemplo, acabou banido recentemente das araras. Motivo? “Ficou comercial demais depois que ele vendeu a marca”, acredita ela.
Formada em moda na Universidade Anhembi Morumbi, Carolina mantém o pique mesmo estando grávida de seis meses da primeira filha, Pietra, fruto de seu casamento com um médico radiologista. A empresária funciona como a garota-propaganda do próprio negócio. Veste os itens que vende e fotografa para enviar para seu mailing. Certa vez, contratou uma assessoria para ganhar visibilidade. Foi parar num programa popular, o “Mulheres”, de Catia Fonseca, na TV Gazeta. O tiro saiu pela culatra. “Como meu perfil é outro, as compradoras ficaram bravas”, lembra ela, que pretende inaugurar daqui a dois meses um mini-spa para oferecer massagens, banhos relaxantes e tratamentos estéticos. E nem passa por sua cabeça se mudar de lá: “Alguns podem torcer o nariz, mas os novos ricos estão todos na Zona Leste”.
Mordomias no Belenzinho
Os atrativos da loja para atrair a clientela
■ Ter exclusividade na região nas ofertas de grifes como Maria Bonita, Juliana Jabour e Fause Haten
■ Vender casacos de pele de raposa, coelho e carneiro
■ Trazer estilistas badalados como Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço para conhecer as clientes pessoalmente
■ Atender com hora marcada para prestar consultoria de moda
■ Fazer a mala de viagem das clientes vips
■ Ter um cozinheiro para preparar a comida e a bebida que a compradora solicitar dentro da loja