As escolas do Estado de São Paulo, públicas e particulares, registraram neste ano ao menos três casos de agressão física por dia. No primeiro semestre foram feitos 548 boletins de ocorrências de “lesão corporal” dentro de unidades de ensino fundamental e médio. O crime – que chamou ontem a atenção por causa do relato de uma professora de Santa Catarina – é o segundo mais cometido nos colégios paulistas e representa 13,4% das 4 080 ocorrências policiais no ano. O mais comum é o furto, com 1 219 casos.
Os dados foram tabulados pela reportagem por meio de dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação. Os casos de violência, registrados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), também são acompanhados pela Secretaria Estadual da Educação por meio do Registro de Ocorrências Escolares (ROE).
Segundo a pasta, houve 249 episódios de agressão física a professores em todo o ano de 2016, ante 188 em 2015. Por outro lado, o uso de drogas ilícitas caiu, de 183 ocorrências para 126. Há, na rede estadual paulista, 5 200 unidades.
A violência afasta professores como Israel Marcos Guimarães, de 32 anos, de Caieiras, na Grande São Paulo. Ele conta que já foi agredido fisicamente duas vezes. Na primeira, em 2013, pediu aos alunos que guardassem seus materiais antes de começar uma prova de Física. Um dos alunos se recusou. “Pedi que ele saísse e ele jogou a mesa na minha direção”, conta.
Após o episódio, Guimarães passou por um psicólogo e obteve afastamento médico. Dois anos depois, quando estava de volta à sala de aula, aconteceu outra agressão que o afastou definitivamente da área. “Pedi que os alunos se sentassem em ordem alfabética. Um deles se recusou e veio querer brigar comigo, no soco. A sorte é que os colegas interromperam”, lembrou. Mas o aluno se vingou: quebrou o vidro e amassou a lataria do carro de Guimarães.
“Eu não conseguia mais entrar em uma sala de aula”, diz. Hoje, afastado por causa de um tratamento médico, o docente quer dar aulas particulares e se vira vendendo produtos de beleza.
Foi para tentar reduzir estes casos que a secretaria de Educação criou, em 2011, o cargo de professor mediador, que tem uma proposta de resolver os conflitos por meio de mais diálogo e menos punições. “Onde há o mediador, há menos ocorrências”, diz a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Noronha. O sindicato fez um estudo sobre o tema em 2013.
Estado e Prefeitura mantêm o projeto Justiça Restaurativa, com o Tribunal de Justiça de São Paulo, para tentar resolver na própria escola os conflitos, com auxílio desses professores. “Buscamos evitar a judicialização de conflitos. Desde criança se aprende que violência se responde com violência. E assim a justiça se tornou uma espécie de vingança”, diz o juiz Egberto de Almeida Penido, responsável pelos projetos.
O projeto, que coloca agressor e vítima para conversar e refletir, mudou a realidade da Escola Estadual Sergio Murilo Raduan, no Jardim Varginha, extremo sul da capital, conta o vice-diretor Joel Teles. No primeiro bimestre de 2016, houve 46 episódios de desrespeito ao professor ou funcionário, incluindo agressão verbal. Já neste ano, no mesmo período, foram doze. “Muitas vezes o aluno é movido por emoção no momento do conflito e há uma plateia ao redor, que até filma a situação. Quando você fala com ele fora desse ambiente, ele está mais calmo. Dá-se oportunidade para que os dois, vítima e agressor, conversem.”