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“Ele está vivo por milagre”, diz mulher de ex-funcionário do Mackenzie

Katia Assis conta como estão sendo os dias do marido Antônio Assis na prisão e fala da relação dele com as crianças do Mackenzie

Por João Batista Jr. e Nataly Costa
Atualizado em 5 dez 2016, 13h46 - Publicado em 28 nov 2014, 20h28
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  • A analista de atendimento de telemarketing Katia Nhaiara Assis, de 45 anos, mulher do ex-funcionário do Mackenzie acusado de abuso sexual, falou sobre a prisão do marido. 

    Há quanto tempo estão casados?

    São dezoito anos de casamento e dois anos e meio de namoro. Nos conhecemos em um flat, ele era porteiro e eu, recepcionista. Eu já tinha uma filha na época (Kamila, de 23 anos). Juntos, tivemos mais duas meninas (de 17 e 13 anos).

    Como estão sendo esses dias para você?

    Hoje estou com vontade de chorar, não sei o motivo. Até agora, não tenho chorado muito. Estão sendo dias muito desafiadores, pois estamos sem o homem da casa. Vou visitá-lo todos os domingos. Ele está ansioso, não vê a hora de sair. Tem a formatura da nossa filha do meio na próxima semana e ele está contando que vai estar lá. O Antônio confia na Justiça, acredita que tudo vai se esclarecer.

    E os dias dele na cadeia?

    Quando ele foi preso, passou quarenta dias sem receber visitas. Até hoje a gente não sabe o porquê. Ele teve começo de depressão, ficou muito barbudo, não se reconhecia no espelho. O Antônio foi bastante hostilizado na cadeia no começo. Depois de um tempo, os bandidos pesquisaram a vida dele e viram que ele não era do crime, era um trabalhador. A cadeia é uma coisa muito pesada, ninguém te perdoa. Mas com ele, notaram que havia algo diferente. Hoje os colegas de cela ficam preocupados quando ele está mal. Às vezes ele não quer comer e só chora e reza. Ele está vivo por um milagre.

    Antes do Mackenzie, onde passou nove anos, seu marido trabalhou em outras instituições de ensino de renome em São Paulo (três colégios de elite e três faculdades particulares, que atestam que Antônio nunca deu problemas quando era funcionário). Ele completou os estudos?

    Sim, chegou a cursar Design e depois Desenho Industrial em uma faculdade particular. Ele ganhava bolsa por trabalhar nesses lugares. Eu também fiz Psicologia graças a uma bolsa conseguida por ele. Quando a nossa filha mais nova nasceu, Antônio ficou desesperado e acumulou dois empregos. Infelizmente, por causa disso, eu e ele tivemos que largar os estudos e isso foi muito triste. Com três filhas, precisávamos trabalhar para sustentar a casa.

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    Como é o Antônio em casa?

    O Antônio é tão correto que é chato. Tudo tem horário, tudo é certinho. Nem DVD pirata entra (risos). Ele cobra muito as meninas com os estudos, principalmente porque ter deixado a faculdade foi uma dor para ele. Para mim também. Meu sonho era completar o curso de Psicologia ou fazer Direito, que minha filha mais velha cursa hoje.

    Você registrou dois boletins de ocorrência contra ele, em 2009 e 2010. Tiveram problemas domésticos?

    Ele sempre trabalhou muito e, nesse período, eu estava sem emprego e cobrava demais dele. Queria que ele chegasse em casa e fizesse um monte de coisa, e ele estava sempre morto de cansado. Enfrentava duas horas de condução e não sobrava energia para a nossa casa. Então, nós brigávamos, como qualquer casal. Estávamos em uma fase que ou a gente pagava condução ou lanche para as meninas. Por isso algumas vezes ele surtou mesmo, e eu também. Ele ficava nervoso com nossas discussões e quebrava as coisas dentro de casa. Mas eu me arrependo de ter levado isso para a delegacia, acho que me faltou sabedoria na época para lidar com a situação. Foi um momento muito difícil da nossa vida.

    Como ele é no trabalho? Tinha, realmente, muita proximidade com as crianças?

    Ele amava o Mackenzie, se dedicava muito. E se tornou muito popular na escola, era pau para toda obra. Não era apenas um inspetor. Ele trocava galão de água, fazia tudo que pediam. Literalmente, deitava e rolava com as crianças no pátio, inventava brincadeiras, fazia um escorregador na grama. Aplicava insulina em uma criança com diabetes. Uma outra, ele descobriu que tinha problema no coração e falou para o pai dela, que ficou muito grato. 

    O que aconteceu com as meninas que o denunciaram, então? Ele tinha proximidade com elas também?

    Eu não sei. Acho que elas podem, sim, ter fantasiado em razão da proximidade que ele mantinha com todas as crianças. Essas, em especial, ele mal tinha contato. Nem eram próximas. Existiu a história do teatro, ele passou quatro dias fazendo uma peça em que ele era o vilão. Eu vi a apresentação, tirei fotos dele. 

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    Como suas filhas, que estudam no Mackenzie, estão lidando com a situação?

    Elas não queriam ir para a escola no começo. Mas eu falei: vocês vão, sim, porque o pai de vocês é inocente e a gente não deve nada a ninguém. Graças a Deus, não houve nenhuma agressão verbal, nada, elas foram muito bem cuidadas lá. Estamos de cabeça erguida. Minhas filhas têm muitas amigas no colégio, elas entraram lá pequenas e são muito queridas também. Até hoje, depois de tudo isso, somos muito bem recebidas nas casas de Alphaville pelas famílias que adoram nossas meninas.

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