Um entregador relata que ouviu falas racistas enquanto trabalhava em Pinheiros, Zona Oeste da capital paulista, na tarde de terça-feira (17). O caso ganhou repercussão nas redes sociais após ser compartilhado pela apresentadora do GNT Stephanie Ribeiro, que presenciou a chegada da polícia ao local.
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Frederico Florentino Bischof, 42, nega as acusações, diz que não teve a intenção de injuriar qualquer pessoa e relata que teve falas tiradas de contexto quando narrava para colegas de trabalho uma história familiar (veja mais abaixo). Vídeos mostram o acusado sendo agredido com socos e chutes por um grupo de entregadores. Segundo o homem que denunciou o caso, Renato da Silva Santos, 31, que trabalha como músico e entregador, Bischof teria dito frases racistas quando ele saía do local após finalizar uma entrega. A defesa de Bischof nega as frases narradas por Santos.
Tudo começou quando Santos chegou no prédio de bicicleta, no número 1212 da Rua Arthur de Azevedo, levando um pedido. “Em frete ao prédio tinham cerca de 5 pessoas. Uma delas estava fazendo comentário em um volume bem alto, para todos ouvirem”, diz Santos. Ele relata que ouviu Frederico Bischof dizer que “Manoel (Soares, ex-apresentador da TV Globo) foi demitido da Globo porque vivia falando frases de preto, que só interessava gente da espécie dele e mais ninguém”, o que é negado pelo acusado.
O entregador entrou no prédio, deixou o pedido e, quando ia embora, relata que ouviu outra frase de Bischof: “Preto pode ter tudo, até smartphone, que vai continuar pulando que nem macaco, e depois vai se vitimizar como preto na internet”, que também é negada pela defesa de Bischof.
O rapaz conta que subiu na bicicleta, pedalou por poucos metros para ir embora, mas incomodado, retornou até onde Bischof estava. “Voltei até ele e disse que era um absurdo o que ele falou, além de ser racismo. Ele veio agressivo para cima de mim, começou a me ofender. Ele estava se referindo a outras pessoas, mas qualquer um que passasse no local ia se irritar”, diz Santos.
Iniciou-se então uma discussão entre os dois, que culminou com a chegada de um grupo de entregadores, que começaram a gritar “racista!” para Bischof. O caso escalou e o grupo de entregadores acabou agredindo Bischof com socos e chutes, como mostra um vídeo. Renato afirma que tentou evitar as agressões e diz que não agrediu Bischof. “Entrei no meio, falei que não era para ninguém por a mão nele e queria que ele respondesse juridicamente”, diz Santos.
O acusado, por sua vez, confirma que o entregador não o agrediu, mas diz que ele incitou o grupo a atacá-lo.
Nas imagens abaixo, Renato Santos é o homem de camisa verde e branca e Bischof é o homem careca, que acaba levando socos e chutes ao final.
Na versão de Bischof, ele narrava para o grupo de amigos do trabalho a história de vida de um primo, Jerri Elias, que foi chamado para depor na delegacia e defendeu o parente. Jerri, um homem negro, teria nascido em uma família pobre e seria ex-usuário de drogas, mas saiu do vício e se formou engenheiro. Bischof afirma que quando Renato passava pelo local e ouviu a conversa, ele estava criticando a conduta dos filhos do primo, que possuíam “TV de 50 polegadas e se vitimizavam sem terem passado pelo que Jerri passou”.
“Ele (Jerri) confirmou a história e disse que nunca ouviu qualquer tipo de fala racista do Frederico”, diz a advogada Maria Julia Moreira, do escritório Mendonça e Marujo Advogados, da defesa do acusado. “O Frederico não teve intenção de injuriar qualquer pessoa e não praticou qualquer crime”, afirma Maria Julia.
“O Renato (Santos) deu duas, três pedaladas, voltou e disse que o que o que ele (Bischof) tinha dito era crime. Ele usou uma justificativa clássica, dizendo que tem parentes pretos e começou uma discussão mais exaltada. Algumas pessoas tentaram agredir o homem racista. O Renato tentou conter os ânimos, desde o começo ele manifestou um desejo que ele fosse punido nos termos da lei e não linchado publicamente”, diz uma das advogadas do entregador, Roberta Di Ricco Loria.
A apresentadora do GNT Stephanie Alves caminhava pelo local e conta que viu a polícia abordar de forma truculenta Renato Santos. A Polícia Militar foi acionada após o início da confusão com o grupo de entregadores. “Estava passando na rua e vi um menino negro caído no chão, com policiais em volta dele. Ele se levantou e disse para mim: sofri racismo”, diz Stephanie.
“A polícia chegou levantando a minha camiseta, como se eu estivesse armado”, conta Santos. “Abordaram o Renato perguntando se ele tinha passagem. E o Renato respondeu que nunca foi preso e nunca esteve em uma delegacia. É um caso raro em que a vítima é trazida para a delegacia no camburão”, afirma a advogada Roberta.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública respondeu sobre o caso que “um homem de 42 anos é investigado por racismo. Policiais militares foram acionados para atender a ocorrência e no local ouviram os envolvidos individualmente”, diz o texto. “A vítima, um entregador de aplicativo, de 31 anos, relatou que foi realizar uma entrega quando escutou o investigado realizando comentários racistas. Ambos foram conduzidos ao 14º DP onde o caso foi registrado. As diligências prosseguem para esclarecer os fatos”.