O Parque do Ibirapuera sofre há anos com o fato de pessoas usarem as áreas verdes do espaço para fazer sexo e, depois, ainda jogam as camisinhas usadas pelo chão. Cansado de ver essa cena corriqueira, o engenheiro Michel Friedhofer, de 40 anos, resolveu arregaçar as mangas e realizou uma iniciativa polêmica.
Fundador do projeto “Um convite à civilidade”, ele confeccionou e instalou no último fim de semana duas lixeiras entre as árvores dos portões 7 e 8 do parque com os dizeres “Quero Dar” e algumas imagens associadas ao tema, com o objetivo de fazer com que as pessoas que transam no espaço joguem os preservativos no lixo. A linguagem usada gerou consternação.
Uma das placas mostra um casal heterossexual de um lado e, do outro, um homossexual, com uma seta apontando para qual das duas lixeiras a camisinha deve ser direcionada.
Em outra, há a imagem de duas mãos, uma insinuando um órgão sexual masculino pequeno e outro maior e, novamente, as setas levando aos baldes pretos.
Por fim, a terceira traz a foto de dois armários, um aberto e, outro, fechado, em alusão aos “enrustidos” e “assumidos”, ou seja, pessoas que contaram ou omitiram suas orientações sexuais. Nas três placas lê-se “Brincadeiras à parte… jogar no chão não vale, né? Pelamor…!”
“O problema do sexo nos parques dura décadas e ninguém conseguiu solucionar, mas o das camisinhas achamos que dá para resolver”, diz Friedhofer. “Só que eu fui por uma fórmula diferente das placas nas quais está escrito ‘Mantenha o parque limpo’. Elas não são mais efetivas, perderam a sensibilidade. Optei por usar outro tipo de linguagem, de layout de videogame, com uma comunicação que, ao se destacar e causar choque, atingisse de fato o público.” No próximo fim de semana, o engenheiro pretende instalar mais quatro lixeiras, à revelia da administração do parque.
No dia seguinte após a implantação, uma das lixeiras foi destruída; mas a outra foi mantida intacta e proporcionou resultados. “A primeira foi quebrada em questão de minutos, o que mostra que está causando incômodo. A segunda, no entanto, tinha preservativos dentro, o que já é um avanço”, comenta o engenheiro.
A reportagem apurou que os frequentadores do parque estão divididos em relação à campanha. Alguns acharam a iniciativa divertida e uma forma de chamar atenção para o problema; outros acreditam que ela está servindo mais para endossar o sexo no parque.
“Um dos slogans que trabalho é: ‘não dá para ser perfeito, mas é possível ser melhor’. E, para consertar os problemas do Brasil, é preciso corrigir um por vez”, diz. “Às vezes, as pessoas que cometem incivilidade fazem sem culpa ou má intenção; não estão acostumados com a cultura de pensar no outro, e eu quero mudar isso.”