O terreno de quase 25 000 metros quadrados entre as agitadas ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá, na Consolação, é um oásis para os que caminham à sombra de jacarandás, seringueiras e ipês nativos da Mata Atlântica. Sede do Colégio Des Oiseaux até o fim dos anos 60, o espaço não tem destinação comercial desde 1984, e é usado como parque pelos moradores, que sempre foram contrários a projetos de edifícios ali. Esse cabo de guerra alcançou um de seus pontos altos nas últimas duas semanas, quando, ao mesmo tempo em que um empreendimento imobiliário começou a fincar sua bandeira no local, a Câmara Municipal aprovou em segunda votação o desejo da vizinhança: uma lei que prevê transformar o lugar, em caráter oficial, no Parque Augusta.
O endereço, que desde 1996 pertencia ao banqueiro Armando Conde, ex-dono do banco BCN, foi vendido no mês passado à construtora Cyrela e à incorporadora Setin, na qual ele teria participação. O valor de mercado do terreno é aproximadamente 90 milhões de reais. O plano é erguer um complexo de duas ou três torres de trinta andares cada uma, para destinação residencial e comercial (a definição depende de uma análise da prefeitura sobre as regras na região). Os empreendedores, porém, já avisaram que a área edificada deverá corresponder a apenas 18% do solo, e o restante será uma praça aberta ao público, com internet gratuita. Os 10 000 metros quadrados de mata tombada ficariam mantidos. “Vamos abrir o diálogo com as pessoas da comunidade, desde que façam isso deforma pacífica”, diz o presidente da Setin Incorporadora, Antonio Setin.
A paz, porém, parece longe de ser selada. No f im de no vembro, as empresas começaram a cercar a propriedade com um muro, que foi derrubado em se guida pelas mãos de manifestantes revoltados. “Se for necessário, partiremos para o corpo a corpo”, ameaça Sér gio Carrera, que cr iou em 2005 o movimento Aliados do Parque Augusta. No sábado (3 0), o grupo, unido a outros, como a Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreendedores do Bairro de Cerqueira César (Samorcc), iniciou uma frente de “ocupação” do espaço. Desde então, passou a promover atividades, a exemplo de oficinas de pintura, e a montar um playground e uma academia de ginástica com equipamentos rústicos, feitos de madeira e ferro. Para completar, espalhou pela internet um folheto virtual que anuncia o imó vel como se fosse público e dotado de dog park e pic nic area. Em vermelho, a peça destaca a frase “Sanciona, Haddad!”, defendendo a ideia de que o prefeito referende a proposta de lei avalizada pelos vereadores.
Apesar do barulho, os vizinhos têm poucas chances de ser ouvidos. Milton Persoli, diretor do Departamento de P arques e Áreas Verdes, já declarou que a prefeitura não dispõe dos cerca de 70 milhões de reais necessários para desapropriar o lugar. Com problemas de caixa, Haddad deixou vencer propositalmente em 18 de agosto o Decreto de Utilidade Pública (DUP), expedido em 2008 pela gestão Gilberto Kassab, que abria caminho para a estatização do local. O s moradores contam ter entrado na Justiça com pedido de liminar para que a v alidade do documento seja prorrogada. Procurado, Persoli afirma que a posição do governo municipal se mantém. Os empreendedores não contrataram seguranças para defender o terreno e aguardam discretamente o veto de Haddad à lei. Se isso se conf irmar, será o sinal verde para as escavadeiras no pedaço.
Zona de conflito
Quais as principais divergências no local
O plano das empresas
› Construção de duas torresde trinta andares cada uma em 18% do terreno
› Criação de um boulevard aberto ao público com internet grátis›
Preservação e revitalização da área verde tombada
Os pedidos dos moradores
› Preservação de todo o espaço
› Instalação de lagos e equipamentos de lazer
› Criação de trilhas para caminhadae passeio com animais de estimação delimitadas com concreto