No início de abril, a arquiteta Andrea Lucchesi notou que seu filho Romeu, de 6 meses, começou a apresentar um chiado no peito e a tossir muito. Preocupada, levou-o ao Hospital Israelita Albert Einstein, no Morumbi, onde foi tranquilizada. Informaram-lhe que se tratava de caso corriqueiro e seria resolvido com remédios em casa.
“No dia seguinte, Romeu começou a vomitar e corri de novo para o pronto-socorro”, relembra. “Com o passar dos dias, a situação só piorou e fiquei com muito medo.” O bebê foi internado por uma semana na ala pediátrica semi-intensiva do hospital, ficou entubado e respirando com a ajuda de aparelhos. Felizmente, o tratamento surtiu efeito e ele voltou curado para casa.
Uma bateria de exames constatou que os sintomas de Romeu eram causados pelo vírus sincicial respiratório, conhecido como VSR. Ele vem sendo apontado como o vilão da estação para a criançada. A Secretaria Municipal de Saúde não computa dados gerais sobre a enfermidade, mas é possível ter uma noção do crescimento de sua incidência pelo movimento dos principais centros médicos particulares da capital.
No Hospital Sírio-Libanês, por exemplo, foram 125 casos de janeiro a abril, 60% a mais que no mesmo período de 2016. Nas cinco unidades da rede São Luiz, 486 pequenos receberam tratamento em 2017, mais que o dobro do que foi registrado na temporada anterior. Na Clínica Len, nos Jardins, houve alta de 30% no atendimento no último mês. “Precisei aumentar a carga em duas horas para suprir a demanda de mães na recepção”, diz o pediatra Claudio Len.
Para ficar longe da febre, os especialistas recomendam seguir a clássica cartilha de prevenção de doenças virais: lavar as mãos
com regularidade e evitar ambientes fechados. No caso do surgimento de sintomas mais preocupantes, como o chiado no peito, é preciso recorrer a ajuda profissional. Além de provocar um número maior de internações, o VSR também desenvolveu quadros mais graves, com evolução para infecções severas, entre elas a bronquiolite.
No Hospital Infantil Sabará, noventa crianças ficaram internadas na UTI por causa da complicação, 40% a mais que em 2016. O tempo médio de permanência nos leitos também aumentou, de cinco para sete dias. “Alguns casos são apavorantes”, diz o otorrinolaringologista Jamal Azzam, que tem recebido dez pacientes por semana no consultório, o dobro do ano passado.
Reconhecido pela medicina desde o século XIX, mas isolado pela primeira vez na década de 50, o VSR apresenta sintomas parecidos com os da gripe: coriza, tosse e febre. Sua versão mais aguda pode provocar pneumonia e até levar à morte. Uma diferença em relação à gripe é que não existe vacina para neutralizá- lo. “O vírus circula por pacientes de todas as idades, mas costuma ser mais perigoso entre crianças de até 2 anos”, diz o médico Daniel Wagner Santos, coordenador da área de infectologia do Hospital São Luiz e do Hospital da Criança.
Existem duas teorias em discussão para tentar explicar o aumento da gravidade da doença. Segundo alguns médicos, o subtipo A do vírus, predominante neste momento na capital, é mais forte que o B, até então comum no pedaço. Outros defendem a tese de que o vírus sofreu uma mutação, e por isso as crianças não teriam imunidade suficiente para combater essa variação. Por isso, estariam mais suscetíveis a cair de cama. “Pesquisas estão sendo realizadas, mas não há resultado conclusivo”, explica o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, do Hospital Infantil Sabará.
ATENÇÃO
Os sinais de alerta e as recomendações para os casos mais graves em bebês
Sintomas
> Chiado no peito
> febre alta por dois dias
> Cansaço
> falta de apetite
Tratamento
> Uso de remédios broncodilatadores
> Fisioterapia
> Repouso
> Amamentação normal