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OLÁ,

Dois craques nos pincéis

Flavio Soares fala sobre o filho Logan, que tem síndrome de Down

Por Mauricio Xavier
Atualizado em 14 Maio 2024, 12h05 - Publicado em 13 ago 2011, 00h50

“Digo para todo mundo e não sou hipócrita de negar: nos dois primeiros dias após o nascimento, eu mal conseguia olhar para Logan. Tive uma rejeição muito forte, por não saber o que estava acontecendo. Alguns médicos passam os prognósticos mais pessimistas: ‘Não espere muito, a expectativa de vida é pequena’. Dão o pior cenário possível, você desmonta de vez.

No terceiro dia, cheguei ao hospital e meu único pensamento era levá-lo embora para casa. Tive um período de luto e depois decidi tocar o barco, começando a fazer o que era melhor para meu filho. A síndrome de Down faz parte do nosso dia, mas não é o centro. Vivemos a rotina de uma família qualquer, de pais separados, com guarda compartilhada.

O que ainda me incomoda é a questão da fala. Tive de cancelar a fonoaudióloga por um tempo, porque fiquei sem dinheiro e o plano de saúde não cobria. Acredito que possa ocorrer um comprometimento futuro por causa disso. Ele se comunica bem, mas não por meio de palavras. E cada vez que noto sua dificuldade de expressão vejo a minha falha: não fui o pai de que meu filho precisava.

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O mais importante para mim é que Logan se torne um adulto independente, ganhe autonomia para controlar a própria vida. Criei um blog (www.avidacomlogan.com.br) quando ele tinha 6 meses para tentar entender e racionalizar tudo isso e ajudar a divulgar e informar sobre a doença.

Há uns dois anos, a página não estava mais cumprindo seu papel, e aí inventei uma tira em quadrinhos retratando nosso cotidiano. Jamais esperei nada, era algo totalmente pessoal, mas cresceu além do que eu imaginava. Agora não é mais só minha, as pessoas me cobram.

Logan já se reconhece nos desenhos, só não entende ainda que aquilo é uma representação da sua vida. O curioso é que, não sei se de tanto me ver trabalhar, ele aprendeu a pegada de desenhista. Sabe como segurar cada tipo de lápis ou caneta para obter efeitos diferentes. E isso não foi ensinado na fisioterapia.”

Flavio Soares, 38 anos, ilustrador, pai de Logan, 6, com síndrome de Down

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