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OLÁ,

Conheça nove histórias plurais sobre a conexão singular da maternidade

Mães revelam suas trajetórias comoventes na criação e no cuidado dos filhos

Por Alice Granato, Ana Mércia Brandão, Beatriz Imagure, Laura Pereira Lima e Luana Machado
Atualizado em 10 Maio 2024, 09h51 - Publicado em 10 Maio 2024, 06h00
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Nossas mães e seus filhos: da esquerda para a direita, Ava Rocha e Uma; Titi Müller e Benjamin; Mana Bernardes e Rara; Claudia Adão e Tereza; Priscila Borgonovi, Maria (na barriga) e João Assunção; Ma Devi Murti e Cléber; Pepita e Lucca; Marcia Castro, Fernanda Oliveira e Maria Flor (Catarina Ribeiro/Veja SP)
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Amor de mãe é algo inexplicável. Por mais diferentes que sejam as experiências, este é o senso comum. O espectro da maternidade está cada vez mais diverso e as mulheres só têm a ganhar com essa gama de possibilidades. Em tempos de gravidez tardia, uma tendência há quase três décadas, muitas optam por congelar seus óvulos ou, diante de uma dificuldade, quem tem poder aquisitivo parte para a fertilização in vitro, um processo caro e muitas vezes penoso.

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Poema de Mana Bernardes para Veja SP (Mana Bernardes/Reprodução)

Independentemente do perfil ou da forma de realização desse sonho, dos obstáculos que atravessaram, a sociedade, em geral, parece estar evoluindo nesse sentido. Ainda existe muito preconceito, o que acarreta sofrimento e torna os processos muito mais sofridos. Mas os novos tempos são de abertura e de acolhimento com as mães que, para exercerem o cuidado, precisam estar amparadas por todos ao seu redor.

A rede de apoio deve começar desde a decisão pela maternidade e não somente quando os filhos chegam, porque o desejo de ser mãe leva as mulheres a enfrentar todos os percalços, e não são poucos. Mas as compensações são grandiosas! Trazemos aqui essa ligação única expressa nos nove depoimentos a seguir.

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(Mana Bernardes/Reprodução)
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Priscila Borgonovi, Maria (na barriga) e João Assunção (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Depois de 21 anos, estou grávida de novo, desta vez de uma menina. Com o João, meu filho mais velho, foi tudo muito rápido. Casei e tive filho cedo, aos 24. Eu nem pensava em ter outro filho, mas, como casei de novo e meu marido queria muito ser pai, refiz minha cabeça. E passei a querer muito, porque desejava viver a maternidade com ele. A Maria chega em uma nova fase da minha vida, em que tenho mais tempo e mais estabilidade. Quando o João era pequeno, eu queria fazer um milhão de coisas. Disputava meu tempo entre ser mãe e o sucesso profissional, porque ainda estava construindo minha carreira e tinha que batalhar muito mais por ser jovem. Agora que já conquistei muitas coisas, será uma oportunidade de aprender uma outra forma de maternidade, mais madura e mais calma. O João ficou muito feliz com a novidade. Ele já me ajuda muito em casa, e tenho certeza que será um grande apoio. Mas, coitado, vai dormir no quarto ao lado do quarto do bebê… Sei que estou grávida desde o décimo dia, porque fiz fertilização in vitro. Quando dá certo, você descobre muito cedo. Mas demorou para dar certo. A minha FIV foi muito difícil porque não congelei meus óvulos. Eu sou jovem, mas meus óvulos já são velhos. Na minha geração, não se falava muito sobre congelamento, porque tínhamos filhos muito cedo. Agora, as mulheres estão trabalhando mais, priorizando a carreira e empurrando a gravidez para mais tarde. Achei que fosse ser simples, mas esse é um processo bem doloroso e cansativo. Fiz sete fertilizações em três anos. O desgaste emocional é grande; a cada tentativa falha é uma nova frustração. Sem falar em todos os hormônios que precisei tomar… Mas reconheço que a oportunidade de fazer fertilização in vitro é um privilégio que tive, porque é um processo caro.” (Laura Pereira Lima)

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“Será uma oportunidade de aprender uma outra maternidade, mais madura e mais calma.”

Priscila Borgonovi, 44 anos, relações-públicas
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(Mana Bernardes/Reprodução)

 

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Pepita e Lucca (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Eu era aquela que sempre cuidava dos amigos na escola e, desde então, a ideia da maternidade ficou. Quando o Lucca chegou na minha vida foi prazeroso, mas também pensei: ‘E agora?’. Estou fazendo o meu melhor como mãe. Eu e meu marido, Kayque, nos organizamos desde o primeiro dia. Acordo às 6h e cuido do Lucca até as 13h15, quando ele vai para a escola. À noite, o Kayque fica com ele e eu saio para fazer shows. Mas diminuí bastante a agenda. Hoje, penso muito se vale a pena perder uma noite de sono em algo desnecessário, sabendo que, no outro dia, tenho uma maratona com uma criança. Não tenho uma rede de apoio grande, porque tive vários problemas com profissionais que não entendiam que eu era a mãe da criança. Quando meu filho fez pouco mais de 1 ano, escutei-o me chamar de mãe pela primeira vez. Foi maravilhoso saber que um ser tão pequeno me enxerga como mãe, me ama e me dá carinho, mesmo em um país onde eu sofro um preconceito surreal. É um dos amores mais puros e verdadeiros do mundo, o amor de mãe e filho. Um ser de 2 anos e 5 meses depende de mim para tudo, então, não tenho esse luxo de falar: ‘Hoje, eu não quero fazer isso’. A maternidade traz o dever de ter que fazer. Mas continuo com minha vaidade e amor-próprio. Às vezes, as mães se privam muito. Eu sei que sou mãe, mesmo a sociedade não me vendo como tal, achando que não tenho direito à fila de prioridade, olhando torto quando falo que tenho filho. É uma barreira que vamos quebrando. Fico feliz de ter esse lugar reconhecido em trabalhos e projetos, mas é uma caminhada cansativa, porque você se prova todo dia. Por exemplo, ao ir a uma loja ou mercado, tenho que lidar com pessoas me perguntando quem é a mãe do meu filho. Eu sou a mãe dele! O Dia da Visibilidade Trans e Travesti sempre foi um dos dias mais importantes para mim e fico feliz de poder dizer que, hoje, o Dia das Mães também é.” (Ana Mércia Brandão)

“Fico feliz de poder dizer que, hoje, o Dia das Mães também é importante para mim.”

Pepita, 41 anos, cantora
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(Mana Bernardes/Reprodução)
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Mana Bernardes e Rara (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“A percepção de autocuidado, de cuidado alimentar e com o corpo, foi dada para mim desde muito cedo, desde os meus 12 anos, quando eu descobri a doença de Crohn. Eu me conectei muito mais com a saúde e não com a doença, então fui surfar, fazer tudo que uma pessoa muito saudável podia fazer. Por conta da doença eu já sabia que não poderia engravidar naturalmente, mas eu sempre quis ser mãe. Por volta dos meus 33 anos, procurei fazer o procedimento de fertilização e imaginei que o faria por uma questão mais mecânica, porque na minha cabeça eu sou muito fértil e saudável, mesmo com a doença. E achei que rapidamente conseguiria. Mas não foi assim. Fui enganada por uma clínica do Rio de Janeiro que dizia que eu podia fazer fertilização mesmo com as trompas com hidrossalpinge. Fiquei quatro anos e meio nessa clínica, engravidei e perdi quatro vezes. Na quarta vez eram gêmeos, então foram cinco embriões no total. Foi em uma clínica em São Paulo que eu descobri que precisaria tirar as trompas para engravidar, porque elas têm um líquido tóxico que impede a gravidez. Mas eu só tinha um embrião, por isso minha filha se chama Rara, pois ela era a última! E logo na primeira tentativa depois de tirar as trompas eu engravidei, por isso tenho muita gratidão a São Paulo, porque foi aqui que eu consegui engravidar. O nosso encontro, meu e da Rara, foi o momento mais bonito da minha vida. Ela nasceu no dia 7 de novembro de 2020, um dia antes de eu completar 39 anos. Eu consegui todos os meus sonhos com a maternidade. O primeiro era parir em casa e eu consegui. Era um sonho fazer uma amamentação prolongada, então a Rara mamou quase até os 3 anos, porque eu quis e desejei que fosse assim. Para mim, a maternidade escancara o machismo do mundo. Ela é a coragem imensa de preparar uma pessoa para viver, é a coragem de cuidar em um mundo que não valoriza o lugar do cuidado.” (Beatriz Imagure)

“A maternidade escancara o machismo do mundo. Ela é a coragem imensa de preparar uma pessoa para viver.”

Mana Bernardes, 42 anos, artista
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(Mana Bernardes/Reprodução)
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Marcia Castro, Maria Flor e Fernanda Oliveira (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Meu encontro com a Marcia partiu do sonho em comum da maternidade. Planejamos por muito tempo a gravidez; nossa única certeza era que eu a geraria. Tentamos através da fertilização in vitro duas vezes e foi bem difícil. Quando a clínica nos deu a notícia da Maria Flor, choramos muito. E eu nem estava grávida! É um processo que mexe com todo o emocional, o fisiológico. Recentemente, passamos por um outro processo. Fiz estimulação, inclusive com o mesmo doador. Para nossa surpresa, não deu certo. É sempre muito delicado. Agora, estamos dando um passo para trás, cuidando do corpo e da mente. Mas o irmão ou irmã da Maria Flor já tem nome: será a Betina ou o Benício.” (Luana Machado)

“Ensinamos sobre vários formatos de família. Para ela, é natural.”

Fernanda Oliveira, 33 anos, estudante de psicologia
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Marcia Castro, Maria Flor e Fernanda Oliveira (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Nossa rotina é uma gincana. Mesmo com duas mães aplicadas na maternidade, é puxado. Nossa rede de apoio em São Paulo é limitada, a família está em Salvador. E, por enquanto, Maria Flor não nos acompanha nos shows. Mas canta todas as músicas, pede para ver vídeo. Se deixar, ela só escuta ‘mainha’ e Shakira. Partilhamos nas redes sociais um pouco da rotina com ela, porque é gostosa. Amamos ser mães. E também tem o aspecto político. A fertilização in vitro é um processo muito caro, que não está disponível no SUS para mulheres lésbicas. Quando postamos nossa família, afirmamos a diversidade. Existem as famílias ‘margarina’ dentro do universo LGBTQIA+ também. Para preparar Maria Flor, fizemos escolhas importantes. Ela está em uma escola que tem outras famílias de duplas mães. Ela precisa se sentir inserida.” (Luana Machado)

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“Existem as famílias ‘margarina’ LGBTQIA+ também.”

Marcia Castro, 45 anos, cantora
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(Mana Bernardes/Reprodução)
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Ma Devi Murti e Cléber (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“A maternidade surgiu na minha vida de repente. Quando tinha 21 anos, a irmã do meu marido, que eu não conhecia pessoalmente, abandonou o bebê recémnascido na minha casa. Me apaixonei pela criança. Na época, nem pensava em ter filhos, mas foi um amor inexplicável. De repente, já estava eu no fórum pedindo a guarda. O Cláudio Antônio, meu mais velho, vai fazer 34 anos na próxima semana. Ouvi muita gente falando que eu deveria ter meu próprio filho, e eu tinha que explicar que ele era, sim, meu filho. O fato de Cláudio ser branco também gerava estranhamento. As pessoas perguntavam sempre se eu era babá dele. Eu voltava para casa e chorava toda vez. Tive que ter muita coragem para ser mãe dessa criança. Com ele eu entendi que a maternidade está muito além do útero. Depois de dois anos tive meu filho biológico, que é o Cléber Augusto. E tenho a Vanessa, de 32, que também é adotada. Ou melhor, ela me adotou aos 13 anos. Ela era a melhor amiga do Cléber e tinha muitos problemas com a família. Com nove anos de casada, me separei, sou divorciada desde então. Não tive apoio do meu ex-marido em nenhum momento, nem financeiro nem afetivo. Fui mãe solo. E não foi fácil ser uma mulher preta divorciada. Eu precisava de uma rede de amor, de apoio. É horrível criar um filho sozinha. É horrível colocar seu filho na creche em período integral e voltar do trabalho só à noite. As crianças crescem, e crescem sem o afeto, cobrando. Hoje em dia, sou terapeuta ayurvédica e trabalho em quilombos para garantir que mães solos como eu não passem pelo que passei, auxiliando a criar uma rede afetiva.” (Laura Pereira Lima)

“Com a adoção, aprendi que a maternidade vai muito além do útero.”

Ma Devi Murti, 54 anos, terapeuta ayurvédica
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(Mana Bernardes/Reprodução)
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Titi Muller e Benjamin (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Eu sempre tive o desejo de ser mãe, naquela ideia romantizada da maternidade, mas fui descobrindo que é uma construção social muito forte. Levei alguns anos na terapia para entender se realmente era um desejo genuíno meu, ou se era imposto a mim. De fato, eu sempre tive vontade de ser mãe, de cuidar. Sempre fui muito interessada na construção de um novo ‘ser humaninho’. E de me jogar no abismo, porque a maternidade é um pouco sobre isso. A gente não tem controle sobre absolutamente nada, são muitas expectativas que acabam sendo totalmente transformadas. Adorei esperar um filho, mas a minha gravidez, apesar de planejada, foi um pesadelo. Eu tinha sofrido um acidente pouco tempo antes e, logo que engravidei, comecei a sentir muitas dores. A gestação é linda e mágica para muitas mulheres, mas para mim foi desconfortável. Eu fiquei 31 horas parindo, mas quando vi o Benjamin pela primeira vez eu chorava de amor, e de medo desse amor, porque parece que não tem mais para onde ir. A montanha-russa mais louca do parque de diversões chamado vida é a maternidade. Ser uma mãe atípica é tão complexo, porque cada maternidade é única e cada criança atípica é completamente diferente da outra. Eu tenho como mantra diário explorar as potencialidades do Benjamin, que são infinitas. Ele é uma criança extremamente comunicativa, empática e sensível, faz poesia todos os dias. E a nossa conexão é muito profunda, viramos um só. Independentemente de qualquer coisa, eu tenho a missão de entregar ao mundo não só um ser humano correto, empático, sensível, consciente, mas, principalmente, um diferente dos que nos foram entregues na nossa geração.” (Beatriz Imagure)

“Eu e o Benjamin viramos um só, essa simbiose que só mãe e filho têm.”

Titi Müller, 37 anos, apresentadora
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(Mana Bernardes/Reprodução)
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Ava Rocha e Uma (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Sempre quis ser mãe e acreditei na premeditação das deusas. Elas me presentearam com a gravidez aos 32 anos. Só de pensar que estava gerando uma vida, me sentia muita mágica, plena. Tive diabetes gestacional, então levei uma alimentação bem regrada, mas, agora, lembro somente das coisas boas. A Uma nasceu de cesariana. Quando eu a vi, fiquei em um estado alucinatório: arrepiada, um choro intenso de felicidade. A adaptação à maternidade foi natural, evitei todos os protocolos. Eles criam mais problema do que fornecem leveza. Ao invés de botar mil coisas nos seios, eu andava nua. Não carregava bolsas e carrinhos. A maternidade é uma forma de retribuir ancestralmente a própria vida. Sendo mãe, cuidando e nutrindo, eu entrego uma oferenda. Tem essa sensação de ser capaz de algo potente, mas também as camadas do trabalho, do tempo, do exercício em um mundo que não colabora. Eu a crio junto a uma rede de apoio: marido, mãe, sogra, irmãos. Senão, seria impossível. Mas é cansativo também por questões externas, ligadas à sociedade. Eu tento resgatar a Uma dessa dureza. Minha intenção é trazer poesia para a vida dela. Sempre cantei para ela e nossa relação criativa é especial. Cresci como artista pelo simples fato de observá-la e voltar a ser criança. A partir dela, meu desenvolvimento artístico ficou mais forte, profundo e corajoso. Brincar é o estado mais puro da invenção e a minha filha me proporciona isso com sua criança acesa. Comecei a preparar meu segundo disco, Ava Patrya Yndia Yracema (lançado em 2015), enquanto amamentava. Ela participa cantando e tocando tambor.” (Luana Machado)

“Maternidade é retribuir à própria vida.”

Ava Rocha, 45 anos, cantora e compositora
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(Mana Bernardes/Reprodução)
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Claudia Adão e Tereza (Catarina Ribeiro/Veja SP)

“Quis ser mãe quando comecei a ser doula, em 2017. Já tinha mais de 35 anos. Não planejamos, mas, dois anos e meio depois, engravidei do meu companheiro, Guinho Nascimento. Com a pandemia, decidimos morar com meus pais. Passamos o meu período de gestação juntos, eu, minha mãe, meu pai, meu irmão, o Guinho e meus sobrinhos. Foi importante ter essa rede de apoio. O parto foi firme e bonito, domiciliar e humanizado, com duas parteiras e uma doula pretas, no quintal onde eu e meu pai fomos criados. Digo que não senti dor por estar tão relaxada, confiante e confortável. O médico que fez o primeiro exame na UBS decretou que a gravidez era de risco, porque eu iria fazer 39 anos, mas ela foi tranquila, não tive pressão alta, enjoo ou inchaço. A medicina, às vezes, quer encaixotar as pessoas por idade e gênero, achando que, pela minha idade, eu não poderia ter uma gestação saudável. Mas ela foi supersaudável! Até brinco que entrei em trabalho de parto à meianoite, depois de ter namorado bem gostoso com o meu companheiro. Às 9h da manhã, a Tereza nasceu, depois de 39 semanas de gravidez. Todos esses mitos sobre ser mãe mais velha e não poder fazer sexo não fazem sentido se a mulher está à vontade e bem amparada. O trabalho como doula me ajudou a confiar no meu corpo e confiar que a gestação e o parto são processos fisiológicos em que a minoria vai ter problemas. Por ter tido esse apoio, continuo tendo espaço para ser quem sou. Uma mulher não termina quando tem um bebê. É um ganho. Cuidar de uma criança é como poder reinventar a humanidade e as possibilidades. Eu fui cuidada e apoiada e agora posso cuidar e apoiar o desenvolvimento de outro ser humano. Nós nascemos com uma ancestralidade. O ancestral tem a missão de cuidar das pessoas, desta Terra. Ensino a Tereza que ela também tem essa responsabilidade, de vir e ter uma boa passagem.” (Ana Mércia Brandão)

“Uma mulher não termina quando tem um bebê. É um ganho.”

Claudia Adão, 42 anos, doula e pesquisadora

Publicado em VEJA São Paulo de 10 de maio de 2024, edição nº 2892

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