Ivan Reis não tem visão de Raio-X, não voa nem tem uma força sobrenatural, mas, munido de seu lápis e uma folha em branco, é capaz de dar vida a personagens com super poderes. Ganhador de três prêmios pela revista norte-americana “Wizard”, o desenhista nascido no ABC é um dos quadrinistas exclusivos da DC Comics. De sua casa ele já desenhou heróis como Superman e Lanterna Verde. Seu projeto atual é uma nova revista mensal do Aquaman.
Assim como Reis, outros artistas brasileiros se destacam no mercado internacional de quadrinhos. É o caso de Renato Guedes, que desde 2003 trabalha para editoras norte-americanas. Seu primeiro trabalho foi na DC, com a série de quadrinhos “Smallville”. Este, aliás, não foi seu único trabalho de adaptação de um seriado televisivo para as bancas. Guedes também é responsável pelas revistinhas de “24 Horas”, “CSI Miami” e “Stargate”. “Atualmente estou no concorrente, desenhando o Wolverine para a Marvel”, conta o artista.
Mais agitado que o Flash
Mesmo trabalhando em casa, a rotina de quem dá vida aos super-heróis não é moleza. “Uma vez, quando eu era o fill-in artist (artista substituto) da revista “Superman”, o quadrinista principal não pôde terminar a edição e me mandaram o roteiro com um prazo bem apertado”, recorda. “Fiz 20 páginas em duas semanas.” Para a experiência não se repetir, o desenhista costuma pedir um prazo de cinco semanas por edição. “Coloco no contrato.”
O tempo não é investido apenas no papel. O trabalho de quadrinista também envolve pesquisa, estudo, leitura e, claro, muita tentativa e erro. “Quando recebo um roteiro, leio, entendo a história, penso em como vou enquadrar as cenas, faço esboços para as expressões dos personagens. Cada página requer um estudo”, afirma Reis. Por conta disso, o artista da DC explica que toda vez que um super-herói vai para as mãos de um artista é feita uma releitura, afinal cada equipe criativa tem seus traços e estilo próprios.
No caso do desenhista Rafael Grampá, sua missão na Marvel Comics era exatamente transpor sua visão do Wolverine para o papel. Em 2010, o quadrinista residente em São Paulo foi convidado a participar do projeto “Strange Tales”, em que ele deveria escolher um personagem da editora para escrever e desenhar uma história com total liberdade de criação. “Fui o primeiro roteirista brasileiro a trabalhar para a Marvel. E o melhor é que os caras gostaram do que fiz”, comemora.
Para o alto e avante
Chegar aonde esses três artistas estão não é um processo que acontece da noite para o dia. Reis, por exemplo, começou a desenhar aos 14 anos na Bloch Editores. “Fazia parte da equipe de ilustradores da série ‘Histórias Reais de Drácula’.” Aos 19 anos, ele conheceu a agência Art & Comics, por meio da qual conseguiu seu primeiro trabalho no mercado americano, quando desenhou o HQ “Ghost”, da Editora Dark Horse.
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Estar em um agência é uma das principais maneiras de se inserir no mercado dos quadrinhos. Um agente pode fazer a ponte entre o desenhista e as grandes editoras e, com isso, aos poucos, o trabalho do artista vai ganhando espaço.
Para se desenvolver ao longo dessa jornada, os três quadrinistas dão o mesmo conselho: desenhar, desenhar e desenhar. “Comecei com três anos de idade e nunca mais deixei o papel”, diz Grampá.
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