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OLÁ,

A confissão de Marcelinho

Depoimentos de colegas de escola e novos indícios reforçam a participação de Marcelo Pesseghini na chacina da Brasilândia

Por Fábio Lemos Lopes e João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 17h35 - Publicado em 23 ago 2013, 19h10
Arles Gonçalves Júnior - OAB
Arles Gonçalves Júnior - OAB (Ivan Dias/)
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A busca pela autoria de um crime é um trabalho paciente de juntar peças de um grande e complexo quebra-cabeça, dos depoimentos das testemunhas às provas da Polícia Técnica. Na semana passada, a equipe de delegados, investigadores e peritos encarregados do caso da chacina da Vila Brasilândia praticamente fechou os elementos que faltavam para comprovar o papel de Marcelo Pesseghini, de 13 anos, no assassinato do pai (o sargento da Rota Luís Marcelo Pesseghini), da mãe (a cabo Andréia Regina), da avó Beneditae da tia-avó Bernadete, no início deste mês. Na sequência, ele pegou o carro da família, foi para a escola, onde assistiu às aulas e até mesmo participou da comemoração de aniversário dos trinta anos do colégio, e, na volta, cometeu suicídio com a mesma arma utilizada para matar a família.

Na relação de 41 pessoas ouvidas até agora, dois depoimentos prestados nos últimos dias são considerados fundamentais para comprovara tese que vem norteando desde o início a ação do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Dois colegas de escola contaram que Marcelinho confessou  o que havia feito em casa. Para um dos meninos, disse que tinha acabado de matar os pais. O outro ouviu dele que a avó e a tia-avó também tinham sido vítimas de seu plano macabro. “As provas convergem e tudo está se encaixando”, afirma o advogado Arles Gonçalves Junior, presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que acompanha os trabalhos do DHPP desde o incío e esteve presente nos principais testemunhos.

 

Um dos garotos que relataram à polícia a confissão de Marcelinho estava muito emocionado e chorou várias vezes durante o depoimento, concedido na presença de seus pais e de um advogado da família. Outros companheiros disseram aos investigadores que o adolescente chegou ao colégio com um machucado no rosto. Segundo Marcelinho, isso teria acontecido por causa de um tranco quando estava praticando tiro com uma pistola .40, a mesma usada na chacina. Em outra ocasião, contou ter tentado matar a avó a flechadas.

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O garoto também comentava os “feitos” do pai. Uma vez, revelou com orgulho que o sargento Luís Marcelo havia matado dois bandidos. Depois disso, seus pais foram orientados pela direção da escola a não abordar esse tipo de assunto em casa. Correndo em paralelo à investigação conduzida pelo DHPP, o trabalho dos peritos do Instituto de Criminalística também apresentou avanços.

marcelo pesseghini com o pai
marcelo pesseghini com o pai ()

Um teste de balística comprovou que os disparos podiam ser ouvidos nas casas próximas, conforme o testemunho de um vizinho, que trabalha como músico. Segundo ele, os cinco tiros foram dados entre meia-noite e1 hora do dia do crime. O cadáver da tia-avó era o único com duas marcas. Uma atingiu o braço, enquanto outra perfurou a mão e atingiu o rosto. Para realizar o exame, os peritos fizeram disparos com uma Taurus .40 em sacos de areia dentro das duas residências, que ficam no mesmo terreno. A polícia acredita ainda não haver dúvidas quanto à sequência das mortes —o pai, a mãe, a avó e a tia-avó.

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Um laudo concluiu que um intervalo de quatro a seis segundos separou o primeiro disparo do segundo. O sargento Luís Marcelo estava dormindo em um colchão na sala. No quarto ao lado, Andréia despertou com o barulho e levantou para ver o que havia acontecido. Como a residência é pequena (apenas seis passos separam a beira da cama em que Andréia dormia até o colchão), os peritos consideram a distância compatível como rápido intervalo entre os dois primeiros tiros.

Os resultados dos laudos dos exames toxicológicos também ficaram prontos. De acordo com eles, as vítimas não foram dopadas. Nos próximos dias, a equipe de perícia deve concluir outras análises importantes, como os testes residuográficos realizados nas roupas de Marcelinho e em outros objetos recolhidos do local do crime.

Novas imagens obtidas pela polícia na última segunda (19) mostram o garoto com um capuz na cabeça andando com dois amigos após sair da escola. Depois, o menino reaparece sozinho ao lado do carro da mãe. Na sequência, ele caminha novamente para o colégio. É nesse momento que Marcelinho mexe algumas vezes em algo escondido na cintura. A polícia investiga para saber se era uma arma.

Após prestar depoimento no DHPP na quinta (22), a médica que cuidava do adolescente, Neiva Damaceno, reafirmou que o tratamento contra fibrose cística não provocava distúrbios. “Os medicamentos não causavam nenhuma alteração no comportamento”, assegurou. “E a doença tampouco.” Diante das palavras da especialista, a motivação para a chacina continua sendo um mistério. Sabe-se que o casal Pesseghini vinha enfrentando problemas de convivência nos últimos tempos.

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Neiva Damasceno médica pesseghini
Neiva Damasceno médica pesseghini ()

Em seu trabalho na Rota, o sargento Luís Marcelo respondia a um processo no Tribunal de Justiça Militar por resistência seguida de morte. Isso teria ocorrido em uma troca de tiros com um bandido, em 2011. Desde então, a sua arma Taurus .40 estava apreendida pela corporação para perícia, como é comum nesses casos. “Meu cliente morreu enquanto o Ministério Público tentava instaurar um inquérito na Justiça comum”, relata José Miguel da Silva Júnior, advogado de Luís Marcelo. O sargento, que ganhava em torno de 3 500 reais na Rota, reforçava o orçamento fazendo bicos de segurança —inclusive na escola Stella Rodrigues, onde seu filho Marcelinho estudava.

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