Piso de mármore no banheiro da suíte, home theater com televisor de 42 polegadas, sofá de couro bege na sala de estar e mesa de jantar para seis pessoas com acabamento de madeira nobre. A lista de móveis e materiais não chega a impressionar nenhum decorador, exceto pelo fato de que esses ambientes foram projetados para oferecer muito conforto e toda a comodidade de um apartamento — e de um escritório — a mais de 12.000 metros de altitude. Os afortunados que desfrutam esse luxo são proprietários de grandes jatos executivos, muitos deles aviões comerciais convertidos para uso privado. Com espaço de sobra, é possível literalmente dar asas à imaginação e criar projetos de decoração personalizados. Atentos a esse mercado, fabricantes como Airbus, Boeing e Embraer, entre outros, possuem divisões dedicadas ao segmento.
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No ano passado, a brasileira Embraer foi a que entregou o maior número de jatos executivos no mundo, totalizando 145 aeronaves, uma média de doze por mês. O Brasil é o segundo maior mercado de aviação executiva, atrás apenas dos Estados Unidos, com uma frota de 540 jatos em operação, segundo dados da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). “A frota nacional praticamente dobrou nos últimos cinco anos”, afirma Breno Corrêa, diretor de vendas da Embraer para a América Latina. Ele admite que a decoração da cabine de passageiros ganha importância cada vez maior. “Quanto maior o avião, mais o cliente quer dar seu toque pessoal”, diz.
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O modelo top de linha da Embraer é o Lineage 1000, versão executiva de um avião para 100 passageiros. Com 58 metros quadrados de área, pode ser dividido em até cinco ambientes, com escritório, sala de jantar, home theater, dois toaletes e um banheiro com ducha na suíte. A lista de opcionais é extensa: geladeira, forno convencional e micro-ondas, armários, uma área para preparo de alimentos e um carrinho para que comissários de voo sirvam refeições completas para até dezenove passageiros. Produtividade e entretenimento a bordo são garantidos por sistemas de telefonia via satélite, de conexão sem fio em banda larga, de áudio e vídeo, incluindo televisor de 42 polegadas.
A decoração da cabine é hoje tão importante no projeto de um avião executivo que muitos fabricantes contratam escritórios de design para auxiliá-los nessa tarefa. No caso do Lineage, a Embraer escolheu os ingleses da Priestman Goode. No caso das linhas Phenom (100 e 300) e Legacy (450 e 500), a tarefa coube à americana BMW Designworks USA. Em ambas se investiu no conceito de “luxo inteligente”, privilegiando espaço, luminosidade e conforto em favor do bem-estar dos passageiros. A Embraer monta o interior das aeronaves Phenom e Legacy em Gavião Peixoto, no interior paulista, mas contrata oficinas internacionais especializadas para fazer o Lineage. A Lufthansa Technik, divisão da companhia aérea alemã totalmente dedicada à fabricação de interiores e à manutenção de aeronaves, é uma das maiores do mundo nesse segmento.
Em 2009, a frota mundial de jatos de linha aérea convertidos para uso privado já era superior a 300 aeronaves — cerca de 100 delas de corredor único e o restante de aviões de dois corredores, com capacidade média de 300 passageiros. É um mercado pequeno, que representa menos de 2% da frota mundial de jatos executivos, estimada em 18.000 aeronaves. “A atividade está crescendo porque, em países asiáticos e na Rússia, por exemplo, há pessoas que estão se tornando suficientemente ricas para comprar um jato de grande porte”, diz Wolfgang Reinert, do departamento de comunicação da Lufthansa Technik.
Ao contrário das linhas de produção de aeronaves, nas quais o ritmo acelerado de trabalho é fundamental, a fabricação de um interior é um processo meticuloso, que envolve um grande número de pessoas e demanda muito tempo. Um projeto personalizado de um grande jato leva no mínimo um ano para ficar pronto. Aviões do tamanho do Lineage consomem de quatro a cinco meses de trabalho, utilizando mobília e materiais padronizados. A decoração do interior de um jato executivo pode custar de 30% a 50% do valor da aeronave, o que representa dezenas de milhões de dólares.
A decoração dos aviões também revela diferenças de estilo. Os clientes do Oriente Médio e da Ásia gostam de cores contrastantes e têm predileção por detalhes dourados. Já os americanos preferem carpete florido ou com formas geométricas. Os brasileiros, assim como os europeus, costumam optar por peças sóbrias de cores claras. Muitas vezes, engenheiros e designers precisam quebrar a cabeça na hora de projetar lounges, salas de cinema e suítes luxuosas que não aumentem demais o peso do avião. Qualquer material ou estrutura instalado nele precisa ser certificado por questões de segurança. Isso não impede, no entanto, que eles tenham até piso de mármore.
Os Jatos Executivos
EMBRAER LINEAGE
Capacidade: de oito a dezenove passageiros
Autonomia: 8.043 quilômetros, o que lhe permite voar direto de São Paulo a Johannesburgo, na África do Sul
Área total: 58 metros quadrados
Preço: 50,5 milhões de dólares
BOING BUSINESS JET
Capacidade: de oito a dezenove passageiros
Autonomia: 11.480 quilômetros, o suficiente para voar direto de São Paulo a Londres
Área: 75 metros quadrados
Preço: 58 milhões de dólares
AIRBUS ACJ318 ELITE
Capacidade: de oito a dezenove passageiros
Autonomia: 7.963 quilômetros, capaz de voar direto de São Paulo a Miami
Área: 74,2 metros quadrados
Preço: 65 milhões de dólares