Decisão por combater maconha cria polêmica na PUC
A reitoria finalmente decide lutar contra o uso de drogas no câmpus de Perdizes
Durante muito tempo, a reitoria da Pontifícia Universidade Católica (PUC) foi conhecida por fazer vista grossa às rodinhas de estudantes que compartilhavam cigarros de maconha no câmpus de Perdizes. Espaços como o Pátio da Cruz e a “prainha”, como é conhecida a área de acesso ao prédio principal, ficavam muitas vezes envoltos em um fumacê e um cheiro de mato queimado que denunciavam o uso da droga. “A maconha faz parte da cultura universitária e não me incomoda”, diz Aline Vianna, de 21 anos, aluna do curso de letras. “Percebo que aqui não vale a lei nacional, que eu considero hipócrita”, acrescenta sua colega Raysa Pereira, de 19 anos. Embora boa parte dos alunos declare não usar drogas (caso das três moças fotografadas para esta reportagem), a maioria evita discriminar quem o faz. “Incomoda-me levar fama de maconheira”, afirma Juliana de Andrade, de 26 anos. “Mas creio que aceitar quem fuma é uma questão de tolerância.”
Não é. A Lei Federal nº 11 343 considera o porte de maconha crime. O consumidor flagrado com a erva pode ser obrigado a prestar serviço comunitário e a participar de programas de desintoxicação. Dependendo da circunstância e da quantidade de droga apreendida, corre o risco de ser considerado traficante. Pesquisas indicam que 9% dos usuários de maconha se tornam dependentes severos. Está cientificamente comprovado que ela leva à busca de drogas mais pesadas. Causa espanto, portanto, que seu uso tenha sido até então ignorado numa das mais prestigiadas universidades de São Paulo. “Assim como em qualquer família, fingia-se que o problema não existia para não enfrentá-lo”, declara o pró-reitor Hélio Roberto Deliberador.
Quando assumiu o cargo de reitor, no fim de 2008, o professor Dirceu de Mello decidiu mudar essa postura. Em abril, enviou aos mais de 16 000 alunos e aos 1 500 professores um e-mail no qual reportava a decisão de iniciar um “enfrentamento franco do uso de drogas no câmpus Monte Alegre”, em Perdizes. A primeira ação foi treinar 120 seguranças da empresa Graber para abordar quem acendesse cigarros de maconha. Agora eles devem exigir que sejam apagados e também tomar nota do nome, da classe e do curso ao qual o aluno pertence. Assim, a reitoria tem como chamá-lo para uma conversa. Não se prevê envolver a polícia ou ameaçar o estudante com expulsão. No máximo, ele será aconselhado a participar de um grupo socioeducativo. Outro detalhe: os centros acadêmicos estão dispensados da vigilância dos bedéis. À porta da agremiação de ciências sociais, um cartaz provoca: “Aqui pode! Fume à vontade”.