A (bela) dona da estampa
Vira e mexe, a estilista Cris Barros se tranca em casa, desliga todos os telefones e, taça de vinho em mãos, dedica-se a desenhar as peças de sua grife. Numa dessas ocasiões, bolou o que viria a ser o hit do ano no figurino das paulistanas abonadas: a estampa de gatinhos. Onipresente nos guarda-roupas de socialites e famosas (e, conseqüentemente, nos eventos badalados), o desenho dos felinos sumiu das araras e aumentou a popularidade da bela Cris. “Nem eu esperava tanto sucesso”, diz ela, que se inspirou em livros, revistas, filmes e seriados dos anos 60 para criar sua coleção. “Vi todos os episódios de A Feiticeira.”
Celebridade instantânea
Integrante da lista das boas atrizes dos palcos paulistanos, Maria Alice Vergueiro viveu um certo ostracismo em boa parte de seus quase 45 anos de carreira. Encantava no palco, mas não brilhava muito além do teatro. Tornou-se conhecida aos 71 anos, veja só, graças à internet. Para quem ainda não associou o nome à piada, Maria Alice é a estrela do vídeo Tapa na Pantera, sucesso do YouTube no qual interpreta uma íntegra senhora que “fuma maconha há trinta anos, mas não é viciada”. Estrela da web, ela foi sondada para fazer novela (e recusou), apareceu na premiação de clipes da MTV e no show de humor Terça Insana. “Estou ainda naquela fase perplexa”, diz ela, que em 2007 pretende montar um daqueles textos cabeludos de Hilda Hilst.
O MELHOR E O PIOR DO ANO
Filme
Por Miguel Barbieri Jr.
O melhor
O Segredo de Brokeback Mountain
Em mais de quatro meses de sucesso na cidade, as platéias se comoveram diante da paixão reprimida dos caubóis interpretados com garra por Jake Gyllenhaal e Heath Ledger. O diretor Ang Lee, em argumento ousado, abriu mão do pudor e das caricaturas para fazer um filme forte e memorável.
O pior
Gatão de Meia-Idade
O.k., Alexandre Borges tem 40 anos, a idade ideal para viver o protagonista. Nascido em Santos, não fez feio ao encarnar um carioca da gema – o personagem mulherengo extraído das tiras do cartunista Miguel Paiva. Mas, nas mãos de cinco (!) roteiristas, a comédia virou pastiche de pornochanchada.
Exposição
Por Orlando Margarido
A melhor
27ª Bienal
Pode-se torcer o nariz para um ou outro “trabalho-cabeça” e reclamar da montagem convencional, mas os 500.000 visitantes entenderam o recado da última Bienal. O tema Como Viver Junto poderia ser atestado já na aglomeração que se formou no pavilhão do Parque do Ibirapuera. Eram aficionados, famílias inteiras munidas de câmeras fotográficas, estudantes ou meros curiosos vestidos mais de acordo com uma pista de cooper do que para ver arte. O evento foi gratuito, democrático, divertido para uns, assunto sério para outros.
A pior
Vida, Sonho e Esperança do Povo Coreano
De pouco conhecida na cidade, a arte coreana passou a desvalorizada por causa da coletiva que esteve em cartaz no mês de julho na Galeria Olido. Faltou critério à exibição de 175 trabalhos de sessenta artistas, muitos deles mais adequados a um salão de formandos. O exagero no número de participantes e obras obscureceu bons nomes nela representados.
Espetáculo de dança
Por Mônica Santos
O melhor
Grupo Corpo
Num ano de muitas atrações internacionais, os mineiros do Corpo apresentaram em agosto um espetáculo impecável. O programa reuniu duas peças do repertório do grupo: Onqotô (2005) e Missa do Orfanato (1989), baseada na obra homônima de Mozart. O público lotou o Teatro Alfa durante as duas semanas de temporada.
O pior
Pilobolus Dance Theater
A trupe americana deixou os paulistanos boquiabertos em 2001 com suas acrobacias complicadas e incríveis esculturas humanas. Daí a expectativa – e também a frustração – diante do espetáculo levado em novembro. As coreografias chochas foram entrecortadas por entediantes pausas. Muita gente cochilou.
Peça teatral
Por Mônica Santos
A melhor
Camaradagem
Se a peça é do Tapa, a chance de bom programa é grande. Espécie de grife de qualidade, o grupo reafirmou seu talento no drama do sueco August Strindberg (1849-1912). Só mesmo um elenco maduro, sob o comando de um diretor mão-firme como Eduardo Tolentino, poderia dar conta de um texto tão difícil. O fascinante embate entre o masculino e o feminino, personificado por um casal de pintores, volta ao cartaz no Viga Espaço Cênico em 18 de janeiro.
A pior
Eu & Ela
Além de escrever, escolher a trilha sonora e cuidar do cenário e dos figurinos, Clodovil Hernandes estrelou o mico da temporada. Texto, para quê? Em seu musical, o apresentador, estilista e agora deputado federal parecia só dizer o que lhe vinha à cabeça. Foi constrangedor.
Balada
Por Fabio Wright
A melhor
Nokia Trends
Gente bonita, atrações descoladas do rock e da música eletrônica e uma produção impecável fizeram da balada a melhor do ano. Uma gigantesca casa noturna, toda coberta e com dois palcos, foi especialmente montada no Anhembi para abrigar o evento, que reuniu (sem aperto) 12 000 pessoas. Nomes como a banda canadense Hot Hot Heat e a dupla belga 2 Many DJ’s levaram a moçada ao delírio.
A pior
Skol Beats
Considerado um dos maiores do mundo, o festival de música eletrônica cresceu tanto que ficou chato. Apesar das ótimas atrações, divertir-se nele exige muita paciência. Tudo é difícil: estacionar o carro, ir ao banheiro e até dançar, com algumas tendas superlotadas. Neste ano, para piorar, houve tumulto antes do show do grupo inglês Prodigy, com arrastão de celulares, empurra-empurra e pessoas passando mal.
Show
Por José Flávio Júnior
O melhor
Caetano Veloso
Com um ótimo disco na praça (Cê), Caetano Veloso mostrou muito vigor nas apresentações-surpresa que realizou no Sesc Pinheiros neste mês. Escudado por um trio de guitarra, baixo e bateria, ele mesclou o repertório novo com pérolas setentistas, como You Don’t Know Me, do álbum Transa. A iluminação de show de rock e o cenário simples contribuíram para o arrebatamento.
O pior
Yellowcard
Se a tribo emo foi hostilizada e sofreu perseguição neste ano, culpe bandas como a americana Yellowcard, que se apresentou em agosto, no Via Funchal, e em outubro, no Parque Antarctica. Para adornar seus rocks previsíveis e suas baladas insossas, o Yellowcard usa um violinista. Toda vez que ele colocava o instrumento no pescoço, a vontade era de tapar os ouvidos.
Concerto
Por José Flávio Júnior
O melhor
O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu
No ano em que se assumiu como espaço para óperas, o Teatro São Pedro recebeu uma bela montagem de O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu, do inglês minimalista Michael Nyman. Não bastassem as grandes performances da soprano Flávia Fernandes (que desceu ao fosso para tocar uma música ao piano) e do barítono Stephen Bronk, a ópera ainda proporcionou ao violonista Fábio Zanon sua estréia como maestro. Com tão poucos teatros apostando em peças modernas, essa, exibida pela primeira vez em 1986, foi o destaque.
O pior
Olga
Faltou música. A ópera do compositor carioca Jorge Antunes estreou em outubro no Teatro Municipal com cenário imponente, figurinos impecáveis e solistas de respeito no elenco (Fernando Portari, Martha Herr, Homero Velho). Mas não foram escritas grandes árias para justificar a superprodução. A saga da militante alemã Olga Benario Prestes merecia melhor tradução lírica.