Especializada em gerir e transformar prédios em espaços de trabalho compartilhados, a empresa americana WeWork acaba de completar um ano no Brasil. Quem achava que iniciativas de coworking e utilização de novas tecnologias para mudar o universo corporativo ainda demorariam para pegar por aqui pode se espantar com os resultados da companhia, avaliada em 80 bilhões de reais. Na segunda (3), será inaugurado o seu sétimo endereço paulistano, na Rua Butantã, 194, em Pinheiros. Até o fim do ano, serão abertos mais dois, um na Vila Olímpia e o outro no Itaim Bibi, totalizando uma ocupação de 12 500 pessoas.
Segundo estimativas do mercado, o investimento do grupo na capital é da ordem de no mínimo 60 milhões de reais. Dos onze andares do novo edifício, dez serão ocupados até outubro por 1 000 funcionários, entre freelancers, startups e multinacionais. Ao menos 70% são da área de tecnologia. “Temos lista de espera com vinte empresas”, comemora Lucas Mendes, de 31 anos, diretor-geral da WeWork no Brasil.
A primeira a se instalar por lá foi o GuiaBolso, aplicativo de controle financeiro. O aluguel mensal de cada posto dos seus 185 empregados sai por 1 300 reais. O investimento garantiu que os ambientes do 9º e do 10º andar ocupados por eles fossem projetados para ficar com a cara da startup. Para atender a uma preocupação da comissão de diversidade do grupo, por exemplo, os banheiros foram classificados como unissex. “Todas as sextas fazemos uma confraternização, por isso instalamos um espaço com chopeira, café e uma mesa compartilhada que pode ser utilizada para jogar pingue-pongue”, conta Mariana Souto, gerente da plataforma.
As facilidades oferecidas incluem sala de jogos com fliperama, oito cabines para ligações privativas e espaço zen com manicure e massagista. “Uma estrutura como essa é em torno de 20% mais cara para nós, mas em compensação não temos a dor de cabeça da manutenção predial”, afirma Mariana.
Usado por todos os ocupantes, o 11º andar vai funcionar como uma “área de descompressão”, com bar, mesas de pebolim e palco para eventos. Em um local aberto de 200 metros quadrados serão espalhadas mesas e cadeiras de praia. “Essas características animadas e de gente jovem tem tudo a ver com a região que escolhemos”, diz Mendes. “Estamos participando do revigoramento de uma área, e o impacto da nossa chegada deve movimentar o entorno de Pinheiros com a geração de ao menos 800 empregos.”
A nova WeWork está situada a 500 metros do Largo da Batata, região que nos últimos dez anos passou por intensas intervenções do poder público por meio da Operação Urbana Consorciada Faria Lima. O governo destinou 5,7 bilhões de reais à construção das onze estações da Linha 4-Amarela, como Pinheiros, Faria Lima e Fradique Coutinho.
A prefeitura investiu cerca de 434 milhões de reais no alargamento de ruas e calçadas e nas instalações do Terminal Pinheiros e da praça do Largo da Batata — ainda longe de receber prêmios de urbanismo —, revitalizada em 2017 em parceria com a iniciativa privada. Outros 62,5 milhões de reais serão empregados nos próximos doze meses para a finalização de obras.
Segundo a Ancev, associação nacional do segmento, a capital possui 300 endereços de escritórios compartilhados, trinta deles em Pinheiros. O crescimento em 2017 foi de 20% em relação ao ano anterior. “A crise imobiliária de 2016 contribuiu muito para isso, pois quem tinha casa e não conseguia alugá-la transformou o local em coworking”, explica o presidente da entidade, Ernisio Dias.
Foi o caso da empresária Chan Lup Ohira, que gastou 400 000 reais para converter o imóvel da família de 360 metros quadrados na Rua Fradique Coutinho na Colab Coworking. Há oito empresas de tecnologia trabalhando no espaço, com um total de 45 pessoas. O aluguel de uma sala para quatro empregados sai a partir de 3 500 reais e um hot desk, espaço rotativo, 600 reais. “O sucesso foi tanto que abrimos em agosto uma unidade maior no Butantã, para 120 pessoas”, diz ela.
Perto dali, na Rua Cônego Eugênio Leite, o empresário Matias Vazquez mantém duas unidades da Sharing EC. Uma foi configurada em quatro andares de um prédio para 300 pessoas e outra implantada em um galpão, que era antes uma oficina mecânica, para noventa profissionais. Há redes, videogames e palets com almofadas, tudo para favorecer a interação. “Meu vizinho de mesa oferece serviços de gráfica e eu fecho com ele, não preciso ficar cotando fora”, relata Marcelo Okano, da agência digital OKN.
A região de Pinheiros também foi o foco de outro grande player estrangeiro. Trata-se do grupo britânico IWG, dono das marcas Regus e Spaces, com 35 unidades na capital (oito em Pinheiros). Para isso, investiu 40 milhões de reais em 2017, valor quatro vezes maior que o de 2016. São ao menos 550 pessoas, a maioria da geração millennial, alocadas na Rua Capitão Antônio Rosa. Há compartilhamento de quatro bicicletas elétricas e também de carregador para carro elétrico. É possível pagar 300 reais por mês e trabalhar eventualmente no espaço.
“Nós nos mudamos para lá no ano passado e tivemos redução nos custos de 20%, porque não tenho de lidar com questões de infraestrutura e consigo focar o meu negócio”, diz Leandro Marques, diretor comercial da Vert, empresa de serviços de tecnologia da informação. “A vantagem está na diversidade. Já foi possível trocar visões de negócios, por exemplo, com uma startup do setor financeiro sobre o mercado de criptomoedas.”
A brasileira Gowork é outra que apostou na região. De suas catorze unidades, duas foram instaladas por lá, com investimento de 4,5 milhões de reais. A principal está na Rua dos Pinheiros e abriga 300 profissionais de quinze empresas. Todos os empreendedores do portfólio estão conectados por uma rede social interna em que matches são propostos para possíveis parcerias. “Trinta por cento das empresas já fecharam negócios entre si. Nossa meta é chegar a 70% até 2019”, diz o fundador Fernando Bottura.
Segundo a Ancev, a região da Avenida Paulista é também um palco importante para os coworkings, com ao menos cinquenta endereços de escritórios compartilhados, uma alta de 30% em relação a 2017. O primeiro e maior deles, da WeWork, fica no número 1374, com 2 000 pessoas. A Gowork vai inaugurar sua quinta unidade por lá até o fim do ano, junto com outra no Itaim Bibi, a um custo de 7 milhões de reais. A IWG detém seis endereços na região e vai ampliar o portfólio com um novo na Berrini ainda neste ano, somando investimentos de 16 milhões de reais.
A Eureka Coworking estreará em outubro no número 2439 da Avenida Paulista ocupando o 5º andar e a cobertura. Com investimento de 1,5 milhão de reais, a proposta é reunir companhias de tecnologia com foco em mobilidade urbana. Eles investiram em um rooftop para testar gadgets da área. O ambiente contará com ralf de skate, parklets, bar e café, cinema ao ar livre, palco para pocket show, refeitório e uma ciclovia de 120 metros lineares.
“Trouxemos um pouco da cidade para dentro do coworking, com placas de rua, estruturas aparentes, cimento queimado e textura de asfalto no piso”, diz a arquiteta Gabriele Farias, da Alfa 2.
Os bancos também estão de olho nessas novas configurações de trabalho. Iniciativa do Itaú com a Redpoint eventures, o Cubo surgiu em setembro de 2015 como um hub de empreendedorismo. “Queríamos trazer para São Paulo polos de desenvolvimento como o do Vale do Silício”, afirma Lineu Andrade, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco. Em agosto, eles se mudaram para o “Cubão”, um espaço quatro vezes maior, de 20 000 metros quadrados, na Vila Olímpia.
Na forma de funcionamento, o local, gerido também pela WeWork, lembra o de um coworking, com espaços compartilhados, aluguel definido por posto de trabalho e rooftop (sempre ele), bem aproveitado para eventos e festas. Por trás do clima descontraído, porém, está um negócio de gente grande. Ao longo de 2017, as empresas dali faturaram 110 milhões de reais. Só até julho deste ano, a marca já havia alcançado 230 milhões.
Para conquistarem seu lugar nessa farta mesa compartilhada do Cubo, porém, as startups passam por um criterioso processo de seleção. No inovaBra habitat, localizado entre a Avenida Angélica e a Rua da Consolação, há 1 600 posições de trabalho, divididas entre 174 startups e 59 empresas (todas escolhidas pelo Bradesco). Há ainda dez fundos, que somam mais de 1 bilhão de reais em recursos para investimentos. “Inovação requer contato. Por isso, mesmo com as ferramentas digitais disponíveis, era preciso um prédio físico, que simbolizasse essa mudança de cultura das organizações”, afirma Fernando Freitas, superintendente de pesquisas e inovação do Bradesco.
A administração do prédio, de dez andares e 22 000 metros quadrados, inaugurado em fevereiro, está também nas mãos da WeWork. Ao contrário de vários outros centros instalados em prédios corporativos bem caretas, com pouca relação com a calçada, o inovaBra criou áreas de convivência no térreo e uma passagem entre a Rua da Consolação e a Avenida Angélica. “Prédios bem localizados e com espaços para integração podem ser adaptados para um coworking, com a vantagem do rateio entre os ocupantes”, explica a arquiteta Grazzieli Gomes Rocha, do escritório Aflalo/ Gasperini, responsável pelo desenho.
Para quem está sem condições financeiras, nem passou pela seleção, há o coworking gratuito do Google, no Paraíso. Aberto em 2016, o câmpus de empreendedorismo da empresa-símbolo do Vale do Silício dispõe de um amplo café de dois andares, aberto de segunda a sexta, com wi-fi liberado. Basta fazer a inscrição, levar o seu notebook e conectar-se.