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OLÁ,

Torcida do Corinthians invade o Japão

Fiel faz festa histórica na despedida aos jogadores e se prepara para acompanhar o time em alojamentos ou hotéis de luxo

Por Luís Ferrari
Atualizado em 1 jun 2017, 17h57 - Publicado em 7 dez 2012, 14h23
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corinthians (José Patrício/Estadão/)
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Fazia uma semana que o tatuador Alexandre Helios, conhecido como Helinho, havia reservado a noite de segunda (3) para gravar a ave-símbolo do Corinthians no antebraço de um mestre sala da escola de samba da maior torcida organizada alvinegra, a Gaviões da Fiel. Acabou convencido por amigos a desmarcar o compromisso: horas mais tarde, o time embarcaria no Aeroporto Internacional de Guarulhos para a viagem que terminou no Japão, onde disputa nesta semana o Mundial de Clubes da Fifa.

“A Gaviões estava lotando dez ônibus para ir lá se despedir dos jogadores, e eu não quis ficar de fora”, diz. Arrastou então o cliente até Cumbica, somando-se aos 12.000 presentes (segundo a Polícia Militar), em uma aglomeração histórica no saguão, só comparada em densidade àquela que acompanhou a chegada do caixão do piloto Ayrton Senna, em 1994. A turma cercou o ônibus da delegação do time, emocionando os atletas com o tamanho da recepção, e tomou conta de tudo, tumultuando a vida dos passageiros de todos os voos marcados para aquela noite. Saldo da madrugada: terminais entupidos em meio a bandeiras gigantes e fumaça dos sinalizadores, carrinhos de bagagem arremessados contra a polícia, extintores de incêndio esvaziados por vandalismo, mas, oficialmente, nenhum grande dano ou atraso de embarque.

A massa alvinegra já mostrou sua força e capacidade de mobilização em dois momentos que entraram para a história, ambos no Rio de Janeiro. Em 1976, na semifinal do Campeonato Brasileiro contra o Fluminense, tomou de assalto o Maracanã com cerca de 70.000 torcedores e comemorou a vitória na disputa de pênaltis. Em 2000, na primeira edição do Mundial de Clubes da Fifa, foram para o mesmo estádio aproximadamente 25.000 corintianos, que vibraram com o triunfo na final contra o Vasco, também decidida no tira-teima dos pênaltis.

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Apesar de ter sua importância reconhecida pela principal entidade do futebol mundial, esse último título é frequentemente desdenhado pelos rivais paulistas. O argumento é que o Timão entrou no torneio como convidado, e não na condição de campeão da Libertadores da América, feito que garante tradicionalmente o acesso à competição. Como atual dono da taça, que levantou pela primeira vez em julho numa campanha invicta, o Corinthians carimbou o passaporte para ir ao Japão e tentar o bicampeonato mundial. Nem a distância nem os altos custos da viagem vão inibir o embarque maciço do “bando de loucos”, como são conhecidos os fanáticos, que prometem uma nova invasão épica.

A euforia impressionou a Fifa desde a venda do lote inicial de ingressos: dos 20.000 disponibilizados, e esgotados em poucas horas, metade foi arrematada em computadores no Brasil. O clube do Parque São Jorge calcula que haverá de 15.000 a 20.000 corintianos no torneio. Se a equipe comandada pelo técnico Tite vencer a semifinal na quarta (12), disputará o título no domingo (16) em Yokohama, onde em 2002 a seleção brasileira conquistou sua quinta e última Copa do Mundo.

Do total da caravana alvinegra rumo à Ásia, cerca de 10.000 devem partir de São Paulo e de outras cidades brasileiras. No consulado japonês na capital paulista, só em outubro e novembro foram emitidos 8.500 vistos de curta permanência, cinco vezes a média usual. A coordenação da comissão que cuida da logística da viagem na Gaviões ficou a cargo do administrador imobiliário Adauto de Oliveira Silva, sofredor de carteirinha (ele relata ter perdido 14 quilos em 2007, com “depressão” pelo rebaixamento do time para a Série B).

“Houve quatro meses de conversa diária no Facebook com nossos companheiros da Fiel Japão, subsede que hoje tem 6.000 filiados”, afirma. Os dekasseguis ajudaram a encaixar setenta pessoas em hotel com diárias equivalentes a 40 reais — ou 30 reais, para quem topar dormir em colchões no salão de festas. “Arranjamos antes um galpão de estacionamento, mas desistimos porque estará frio”,explica Silva.

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O tatuador Helinho vai no esquema de baixo custo. Ele começou a poupar em julho, com a vitória na Libertadores, e confeccionou uma série de badulaques para vender nos jogos, como chaveiro (2,50 reais), boné (25 reais) e faixa de mão com a frase “Chora, porco!” (10 reais). Arrecadou, dessa forma, 5.000 reais, que ajudarão não só a ele, mas também ao filho de 9 anos e a um amigo a embarcar, “com gastos totais de 12.000 reais”, segundo calcula. “Adquiri as passagens diretamente da Gaviões, por cerca de 2.000 reais, ou metade do preço convencional”, conta. Aproveitar a longa viagem para conhecer as atrações turísticas do país? Nem pensar. “Chego lá na véspera do primeiro jogo, volto logo depois do segundo e, no meio tempo, vou tatuar quem puder para pagar a conta.”

Esse roteiro, suado, contrasta com o de fãs que irão em alto estilo. Daniel Nasser, sócio da agência de entretenimento We Clap, ficará hospedado com cinco familiares no Grand Hyatt de Tóquio, cenário do filme Encontros e Desencontros, no badalado bairro de Roppongi. O complexo tem como tarifa em quarto individual mais barato o correspondente a 900 reais por dia. Ele também providenciou reservas em restaurantes como o Sukiyabashi Jiro, três estrelas no Guia Michelin.

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No aperto ou na abundância, corações que batem em preto e branco têm se aproximado em razão do desafio, caso da família Ballotim. O pai, Sergio, convocou os filhos Marcus, de 32 anos, e Stela, 30. “Desde a adolescência não viajávamos juntos, mas o torneio nos fará reviver os bons tempos”, diz Marcus. O casal Lielson Tiozzo e Valeria Nery foi além: programou a lua de mel em torno da competição. “É especial poder aliar a paixão de carne e osso dele com o amor pelo Corinthians”, justifica a noiva, que disse o “sim” há uma semana para o rapaz, com broche do time na lapela. Eles e outros milhares de loucos vão seguir viagem sonhando repetir no retorno ao Brasil em Cumbica a festa do embarque — desta vez, com a faixa de campeãodo mundo no peito.

LOUCOS NA ÁSIA

10.000 partem do Brasil, segundo a estimativa mais conservadora do clube

8.500 vistos de curta duração foram emitidos no consulado japonêsda capital paulista entre os meses de outubro e novembro

2.000 é o número de pacotes comercializados pela agência oficial do Timão

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6.000 serão os membros da Fiel Japão presentes no jogo

150 profissionais do clube estão envolvidos na operação da viagem

BOAS MANEIRAS

Algumas das dicas do Guia do Torcedor, preparado pelo Consulado do Brasil em Tóquio

“Evite falar alto nos transportes públicos, batucar ou tocar qualquer tipo de instrumento”

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“Os trens costumam trafegar lotados. Os homens, para evitar mal-entendidos, devem manter as mãos à mostra. Segurando as argolas, por exemplo”

“Não se pendure em alambrados”

“Evite caminhar comendo e bebendo”

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