Quando veio ao Rio de Janeiro em 1954, dizem, Ava Gardner, dona de rompantes marcantes como sua beleza, ficou contrariada por não ter sido hospedada de primeira no Copacabana Palace e quebrou taças e outros objetos do Hotel Glória em protesto até conseguir o traslado. Duas décadas depois, o roqueiro Alice Cooper, em uma noite elétrica, colocou alguns dos móveis do Copa abaixo, por “diversão”. Embora barulhentas, histórias como estas – e outras mais discretas, como a passagem de chefes de estados e estrelas silenciosas pelo endereço carioca – fizeram do Copacabana Palace o mais glamouroso destino hoteleiro do país. Às vésperas de completar 90 anos de existência, ele será palco de mais ruídos, desta vez, de máquinas.
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Desde o dia 28 de junho, o prédio principal do hotel está fechado para uma grande reforma, estimada em 30 milhões de reais e com saldo de 1 040 peças de mobiliário, como sofás, escrivaninhas, camas, colchas de piquê, tapetes e gravuras, que serão leiloadas nesta terça-feira, dia 3/7, a quem quiser levar um pouco do Copa para a casa. A venda acontece às 19h30, nos Salões Copacabana, e será aberta ao público – mas, para tentar arrematar algo, será preciso fazer um cadastro antes no site da organizadora do leilão, Soraia Cals. Nenhuma das peças terá lance mínimo; qualquer cifra será válida para tentar comprar objetos que já serviram de cenário para nomes como Lady Di, Bono Vox, Michelangelo Antonioni ou Alain Delon, entre muitos outros famosos. “Não estipulamos quantias iniciais, mas as peças têm alto valor histórico. Algumas estão por lá desde o primeiro dia de funcionamento do hotel”, diz Soraia. A princípio, os objetos serão vendidos em lotes. Se, ao fim da noite, algum não tiver sido arrematado, abrirão-se as vendas individuais.
Não será possível saber o que esteve na decoração de determinado apartamento ou suíte enquanto cada uma das celebridades se hospedou por lá. São regras de privacidade da casa, que ganhará uma marquise de vidro e aço na entrada, terá o lobby ampliado e 147 dos 243 quatros remodelados. As mudanças vão de pequenas pinturas a reinvenções completas, caso das suítes do primeiro e segundo andar do complexo, praticamente as mesmas desde a fundação, em 1923 – os demais pisos ganharam novos ares em 1995, quando outra reforma deu ao hotel, entre demais inovações, sete penthouses no sexto andar. “Ele será modernizado, mas sem se afastar do DNA clássico”, diz Claudia Fialho, diretora de relações públicas do endereço.
Quem assina o projeto é o arquiteto francês Michel Jouannet, o mesmo que redecorou o Hotel Cipriani, em Veneza, também parte da rede de luxo Orient-Express, dona do Copacabana Palace desde 1989. Pelo cronograma, o lobby reabre em meados de setembro e os quartos, em novembro. Até lá, só estarão abertos o prédio anexo do hotel, com 96 cômodos e inaugurado em 1949 (às vésperas da Copa de 1950), os restaurantes, o spa e a piscina.