Na esteira dos eventos decorrentes da Copa no Brasil, é realizado neste domingo (29) a primeira edição da Copa dos Refugiados no Colégio Santa Cruz, na Zona Oeste. As seleções são compostas por atletas de ocasião do Haiti, Síria, Mali, Congo, Costa do Marfim e Colômbia. Todos deixaram seus países pelos mais variados tipos de adversidades, como perseguição política, religiosa e sexual.
O clima desse “mundialito” é de improviso e de muita diversão. “Você viu como os colombianos são pernas de pau?”, perguntou haitiano Thales Raymond, que vive no Brasil há três anos e no campo corre como se disputasse uma São Silvestre. Ele foi autor de um dos cinco gols que seu time fez contra a Colômbia. Para comemorar, executou uma dança típica haitiana que lembra os requebrados do axé baiano. Alguns jogadores também dão cambalhotas e estrelinhas no meio do jogo, outros dançam uma música da Costa do Marfim que toca em um aparelho de som fora do campo. É clima de festa das nações.
Na hora do almoço, os muçulmanos da Síria fizeram uma marmita e guardaram dentro de suas mochilas. Isso porque eles estão em período de ramadã e só podem comer depois das 17 horas. O jogo deles, aliás, foi marcado para perto desse horário. “Assim saímos do campo cansados, mas já podendo ter a nossa refeição”, conta Taher Teebi, 30 anos, no Brasil há seis meses.
Ele veio com a esposa, que neste momento está grávida de uma menina. “Não pensamos em deixar o país.” Teebi trabalha hoje em uma mesquita na cidade de Guarulhos. “Escuto que no Brás tem bons restaurantes árabes, mas não vou até lá porque acho tudo muito caro.”
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O sírio Younes Alnablsi chegou há cinco meses no Brasil e tem um português ainda primário. Ele não quis participar da seleção do seu país por acreditar que tenha sido vítima de “preconceito”. “Os haitianos ficaram com as chuteiras melhores, não deram nada pra gente”, choraminga. Ao todo, foram distribuídos setenta pares de chuteiras novas, de marcas como Adidas e Nike e tão coloridas quanto as de Neymar. Três brasileiros vestiram a camisa da “seleção” síria para poder completar o time.
A iniciativa da Copa dos Refugiados se deu por uma parceria das ONGs Adus, que cuida de integração de refugiados no Brasil, e Atados, rede que auxilia quem quer fazer trabalho voluntário. “Fizemos um site para arrecadar fundos para esse evento”, conta Daniel Moraes, fundador da Atados. “Pedimos 2 700 reais, mas recebemos 3 800”, comemora. Tudo na festa era gratuito. Carne, pães, refrigerantes e sucos.
Também havia uma barraca com doces típicos de festa junina, como pé de moleque e paçoca. Alguns visitantes levaram roupas para serem doadas. Mais de 500 peças foram dadas, entre elas camisa da Polo Ralph Lauren.