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Conversa

Vô, cê tem medo de monstro? – Não sei. Nunca vi um. – Nunca? – Nunca. – Eu tenho medo de monstro. – Você já viu um? – Não, mas eu tenho medo de ver. Continua após a publicidade – E se não aparecer nenhum? Aí você gastou medo à toa. – E se aparecer? […]

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18
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  • Vô, cê tem medo de monstro?

    – Não sei. Nunca vi um.

    – Nunca?

    – Nunca.

    – Eu tenho medo de monstro.

    – Você já viu um?

    – Não, mas eu tenho medo de ver.

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    – E se não aparecer nenhum? Aí você gastou medo à toa.

    – E se aparecer?

    – Você acha que pode aparecer? Agora, de dia, aqui no parque?

    – Agora não.

    – Então agora você não tá com medo.

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    – É, agora não.

    – Então é só às vezes que você tem medo.

    – É, não é toda hora.

    – Que hora que você tem medo?

    – De noite.

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    – No escuro?

    – É, no escuro.

    – Acende a luz.

    – Aí ele vai embora?

    – Nunca ninguém viu monstro com a luz acesa.

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    – Não consigo levantar, vô, para acender a luz. Fico com medo.

    – A gente vai dar um jeito.

    – Cê nunca teve medo de monstro?

    – Eu tinha. Quando era menino, eu tinha medo de um monstro que chamavam de Capeta.

    – Como que ele era?

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    – Ah, falavam que tinha chifre, rabo, dentão, olhão vermelho, focinho de javali, era cascudo, fedia. Outra hora falavam que ele se disfarçava igual pessoa comum, falavam que ele gostava de se disfarçar de mulher bonita.

    – Mulher? Ele era gay?

    – Era também, era tudo, podia ser qualquer coisa, tinha muitos poderes.

    – Era do mal?

    – O pior do pior do pior.

    – Que aconteceu com ele?

    – Já era. Os meninos cresceram, esqueceram dele, deixaram para lá.

    – Cê viu ele?

    – Claro que não. Eram histórias que contavam, bobagem. Depois que a gente cresce, esquece os monstros.

    – Eu sonho com eles.

    – E aí acorda.

    – Ahn-hãn. E aí eu penso que eles estão lá no escuro.

    – Preste atenção: os monstros só existem nas historinhas, nos desenhos, nos sonhos e no escuro. Daqueles que você vê nas historinhas e nos desenhos você não tem medo.

    – Não.

    – Por quê?

    – Eu tenho bonecos de monstro, eu brinco com eles e não tenho medo. São meus bonecos preferidos.

    – Eles querem pegar você?

    – Não. Eles têm um inimigo do bem, e o inimigo vence eles.

    – No sonho eles querem pegar é você.

    – É.

    – Aí, você é um menino esperto, muito esperto, e acorda! Ahá! Você conseguiu fugir deles quando acordou. Aí o quarto tá escuro e você não sabe se eles estão lá escondidos para te pegar.

    – É.

    – E estão?

    – Estão?

    – Já sei: vou te dar uma lanterna! De três pilhas, de gente grande, prateada! Vai ser a sua espada!

    – Uma espada luminosa!

    – Isso! Uma espada de luz, de Cavaleiro Jedi. Você mata o seu monstro na hora. Monstro não vive na luz, ele desaparece.

    – Legal! Aí, vô, se o seu Capeta aparecer, pode me chamar.

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