Conheça quatro museus especializados que guardam história e acervos incomuns

Iniciativas preservam objetos raros e antiguidades

Por Luana Machado
17 jan 2025, 08h00
Museu livro esquecido
Fachada colonial do Museu do Livro Esquecido: memórias guardadas (Divulgação/Divulgação)
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Considerada a cidade do Brasil com o maior número de museus — de acordo com dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) —, São Paulo é um prato cheio para os amantes de coleções. Em meio às mais de 150 instituições dedicadas à preservação da memória, há raridades que fogem do circuito mais óbvio, como coleções sobre bairros antigos e até endereços recém-abertos e ainda não descobertos pelo grande público. Vejinha visitou quatro desses estabelecimentos que, pela força e empenho de seus idealizadores, guardam acervos fora do comum, oferecendo aos visitantes diferentes abordagens da história da cidade e do Brasil.

Palavras eternas

Museu livro esquecido
Exemplar do livro de Teresa Margarida de Orta “Aventuras de Diófanes” (Divulgação/Divulgação)

Em um casarão de 1924, construído pelo arquiteto Felisberto Ranzini, está sediado o Museu do Livro Esquecido. Localizado na Rua Santa Luzia, na Sé, o local atrai os transeuntes pela bela fachada colonial.

Lá dentro, a nostalgia está por toda parte. Os visitantes se deparam com móveis retrô, paredes com pinturas originais preservadas e, claro, os livros expostos. Inaugurado em agosto passado, o espaço, onde funcionou a Casa Ranzini até 2021, foi adquirido por três sócios com o objetivo de criar uma iniciativa voltada para a preservação da história do livro. Tombada, a construção está em processo de restauro. “Não fecharemos para a execução das reformas. A ideia é apresentar essa transformação para os visitantes”, diz Pedro Zimerman, coordenador do projeto.

A primeira exposição do novo museu, em cartaz até março, traz a história e obra de três escritoras pioneiras. A mostra tem início com Carolina Maria de Jesus, a autora do clássico Quarto de Despejo, apresentado em uma das primeiras edições com uma dedicatória. Na sequência, traz obras da paulistana Teresa Margarida da Silva e Orta, a primeira escritora de um romance em língua portuguesa no Brasil, e de Christine de Pizan, a primeira mulher a sobreviver somente da renda de suas publicações.

Com média diária de trinta visitas, o museu pretende receber shows de artistas locais e outros eventos culturais no futuro. “Temos ainda oficinas de encadernação e produção de ex-líbris. Logo mais, vamos terminar a catalogação do acervo e ele ficará disponível para consulta. Será como um gabinete de leitura”, explica o coordenador.

Rua Santa Luzia, 31, Sé. Ter., 15h50. Sáb. e dom., 10h/17h. R$ 10 a R$ 20. sympla.com.br.

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Lentes do passado

Museu do óculos
Salas possuem imagens e objetos relacionados à história dos óculos (Harry Eddelbuettel/Divulgação)

Descendo o centro, no Bixiga, está outro casarão centenário que abriga um curioso museu. Aberto em 1996 pelos sócios Miguel Giannini e Alvaro Ferriolli, no andar de cima da ótica que funciona no local, o Museu dos Óculos conserva um acervo de 900 óculos, entre raridades e modelos contemporâneos. “Inicialmente, era somente a coleção pessoal do Miguel, itens doados por amigos, familiares e clientes”, explica o curador Harry Eddelbuettel.

Agora, o conjunto inclui de modelos fabri-casos há mais de 400 anos até contemporâneos, expostos em três salas. “Temos uma réplica dos primeiros óculos já feitos, além de exemplares chineses do século XVII, modelos sem haste do século XVIII e peças raras compostas de materiais como pele de baleia e tubarão, laca de ouro e marfim”, conta.

No local, é possível acompanhar a história do Brasil e do mundo através dos ob-jeitos: máscaras usadas na Segunda Guerra Mundial e inovações que revolucionaram a ótica completam as vitrines. “É interessante ver como os óculos eram indicativos sociais de renda e até de estado civil. No Brasil do século XVIII, por exemplo, os modelos de haste longa eram usados por homens solteiros, já os de haste curta, por casados”, explica Harry.

Também é possível ver itens de celebridades como Rita Lee, Joel Datena, Jô Soares, Boris Casoy, Ruth Cardoso, além do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos clientes mais fiéis da loja que abriga o museu.

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Rua dos Ingleses, 108, Bela Vista. Seg. a sex., 9h/18h. Sáb., 9h/13h. Grátis.

Evolução da tecnologia

Museu do computador
Breuno Valli, curador do Museu do Computador (Leo Martins/Divulgação)

Sem sede desde a pandemia, quando saíram das dependências da Faculdade Impacta, na Vila Mariana, que abrigava o acervo de 25 000 peças, o Museu do Computador oferece uma exposição virtual sobre a história e evolução da tecnologia, graças a uma parceria firmada com a Microsoft, que cedeu um espaço na Vila Olímpia para acomodar parte da coleção.

O museu surgiu em 1998, quando José Carlos Valli, proprietário de uma das primeiras empresas de manutenção de PCs do Brasil, decidiu coletar os computadores antigos que seriam descartados. “Meu pai conhecia muitas pessoas do ramo, então recebeu muitas doações. A primeira exposição foi na Comdex, a feira de in- formática”, lembra Breno Valli, filho do idealizador e atual curador do acervo, que chegou a reunir 3 milhões de reais em itens como mainframes, videogames e computadores.

Adversidades financeiras, e quatro mudanças, levaram à perda de mais de 90% da coleção. A primeira sede foi em Interlagos, um galpão de 2 000 metros quadrados cedido por um comerciante. Quando o proprietário começou a cobrar o aluguel, a família, sem aporte financeiro, precisou realocar a coleção e dois galpões, um em Itapecerica da Serra, pago pelo Sindicato de Processamento de Dados e Tecnologia, outro em Mairiporã, cedido por um amigo de José Carlos. Após uma ordem de despejo, um novo capítulo se escreveria em 2023, quando a gigante da tecnologia decidiu abraçar a ideia do curador de uma exposição virtual e cedeu um espaço na sede para as peças remanescentes.

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Uma mostra, gratuita, perpassa desde os primórdios da computação, com o mecanismo de Anticítera, objeto do século I usado para prever posições astronômicas, até as evoluções das câmeras e celulares. Outra, que pode ser adquirida no site pelo valor de 10 reais, mostra o acervo em realidade virtual.

Museu do computador
Exposição virtual do museu (Museu do computador/Reprodução)

“É muito difícil falar sobre preservação e história da tecnologia. As pessoas não acreditam no valor museológico disso. Mas nunca perdi a esperança. Agora, estou desenvolvendo a exposição em realidade virtual”, adianta Breno. museudocomputador.org.br.

Para rememorar

Memorial Penha de França
Fachada do Memorial Penha de França (Douglas de Campos/Divulgação)

Na Zona Leste da cidade, localizado em uma rua majoritariamente horizontal, fica o Memorial Penha de França, espaço cultural voltado para a memória do bairro fundado em 1667. A casa construída em 1930 e tombada pelo município é herança da família de Francisco Folco, cujo hobbie de registrar e colecionar fotografias da vizinhança deu origem ao projeto.

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Hoje, o memorial possui 4 000 imagens, a maior parte digitalizada e catalogada. Entre elas, estão registros da Revolução de 1924, do Palacete Rodovalho, que abrigou os dois imperadores do Brasil durante passagem pela cidade, e do antigo bonde que circulava no bairro. “Muitas fotos foram doadas por moradores. Nós as recebemos, digitalizamos e devolvemos. É interessante receber os moradores que querem ver personagens da região e até familiares”, conta a historiadora Patrícia Freire de Almeida.

Memorial Penha de França
Espaço interno do memorial (Douglas de Campos/Divulgação)

Além de visitas agendadas no espaço, a iniciativa faz roteiros que passam por pontos históricos, como a Igreja Matriz, que remonta às origens da Penha, e realiza oficinas de história do Brasil e de fotografia. “É um trabalho de educação patrimonial muito rico. Estamos desenvolvendo um plano museológico este ano junto com a Secretaria de Cultura do estado e vamos trazer uma nova exposição”, diz Patrícia.

Rua Betari, 560, Penha de França. Ter. a sex., 10h/17h. Grátis. Visitas devem ser agendadas previamente através do perfil @memorialpenha.

Publicado em VEJA São Paulo de 17 de janeiro de 2025, edição n° 2927

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