Depois de aprovado no vestibular, quem se matricula em um dos cursos da maior universidade do país tem uma certeza: as aulas, cedo ou tarde, serão interrompidas por greves. Desde 2000, a USP já sofreu com sete paralisações. A mais recente delas teve início no dia 5 de maio e culminou, na terça passada (9), em confrontos entre a Polícia Militar e um grupo formado por alunos e funcionários. O estopim ocorreu quando manifestantes cercaram seis policiais a caminho da reitoria, por volta das 17h. Acuados, os PMs pediram reforço e um pelotão de força tática entrou em ação. Foram usadas bombas de efeito moral, como as de gás lacrimogêneo, e balas de borracha para dispersar os grevistas, que responderam com pedras e pedaços de tijolo e de pau. Três pessoas (um funcionário, um ex-funcionário e um estudante) foram presas por depredação do patrimônio e desacato à autoridade. A confusão só terminou cerca de quatro horas mais tarde, quando o comandante da operação, o tenente-coronel Claudio Miguel Marques Longo, conseguiu negociar com professores e dois deputados do PSOL a desobstrução das vias dentro do câmpus, a retomada da ordem e a retirada da tropa de choque.
Desta vez, a pauta da greve tem 38 tópicos divididos em quinze temas. Eles vão do aumento salarial de 16% para funcionários e professores a reivindicações como “não fragmentação dos diversos níveis de ensino”, seja lá o que isso signifique. Algumas são repetidas desde 1989, ano em que – adivinhe! – a USP foi palco de uma greve. Agora, os primeiros a cruzar os braços foram os funcionários. A Associação dos Docentes da Uni-versidade de São Paulo (Adusp) só se juntou a eles depois que a Polícia Mi–litar ocupou prédios do câmpus, cumprindo uma determinação judicial de “imissão de posse”, na semana passada. “Antes de nossa presença, piquetes impediam o acesso a prédios da universidade”, ex-plica o capitão da PM Marcelo Gonzales Marques. “Fomos chamados para garantir a preservação do patrimônio e o direito de ir e vir.” Após o confronto da última terça, um grupo de professores resolveu pedir a saída da reitora Suely Vilela.
Para combater a entrada da polícia em instituições de ensino, professores e alunos gostam de citar um fato histórico: a invasão da PUC por forças de segurança há 31 anos, durante a ditadura militar, com o objetivo de reprimir uma reunião de líderes estudantis. Foi uma ação deplorável, comandada pelo então secretário de Segurança do estado, o coronel Erasmo Dias. Mas o que aconteceu na USP é muito diferente. Os policiais estavam ali cumprindo uma ordem judicial e se viram acuados. Só então reagiram. Foi o que se pode chamar de “cutucar a onça com vara curta”. Deu no que deu.