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OLÁ,

Como ser feliz

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 17h27 - Publicado em 27 jan 2012, 13h40

Todo sábado, logo cedo, empresto o carro da minha mulher e levo o nosso filho, Sammy, de 8 anos, para jogar futebol na escolinha, na Lapa. Descemos a Avenida Sumaré, atravessamos a ponte e entramos na Marginal Tietê em direção ao Rio Pinheiros. Passamos em frente ao Estadão, por baixo da Ponte Júlio de Mesquita Neto, e, ao avistar a gráfica da Editora Abril, indico sempre o prédio onde é impressa a revista que edito, a NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Por vezes, antes mesmo de eu formular a frase, Sammy diz: “Já sei, papai”, meio entediado.

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Sábado passado não foi diferente. Mas, ao deixar para trás a Ponte Júlio de Mesquita, o moleque me avisou que a Avenida Pompeia estava fechada para obras naquele dia. Saiu-se, ainda, com a seguinte recomendação:

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— Você precisa se lembrar de não pegar a Pompeia na volta, papai.

— Sammy, você pode me ajudar a lembrar? — respondi.

— Não, papai.

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— Não!? Como assim!? Por que, não, filho?

— Porque estarei pensando nos melhores momentos do meu jogo de futebol.

Tive de dar risada. Era a única reação possível da minha parte. Achei curioso alguém, ainda mais uma criança, planejar o que pretendia pensar dali a duas horas. Como se não bastasse, o planejamento previa um devaneio a respeito de um jogo de futebol. Contei a história para minha mulher, Luli, ao chegar em casa. Mas ninguém deu mais do que outra risada. Ficou nisso a história.

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Até uns dias depois, quando fui ler a primeira Harvard Business Review de 2012. Para quem não sabe, é uma revista de negócios, como a EXAME. Essa edição é dedicada à “felicidade”. Pode parecer um tema estranho ao mundo empresarial, mas há pesquisas fascinantes na área. A chamada da capa é: “O valor da felicidade:como o bem-estar dos empregados gera lucro”.

A pesquisa mais original relatada na HBR, como é conhecida a revista, vem sendo feita com 15.000 pessoas em 83 países através de smartphones. O pesquisador, Matthew Killingsworth, meu xará, pergunta em intervalos aleatórios sobre o humor dos participantes. Cada um responde na hora em uma escala que vai de “péssimo” a “ótimo” e diz o que está fazendo (de uma lista de 22 atividades).

O melhor humor acontece durante o sexo. Não chega a espantar, mas me perguntei se o povo para no meio para responder à pesquisa.

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O achado mais inesperado talvez seja o impacto dos devaneios no humor das pessoas. Descobriu-se que a mente humana desvia do foco durante quase 50% do tempo. Esses desvios, segundo o xará, tem uma influência forte sobre a felicidade. A sugestão do pesquisador é um planejamento mental mais elaborado. “Ao acordar sábado de manhã”, escreve, “deveria se perguntar não só ‘o que vou fazer hoje’, mas ‘o que vou fazer com minha mente’.” Controlar seus devaneios é uma das maneiras mais eficientes de aumentar a felicidade, afirma. Outras sugestões incluem fazer exercício regularmente, ganhar dinheiro (até certo ponto) e, ao que parece, casar. Mas há controvérsias a respeito deste último (não adianta trocar de marido ou mulher toda hora, por exemplo).

O artigo me fez pensar no Sammy. Aos 8 anos, ele já faz esse planejamento mental. Onde será que aprendeu isso? Não foi comigo, garanto.

Talvez seja um exemplo da evolução darwiniana da espécie. Sabemos que o homem é cada vez menos violento. Talvez tenha aprendido a ser cada vez mais feliz também.

e-mail: matthew@abril.com.br

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