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Cogitado na capital, passe livre no transporte é desafio em megalópoles

Benefícios sociais, econômicos e ambientais têm feito ideia da tarifa zero ganhar força no Brasil e no mundo; SPTrans estuda viabilidade na capital

Por Hyndara Freitas
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h11 - Publicado em 16 dez 2022, 06h00
Vargem Grande Paulista, na região metropolitana de São Paulo, adota a tarifa zero.
Vargem Grande Paulista, na região metropolitana de São Paulo, adota a tarifa zero. (Prefeitura de Vargem Grande Paulista/Divulgação)
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Em 2013, nas manifestações contra o aumento da tarifa de transportes que viriam a mudar os rumos políticos do país, uma turma vista como mais radical e sonhadora pedia o “passe livre” nos ônibus. Bem, quase uma década se passou e a ideia virou uma possibilidade concreta em São Paulo, após o prefeito Ricardo Nunes (MDB) pedir à SPTrans um estudo sobre a viabilidade econômica da proposta — a medida chegou a ser sugerida na gestão de Luiza Erundina, mas não foi para a frente.

O transporte gratuito funciona com sucesso em outras cidades do Brasil e do mundo, mas nunca foi adotado em megalópoles como São Paulo. Se virar realidade, deve se tornar a principal bandeira de Nunes para tentar a reeleição em 2024 e também de seu partido, que iria explorar a política nacionalmente.

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Os benefícios nas áreas econômica, social, ambiental e de trânsito são os principais argumentos dos defensores da proposta. Um exemplo é Vargem Grande Paulista, na região metropolitana, com 54 000 habitantes. O prefeito Josué Ramos (PL) se reuniu com Nunes para apresentar a experiência do município. “Dobrou o número de passageiros, aumentou a geração de emprego com empresas que vieram para cá, aqueceu o comércio e melhorou a receita de ICMS”, ele diz.

No estado, quinze cidades adotam a tarifa zero nos ônibus. São 52 no Brasil, de acordo com pesquisadores do tema. Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza (CE), com 300 000 habitantes, é a mais populosa do país a empregar a política, desde setembro de 2021. O prefeito Vitor Valim (PROS) diz que houve uma transformação no município. “Diminuiu a quantidade de veículos e acidentes, além de melhorar a economia”, afirma. Dados da prefeitura mostram que antes os ônibus transportavam 500 000 passageiros por mês, número que chegou a 1 milhão no mês da mudança e, em outubro de 2022, atingiu 2 milhões de passageiros mensais.

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Protesto em frente à Prefeitura de São Paulo contra o aumento da tarifa de ônibus, em 2013.
Protesto em frente à Prefeitura de São Paulo contra o aumento da tarifa de ônibus, em 2013. (Edson Lopes Junior/Veja SP)

Em um sistema com tarifa zero, a prefeitura repassa os valores diretamente às concessionárias. Seria necessário definir se a prefeitura pagaria por passageiro ou quilômetro rodado, algo que será alvo do estudo da SPTrans. Especialistas alertam para a necessidade de definir um sistema transparente nos repasses. “Tem de haver participação pública, não é razoável que repasses bilionários sejam feitos sem a possibilidade de auditorias externas”, diz Daniel Santini, pesquisador na área e coordenador na Fundação Rosa Luxemburgo.

Outros desafios seriam definir a fonte de custeio e integrar a ideia ao sistema de transporte como um todo. “Seria errado adotar a medida só nos ônibus isoladamente, porque iria gerar uma disputa entre os meios de transporte. O metrô e o trem certamente iriam perder passageiros e esse desequilíbrio seria ruim”, aponta Rafael Calabria, coordenador do programa de mobilidade urbana do Idec.

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Entre os especialistas, não faltam ideias para encontrar fontes de recursos. Alguns exemplos são Maricá (RJ), que custeia a prática com os royalties do petróleo, e Mariana (MG), que usa recursos da exploração de mineração. A arrecadação com publicidade e pagamento de taxas pelas empresas — que deixariam de pagar o vale-transporte a funcionários — são soluções adotadas por Vargem Grande e Paranaguá (PR). Também se cogita a criação de uma contribuição para veículos mais caros e um pedágio urbano em regiões centrais, nos moldes do que é adotado em cidades europeias.

O economista Wesley Ferro, do Movimento pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos, afirma que é preciso estudar com cuidado a ideia em São Paulo. “A demanda vai aumentar e seria preciso redimensionar a rede de transportes”, ele destaca.

A SPTrans calcula que o custo dos ônibus da capital será de 12 bilhões de reais em 2023, com 5 bilhões vindos das passagens e 7,4 bilhões de reais de subsídios da prefeitura. O valor está em discussão e é alvo de conversas com o governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos), responsável pelo Metrô e CPTM. Em evento na B3 no dia 7, Tarcísio disse ser “viável” manter o preço atual, mas que a tarifa zero “é uma coisa muito mais desafiadora”.

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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de dezembro de 2022, edição nº 2820

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