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OLÁ,

Cleyde Yáconis: uma dama caipira

Avessa a badalações, a atriz estreia sua 71a peça teatral

Por Paula Ungar
Atualizado em 5 dez 2016, 19h21 - Publicado em 18 set 2009, 20h36

Quem vê Cleyde Yáconis nos ensaios da peça A Louca de Chaillot, do dramaturgo francês Jean Giraudoux, se impressiona com a força de sua voz e disposição. Prestes a completar 83 anos, no próximo dia 14, a atriz encena o 71º espetáculo de sua carreira (a estréia estava prevista para este sábado, 4, no Sesc Santana). Ela interpreta uma mulher que tenta a todo custo impedir que especuladores destruam Paris à procura de petróleo. Aparece em quase todas as cenas, durante duas horas e meia. Nos últimos três meses, ensaiou por cinco horas seguidas, seis vezes por semana. “Quando a gente encontra um bom personagem, nem sente o cansaço”, afirma. Como estava envolvida também com a novela Cidadão Brasileiro, da TV Record, pediu à emissora para diminuir o ritmo das gravações. Foi a única mudança em sua rotina.

Reservada, Cleyde não gosta de distribuir autógrafos e evita a exposição em colunas sociais e revistas de celebridades. A quem pergunta por que ela não costuma aparecer em festas e eventos, responde: “Mais de seis pessoas para mim é multidão”. Ao fim de uma encenação ou ensaio, toma o volante de seu Corsa e ruma direto para a chácara em Jordanésia, na altura do quilômetro 39 da Via Anhangüera, onde mora. Divide a propriedade com a empregada Lindaura da Silva, a Dadá – que a acompanha há 56 anos –, e seus quatro poodles. É lá que ela gosta de passar seus dias, de preferência enfurnada no jardim. “Sou caipira, adoro a vida simples”, diz.

Cleyde abre as portas de sua casa somente aos amigos mais íntimos, como o vizinho Armando Paschoal, ator aposentado. Os dois costumam trocar frutas cultivadas nos respectivos pomares. “Ela me dá cambuci e eu retribuo com jabuticaba”, conta ele. É com cambuci, fruta típica paulista, que ela prepara aguardente. “Como não bebo, dou de presente”, explica. Faz alongamento com Dadá todas as manhãs e, três vezes por semana, malha em uma academia em Jordanésia. Está em ótima forma. “Olha como é rígida”, orgulha-se, ao levantar a blusa e mostrar a barriguinha enxuta.

Nascida em Pirassununga, no interior do estado, Cleyde Yáconis estreou nos palcos em 1950. Trabalhava então como produtora do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde a irmã mais velha, Cacilda Becker, despontava como a estrela que se tornaria em sua época o maior nome dos palcos brasileiros. Certo dia, ouviu nas coxias que Nydia Licia faltaria a uma apresentação de O Anjo de Pedra, de Tennessee Williams, e se ofereceu para substituí-la. “Eu era ignorante. Nunca tinha lido uma peça”, lembra. A partir desse dia, virou atriz. Não que tivesse apego ao ofício. A princípio, via na profissão uma possibilidade de pagar a faculdade de medicina, seu sonho desde criança. “Com o passar do tempo, a arte foi enfraquecendo essa antiga paixão”, afirma a pesquisadora de teatro Maria Thereza Vargas. Além das peças, participaria de oito filmes e trinta novelas.

Desde que se separou do ator Stênio Garcia, com quem ficou casada onze anos, não quis mais saber de marido. Foi bem na época da morte prematura de sua irmã Cacilda, em 1969, aos 48 anos. “A separação ficou tão pequena perto disso que preferi cuidar de minha mãe”, afirma. “E depois deu preguiça de procurar.” Tampouco se queixa da falta de filhos e netos para correr pelo jardim de sua chácara. “Imagina, colocar uma criança neste mundo horrível de hoje. Tenho dó.”

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