Cláudio Assis tem no currículo três longas-metragens, cinco curtas e já marcou posição junto a público e crítica: com ele, é amar ou odiar, sem meios termos. Desde “Amarelo Manga” (2002), sua produção não passa despercebida: o diretor levou mais de vinte prêmios, entre nacionais e estrangeiros. Só seu último filme, “Febre do Rato”, que entra em cartaz nesta sexta-feira (22), abocanhou oito troféus, entre melhor filme (votação do júri) e longa de ficção (este dado pela crítica), no último Festival de Paulínia, no ano passado.
+ Os melhores filmes em cartaz; salas e horários
Na nova produção, Irandhir Santos interpreta o poeta marginal Zizo, cuja rotina criativa em Recife é abalada com a chegada de Eneia (Nanda Costa), por quem se apaixona. O nome, “Febre do Rato”, remete ao tabloide produzido de forma independente pelo protagonista e a uma expressão nordestina que designa alguém fora de controle.
+ 3 perguntas para… Irandhir Santos
Filmado em preto e branco e com um elenco em que se destacam nomes como Juliano Cazarré, Matheus Natchergaele e Conceição Camarotti – , a fita levanta bandeiras anárquicas e traz uma estética claramente inspirada no cinema marginal brasileiro dos anos 1960.
Em viagem pelo país para divulgar o longa, Cláudio Assis conversou com VEJINHA.COM:
VEJA SÃO PAULO — Por que você optou por filmar em preto e branco?
Cláudio Assis — A ideia partiu de Walter Carvalho [diretor de fotografia do filme] e achei que se encaixava com a proposta. Resolvi fazer um filme sobre um poeta. Então, como colocar a poesia na tela? Acho que, no fim, fizemos poesia fotográfica. Fizemos com que o olhar se dirigisse para o desejo.
VEJA SÃO PAULO – “Febre do Rato” é diferente dos seus filmes anteriores. Tem um ar alegre, diferente de “Amarelo Manga” e “Baixio das Bestas” (2006). Esse tom é proposital ou surgiu durante a produção?
Cláudio Assis — “Febre do Rato” é uma espécie de resposta a “Baixio das Bestas”. É um filme que fala de alegria, que busca fugir da mesmice. Não é um filme de fracasso, esse cinema feito pela Rede Globo ou por Hollywood. Eu quero dizer que a vida é gozar. Gozar é viver. Meu filme é sobre honestidade. Sou verdadeiro com o meu público: vamos fazer o que tivermos vontade de fazer.
VEJA SÃO PAULO — O que acha de seus filmes dividirem a plateia? Parece que ninguém fica indiferente ao seu trabalho.
Cláudio Assis — Ninguém é obrigado a gostar do que eu faço, mas de entender que meu trabalho é verdadeiro. “Febre do Rato” não é um filme meu, mas do Irandhir [Santos], da Nanda [Costa], do Walter [Carvalho], enfim, de todo mundo que colaborou para que ele acontecesse.
VEJA SÃO PAULO — Estrear nos cinemas premiado é garantia de mais espectadores?
Cláudio Assis — Eu não faço filme para a crítica nem para o público. Eu não sou um escravo do olhar. É bom ganhar prêmio, mas isso é consequência. Sei que a vida é curta e não tenho preço. Sou um homem realizado. A função da arte não é agradar, é fazer com que as pessoas pensem. Eu não quero ir para Hollywood, para Cannes. Tudo isso é uma grande asneira. O que falta no cinema brasileiro hoje é a honestidade. Quando você se vende, já era, não tem retorno.
VEJA SÃO PAULO — Seu filme tem muito do cinema marginal e do Cinema Novo. Quais são suas influências?
Cláudio Assis — Sou influenciado pela vida, pelo amor. Não inventei a roda, mas tenho meus mestres. Bertolucci, Glauber, mas sobretudo Nelson Pereira dos Santos. O cinema brasileiro é “Vidas Secas” [1963]. Eu não acredito em Deus, mas, se eu fosse ele, ressuscitaria o Nelson Pereira dos Santos [Nascido em 1928, o cineasta está vivo].