Os comerciantes pressionaram, e a prefeitura mudou o trajeto da ciclovia no entorno da Praça Vilaboim, no bairro nobre de Higienópolis. A alteração do percurso, no entanto, tem causado confusão aos motoristas que circulam pela região.
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Para trocar a pista de lado, a administração municipal precisou passar com a ciclovia em cima da faixa de pedestres na esquina da praça com a Rua Armando Penteado, criando um zigue-zague na ciclovia. A sinalização tem deixado condutores em dúvida. A reportagem de VEJA SÃO PAULO flagrou o momento em que donos de automóveis paravam os carros no cruzamento para tentar entender por onde deveriam seguir.
Com a mudança da faixa exclusiva para ciclistas, a prefeitura também precisou construir pequenos canteiros para auxiliar na travessia dos pedestres. Porém moradores da região reclamam de que falta o rebaixamento que facilita o trânsito de cadeirantes e idosos.
A mudança no local ocorreu há cerca de um mês, após os comerciantes da região se queixarem de que a ciclovia tinha provocado queda no fluxo de clientes. Proibidos de parar ou estacionar sobre a faixa vermelha, fregueses deixaram de frequentar os restaurantes da rua. “Perdi cerca de 50% da clientela”, afirma Vanusa Almeida, gerente do restaurante japonês Aoyama. “Agora, após a prefeitura trocar a faixa de lado, os fregueses voltaram.” Para ela, as ciclovias são mais úteis em grande corredores, como a Avenida Paulista. “Poucos ciclistas passam por aqui”, afirma.
Os comerciantes dizem ainda que a dificuldade na entrega de produtos para os estabelecimentos era outro problema trazido pelo antigo trajeto. “Era difícil deixar um saco de farinha de 50 quilos estacionando o carro em outra rua. A ciclovia me atrapalhou por cerca de três meses”, diz Vicente Safon, gerente da padaria Barcelona, localizada em um dos pontos do trajeto. “Agora, 90% do movimento voltou. Sou a favor da ciclovia, vou até colocar um paraciclo para os clientes. Só acho ainda que ela deveria ser mais utilizada. Se dez ciclistas passarem por ela em um dia, é muito.”
Do outro lado, para onde a ciclovia foi deslocada, comerciantes não reclamaram da faixa que passa agora rente à calçada. Com vagas próprias ou conveniados a serviços de estacionamento, os estabelecimentos não sofreram com queda no número de clientes, segundo funcionários.
Embora tenham aprovado a alteração no trajeto, por ter se tornado mais seguro, cicloativistas questionam a forma como a mudança foi conduzida. Willian Cruz, do movimento Vá de Bike, diz que a estratégia da prefeitura foi equivocada ao ceder aos apelos dos comerciantes. “É uma solução até aceitável. Mas ainda revela o fato de que as pessoas organizaram o comércio para receber cliente com tapete vermelho, quando esse tapete está num lugar que não é delas. Se precisa receber o cliente de carro, o comerciante deve reservar uma área no próprio terreno. O viário não é dos comerciantes, é da cidade.”
Há pouco menos de dois meses, quando a mudança foi feita, a prefeitura afirmou que a mudança não havia ocorrido após pressão dos comerciantes e disse ainda que, além da troca de lado da ciclovia, a área também receberia a instalação de parklets (pequenas praças em via pública), o que ainda não foi feito.
Procurada para comentar sobre o zigue-zague que tem causado confusão aos motoristas, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não se pronunciou.
O prefeito Fernando Haddad prevê criar 400 quilômetros de ciclovias até o fim deste ano. Pouco mais da metade da meta já foi cumprida. Na última segunda-feira (5), foram iniciadas as obras para a construção do trajeto para bicicletas no canteiro central da Avenida Paulista e nas vias sob o Minhocão.