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CEO diz que brasileiros adoram as estampas coloridas da Gucci

Turistas daqui são consumidores-chave nas lojas da grife dos Estados Unidos

Por Simone Esmanhotto
Atualizado em 14 Maio 2024, 12h09 - Publicado em 5 ago 2011, 18h19
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  • Até um par de anos atrás, era raro encontrar um executivo estrangeiro do mercado de luxo que tivesse o Brasil na cabeça a ponto de enumerar prontamente — e sem consultar qualquer planilha — a ficha financeira do país (leia-se o potencial de consumo local). Hoje, encontrar um engravatado da LVMH, Ermenegildo Zegna e do Grupo Gucci é quase como que entrevistar um empresário daqui. IPI, retenções de mercadoria na alfândega, o boom da classe média, a supremacia de São Paulo nas compras AAA fazem parte, hoje, do discurso, digamos, feijão com arroz de CEOs de grifes badaladíssimas. Como Patrizio di Marco, que comanda a Gucci — nada menos do que a segunda marca de luxo mais valiosa do planeta (só perde para a Louis Vuitton). “Com um crescimento esperado entre 15% e 20% no setor de luxo, o Brasil emerge definitivamente como um dos mercados mais promissores para as empresas européias”, diz Di Marco a VEJA SÃO PAULO.

    O executivo passou pela francesa Céline, parte do maior conglomerado de luxo do mundo, o LVMH, e pela italiana Bottega Veneta, uma das mais bem sucedidas do Grupo Gucci, dono também da Yves Saint Laurent, Alexander McQueen e Stella McCartney. Ocupa a cadeira de CEO que teve homens de negócio lendários no comando desde que a marca foi fundada, em 1921, em Florença, por Guccio Gucci. Primeiro, o filho de Guccio, Aldo, que expandiu a marca para os Estados Unidos. Depois, o neto Maurizio, que tentou transformá-la em império até levá-la à porta da falência. Por fim, Domenico De Sole que, junto com o estilista Tom Ford, colocou a Gucci de novo em curva dramaticamente ascendente nas planilhas financeiras.

    Di Marco quer, como revela na entrevista abaixo, conquistar mais consumidores fiéis em solo nacional — em outras palavras, vender mais, claro, mais vender melhor. E está comprometido com as origens da marca. “Construímos uma liderança baseada no trabalho manual do nosso ateliê de Florença”, diz. “Mostrar esse lado é o foco da nossa estratégia.” A Gucci experimentou o auge nos anos 60 e 70, quando era fotografada nos ombros de Jackie Kennedy e Sophia Loren. Devolver a Gucci ao posto de favorita do jet set — aquele que sabe bem com quantos pontos de costura se faz uma bolsa de 30 000 reais — é sua meta número 1. Aqui, o CEO da Gucci divide seus planos.

    VEJA SÃO PAULO — Que papel o Brasil tem hoje nos resultados da Gucci?

    Patrizio di Marco — Hoje, uma parte limitada (6,2 bilhões de reais em faturamento em 2010) — não posso revelar qual é. Mas há um potencial enorme e temos um plano agressivo para crescer no país. Não apenas em cifras, mas — e esse é nosso principal objetivo —, mas em reconhecimento, apreciação e fidelidade do consumidor de luxo brasileiro.

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    VEJA SÃO PAULO — O consumidor daqui tem manias e peculiaridades?
    Patrizio di Marco —
    Muitos brasileiros já apreciam nossos produtos e são excelentes compradores quando viajam a turismo. Eles são consumidores-chave em muitas lojas, especialmente nos Estados Unidos. Os brasileiros conhecem muito bem o couro, considerando que há uma tradição de manufatura de artigos no país. Quanto mais exóticas e preciosas as peles, mais elas são apreciadas. Também ficamos felizes de saber que as estampas coloridas e icônicas de Frida Giannini agradam bem o gosto local.

    VEJA SÃO PAULO — O senhor está no comando da Gucci há dois anos. Que companhia encontrou ao chegar, o que colocou na mira para melhorar e quais os seus planos daqui para frente?
    Patrizio di Marco —
    Não acredito que a palavra correta seja “melhorar” uma empresa como a Gucci. Quando cheguei, no começo de 2009, a companhia acumulava um crescimento de 46% no faturamento nos últimos anos, o que é um resultado impressionante. Na minha carreira, tive oportunidade de trabalhar para algumas das mais importantes marcas de luxo do mundo. E sempre olhei para a Gucci como líder em qualquer segmento do mercado. Quando fui chamado para comandá-la, descobri que apenas um aperfeiçoamento era necessário. Não estou falando de reposicionamento. Não estou falando de mudar o coração da companhia. Falo de dar aos consumidores a oportunidade de compreender completamente o que é Gucci, o que existe por trás do nosso produto em termos de qualidade, de made in Italy, e enfatizar a tradição da marca. Essa herança tinha sido deixada um pouco de lado nos últimos anos. Agora é o foco da estratégia.

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    VEJA SÃO PAULO — Qual o papel da tradição na atual fórmula da Gucci de ser lançadora de tendências?
    Patrizio di Marco —
    Tradição hoje parece uma clichê, já que a palavra foi usada em excesso nos últimos anos. A diferença é que a nossa história é autêntica. É legítimo, para nós, falar em valores como qualidade, feito a mão, made in Italy porque temos sido fiéis a esses princípios há 90 anos, desde que Guccio Gucci estabeleceu a marca. Nosso trabalho se baseia nessa tradição, o que não significa que ficamos parado no tempo. Estamos permanentemente inovando e desenvolvendo novas idéias, novos materiais e novos processos. Por isso nossa moda é relevante hoje, estação depois de estação. A criatividade do time de Frida Giannini é única. Ela merece o crédito por respeitar a origem da Gucci e renová-la ao mesmo tempo. As coleções dela são sempre vibrantes, relevantes, quentes. Ainda assim, com o inconfundível toque artesanal que não se pode apreciar na passarela. É preciso cheirar o produto, tocá-lo, vê-lo por dentro. É isso que os consumidores precisam hoje: novidade, apelo de moda, mas qualidade e amor ao detalhe. O respeito ao passado é fundamental, mas se você não aprende com a própria historia, se não evolui dia após dia, sua celebração do passado será nostálgica e mal sucedida.

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    VEJA SÃO PAULO — O que a Gucci tem que nenhuma outra marca de luxo tem?
    Patrizio di Marco —
    Habilidade de se renovar, pegando inspiração no passado. E gente apaixonada pelo que faz. Se você considerar quantas vidas, quantas tragédias e histórias essa marca já viveu, é possível considerá-la invencível. Se a Gucci ainda está entre nós, mais forte do que nunca — é uma das grifes mais reconhecidas do universo do luxo e a marca italiana mais valorizada do mundo, considerando todos os setores, de acordo com a consultoria Interbrand —, isso se deve às pessoas que trabalham aqui por anos, com paixão e know-how.

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