São Paulo perde 4 bilhões ao ano por falta de centro de convenções
O cálculo é de Damien Timperio, executivo do grupo que administra quarenta espaços do gênero no mundo
A cidade de São Paulo deixa de movimentar cerca de 4 bilhões de reais por ano por não contar com um centro de convenções capaz de comportar os grandes congressos mundiais — científicos, políticos ou culturais — que atraem público entre 5 000 e 10 000 pessoas. Esse é o cálculo de Damien Timperio, CEO no Brasil da empresa francesa GL events, responsável por administrar quarenta espaços para feiras e eventos em vinte países. “No exterior, São Paulo é vista como uma ‘nanica’ do setor. É preciso mudar essa realidade para que a cidade possa se projetar como um destino viável”, afirma.
Por aqui, a GL comanda o São Paulo Expo, no começo da Rodovia dos Imigrantes, na Zona Sul, além do Riocentro e da Jeunesse Arena, ambos no Rio de Janeiro. Segundo a União Brasileira dos Promotores de Feiras, a metrópole dispõe de nove centros de convenções, boa parte com capacidade de público em torno de 4 000 pessoas. Um décimo espaço do mesmo porte será inaugurado até 2019. Trata-se do Centro de Convenções do Shopping Ibirapuera, que está sendo erguido a um custo de 8 milhões de reais para abrigar até 5 000 visitantes.
Esse setor movimenta 16,3 bilhões de reais e realiza cerca de 800 eventos por ano na capital, sendo 25% em pavilhões e 40% em centros de exposições. Timperio aposta na reforma do Ginásio do Ibirapuera, na Zona Sul, ou em um novo projeto para o Complexo do Anhembi, na Zona Norte, como alternativa para que a metrópole entre na rota dos mais importantes congressos internacionais.
O primeiro passa por um processo lento de concessão pelo governo do estado. O atual secretário de Esporte, Lazer e Juventude, Cacá Camargo, que assumiu a pasta há três meses, ainda estuda o caso para decidir se dará continuidade à gestão estadual ou implementará uma parceria com a iniciativa privada. O objetivo é manter a função esportiva e de lazer do complexo.
A entrega do Anhembi à iniciativa privada se arrasta desde uma promessa de concessão feita em 2015 pelo então prefeito Fernando Haddad, que não teve andamento. Já a privatização prometida por João Doria enfrenta um processo judicial movido pelo Ministério Público Estadual. O órgão quer impedir a demolição dos prédios do espaço devido à sua arquitetura, mesmo com o arquivamento do pedido de tombamento. Confira a entrevista feita com o executivo.
Que tipo de evento a cidade de São Paulo deixa de receber por não ter um espaço adequado?
Em 2015, o Fundo Monetário Internacional precisou fazer seu evento na América Latina e não colocou São Paulo nem na lista dos dez lugares possíveis. E que cidade brasileira pode receber um evento do porte do G20, o grupo que reúne as vinte maiores economias globais? Só o Rio de Janeiro, no Riocentro.
Pavilhões podem ser adaptados?
São Paulo sediou o congresso da Fifa na Copa do Mundo de 2014, mas teve de adequar o Transamérica Expo Center e gastou uma fábula. Foram mais de 20 milhões de reais para transformar um pavilhão em salas. Em 2015, o Anhembi recebeu a Convenção Internacional do Rotary, uma das maiores do mundo, e o acordado era que o congresso só poderia ocorrer lá com uma reforma. Mas, como não foi feita, gastou-se uma fortuna para adaptar o local. A pujança da cidade atrai interessados, porém o custo de soluções temporárias inviabiliza grande parte dos eventos.
Como seria o centro de convenções ideal?
Precisa ser eficiente e capacitado a realizar plenárias para mais de 5 000 pessoas. Para isso, necessita ter uma área de no mínimo 10 000 metros quadrados. O ideal é que o local tenha auditórios com capacidade para esse público e comporte ainda outras palestras simultâneas, como ocorre em todo grande congresso, além de contar com áreas para alimentação dos participantes. A estimativa é que um complexo como esse tenha um total de área construída de no mínimo 20 000 metros quadrados.
Estamos atrás de quais cidades nesse quesito?
Posso citar Barcelona, na Espanha, Lima, no Peru, Viena, na Áustria, Chicago, nos Estados Unidos, e Hong Kong, na China, por exemplo. Lima investiu 100 milhões de dólares e inaugurou seu centro de convenções em 2015, com capacidade para 10 000 pessoas. Lá foi feito o evento do FMI. O de Barcelona, o mais icônico do mundo, atende mais de 14 000 pessoas e tem 46 salas de reunião. A cidade chinesa de Guangzhou deve abrir o dela em 2020. Trata-se de equipamentos que têm uma arquitetura importante e são uma marca urbanística na cidade.
Qual espaço da capital seria ideal para receber o equipamento?
O Ginásio do Ibirapuera ou o Anhembi. Ou um ou outro, porque o centro de convenções não deve ter competição interna. É uma ferramenta da cidade para captar eventos internacionais. Em outubro de 2017, participamos do Procedimento de Manifestação de Interesse e entregamos ao governo do estado um projeto para transformar o ginásio em um centro de grande porte para receber de 10 000 a 15 000 pessoas simultaneamente. O valor do investimento é estimado em até 800 milhões de reais, quantia semelhante à do projeto de 700 páginas que também entregamos para viabilizar o equipamento no Anhembi. A localização mais nobre é a do Ibirapuera, mas o projeto mais ambicioso é o do Anhembi.
O Anhembi deve ser demolido?
A vinda do São Paulo Expo acelerou a defasagem do Anhembi, mostrando a necessidade de achar uma solução para o local. Ele está completamente ultrapassado, com desníveis pelo chão e sem ar-condicionado. Também não permite a suspensão de estruturas temporárias no telhado, o que agilizaria as montagens e evitaria construções no chão, além de ser mais estético. Não vou entrar no mérito de ter ou não valor arquitetônico. Tecnicamente não tem valor nenhum. Custaria mais caro manter parte da estrutura existente. O ideal seria fazer um projeto novo.
Quanto São Paulo deixa de ganhar com essa defasagem?
Muito. Os congressos são decididos com cinco a seis anos de antecedência e quanto mais se espera mais se perde. Há impacto econômico em termos de emprego, de visitantes, de turistas de negócios, cujo gasto médio é maior do que o de alguém que participa de uma feira, porque realmente são pessoas vindas de fora. É uma ferramenta fundamental para movimentar a economia, projetar a cidade, e não para ganhar dinheiro. Cerca de 15% da receita do evento fica no próprio espaço e 85%, no destino, com gastos como passagem aérea, táxi, restaurante e outros.
A concessão de trinta anos do São Paulo Expo que vocês ganharam em 2013 envolve a gestão de um antigo imóvel da Secretaria Estadual de Agricultura que possui 30 000 metros quadrados de área construída e está localizado no terreno vizinho. Ele segue sem uso desde 2014. O que deve ser feito por lá?
Recebemos o imóvel já em condições precárias. Parte dele é usada como oficina de marcenaria e serralheria e depósito de materiais da montagem de eventos da São Paulo Expo. Vamos esperar novos ares e visibilidade melhor para a economia brasileira porque não nos sentimos à vontade para aumentar o risco financeiro do grupo investindo em algo ali.
EQUIPAMENTO IDEAL
As características do local adequado para abrigar eventos internacionais de grande porte
Localização. Um centro de convenções dessa envergadura precisaria ser instalado em uma região central da cidade, onde há grande disponibilidade de rede hoteleira e outros serviços
Tamanho. A área construída teria de ser de no mínimo 20 000 metros quadrados, com salas, auditórios, copas e espaço para coquetéis e jantares, além de contar com uma arquitetura icônica para se tornar marca da cidade
Capacidade. O lugar deve comportar de 5 000 a 10 000 pessoas simultaneamente, a média de público nos principais congressos e convenções de nível mundial no exterior
Reformas. O mais indicado seria construir o novo local no Ginásio do Ibirapuera ou no Complexo do Anhembi, com assentos removíveis, ar-condicionado e teto preparado para suportar estruturas suspensas