Cenógrafa transforma casas em palcos da vida
Com mais de vinte anos de carreira, Gigi Barreto acredita na arquitetura humana e no design afetivo para criar cenários belos e únicos

O olhar atento para coisas belas não é por acaso. “Sou filha de Oxum, enxergo pelas lentes da beleza”, afirma a cenógrafa carioca Gigi Barreto, 49, que vem conquistando a clientela paulistana pelo jeito original de enxergar o interior de uma residência. “O meu trabalho como arquiteta de interiores é artesanal e envolve entender as histórias das pessoas que vivem naquele lugar. Para isso, desenvolvi uma escuta afiada”, afirma Gigi. Seu apurado trabalho cenográfico pôde ser visto em shows como o de Alcione (turnê Bolero), Adriana Calcanhotto (turnê Margem) e Larissa Luz (turnê Trovão), entre outros.

Mas como uma cenógrafa virou uma arquiteta de interiores? Tudo culpa da pandemia. Ela é cenógrafa e diretora criativa há mais de vinte anos. Como a maioria dos profissionais do universo das artes, perdeu os trabalhos quando instalou-se a quarentena, há quase cinco anos. Decidiu, então, oferecer o seu olhar estético para transformar casas em cenários de vida. “Na pandemia, a casa virou palco”, completa. Não à toa, ela batizou a empresa — criada junto com o marido, o produtor musical americano Jerry Marques — de Casa Vida Cenário (CVC). Com quatro anos de funcionamento, a empresa reúne vinte colaboradores — entre arquitetos, figurinistas, ceramistas — e já realizou mais de oitenta projetos em vinte cidades brasileiras, além de alguns no exterior. “Não sou formada na área. Aprendi trabalhando ao lado de profissionais incríveis, como Helio Eichbauer, Gringo Cardia e Rubens Gerchman.”

Mais do que uma simples decoração, o trabalho proposto pela CVC é o de “criar um novo modo de viver a partir da arquitetura humana e do design afetivo”. Isso inclui o reaproveitamento de móveis e objetos antigos e muito “garimpo” para achar itens originais para criar a ambientação. “Também busco influências nas festas populares e na Mata Atlântica”, afirma a cenógrafa, que gosta de incluir artistas brasileiros em seus projetos, sempre que possível — caso da pintora alagoana Dona Roxinha, da carioca e artista Duda Moraes e da designer de azulejos Flavia Del Pra. “As lojas de móveis tradicionais, com tudo padronizado e impessoal, não estão no meu roteiro”, comenta Gigi.
Seu bom gosto conquistou clientes famosas, como a atriz Mônica Martelli, a cineasta Joana Henning e a astróloga Cláudia Lisboa. “Cada projeto é único e conta uma história pessoal.” Que o diga a advogada Otávia Bortoti, que teve o seu apartamento de 150 metros quadrados, no Itaim, projetado pela empresa no ano passado. “Conseguiram capturar a essência e ficou tudo com a minha cara”, diz Otávia. Foram cerca de oito meses de trabalho, que renderam um espaço belo, único e aconchegante. “Nunca gostei do que é padrão e igual pra todo mundo”, completa a advogada, que conheceu Gigi Barreto pelo Instagram.

Entre as coisas que mais lhe agradaram está o projeto do banheiro, que foi inteiro feito de cimento queimado, com os metais pintados com tinta no tom ouro velho. “Antes, ele tinha aquele estilo dos motéis dos anos 1980. Agora, lembra um banheiro de um resort chique.” Outro cômodo que merece destaque é o quarto. “Otávia é uma mulher vivaz e por isso optei por revestir todas as paredes e a cabeceira da cama com tecido estampado”, diz Gigi. “Fizemos um quarto com muita personalidade.”
