Avatar do usuário logado
OLÁ,

Há mais de um mês sem chuva, nível do Sistema Cantareira cai novamente

Os paulistanos enfrentam o terceiro período de seca mais longo desde 1995

Por Adriana Farias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2020, 16h00 - Publicado em 27 jul 2018, 06h00
 (Luis Moura/Estadão Conteúdo)
Continua após publicidade

Na última quarta-feira (25), a cidade de São Paulo completou 42 dias sem chuva significativa, vivendo assim o terceiro maior período de seca desde 1995, quando começou a série histórica do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), da prefeitura. Neste primeiro semestre, choveu 36% a menos que a média do mesmo período do ano passado. Foram 527,3 milímetros entre janeiro e junho contra os 819,3 milímetros de 2017.

A condição climática ruim fez o índice de armazenamento do Sistema Cantareira, o principal reservatório da Grande São Paulo, composto de seis represas, cair para 40,5%, a menor taxa registrada desde 6 de junho de 2016. Os outros cinco sistemas que abastecem o estado também estão em queda, mas todos operam em condições melhores que as do Cantareira, com uma taxa média de 64% da capacidade. “Estamos presenciando um bloqueio atmosférico, uma massa de ar seco que está durando bastante tempo”, explica o meteorologista Thomaz Garcia, do CGE. “A previsão é de um período longo de estiagem pela frente, até pelo menos setembro.”

Entre 2014 e 2016, o Cantareira viveu sua pior estiagem e deixou o abastecimento de São Paulo à beira do colapso. Após a crise hídrica, o sistema registrou seu maior nível de capacidade sem o uso do chamado volume morto — a água localizada abaixo das estruturas de operação dos reservatórios e acessíveis apenas por bombeamento — em 15 de junho de 2017, quando este chegou a 68%.

Para que a crise não se repita, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) investiu 7 bilhões de reais em 34 grandes obras e realizou mais de 1 000 intervenções de pequeno e médio portes. As duas instalações mais importantes começaram a operar entre abril e maio deste ano.

JAGUARI – ATIBAINHA.png
Interligação Jaguari-Atibainha: a Sabesp investiu 7 bilhões de reais em 34 grandes obras após a crise hídrica de quatro anos atrás (Divulgação Sabesp/Veja SP)
Continua após a publicidade

Uma é o Sistema São Lourenço, que busca água numa represa já existente na região de Ibiúna e Votorantim e a transporta por 50 quilômetros até a estação de tratamento no município de Vargem Grande Paulista, ampliando, assim, a oferta de água tratada em até 6 400 litros por segundo. “Ela atende uma área que antes era abastecida principalmente pelo Cantareira”, explica Marco Antonio Lopez Barros, superintendente de produção de água da Sabesp.

A outra é a interligação Jaguari-Atibainha, situada na bacia do Rio Paraíba do Sul, que permite transferir água entre duas bacias distintas conforme a necessidade. No sentido do Cantareira, pode enviar até 162 bilhões de litros de água por ano, volume equivalente a uma Represa Guarapiranga cheia. Com essas medidas, o Cantareira foi aliviado e sua vida útil, prolongada. Antes da crise, o sistema tratava 33 caixas d’água por segundo e abastecia 9 milhões de pessoas. Hoje, trata 22 para 6,5 milhões. “Agora o sistema tem força para aguentar até dois anos mesmo em condições climáticas ruins”, diz Barros.

O enfrentamento da crise hídrica levou os paulistanos a economizar até 3 000 litros de água por mês nos últimos três anos. Segundo especialistas, esse consumo consciente precisa continuar, aliado à preservação do meio ambiente. “Até quando vamos conseguir buscar água cada vez mais longe?”, alerta o biólogo Samuel Barreto, gerente de recursos hídricos da ONG The Nature Conservancy (TNC) no Brasil e do Movimento Água para São Paulo. “A qualidade e a quantidade de água estão cada vez mais sendo impactadas pela degradação da cabeceira do Cantareira, que perdeu 70% de suas florestas.”

Continua após a publicidade
NÌvel do Sistema Cantareira diminui com o tempo seco e a falta de chuvas
Carcaças expostas na Represa Jaguari (Nilton Cardini/Estadão Conteúdo)

Indo além das grandes obras para garantir segurança hídrica, em 2015 Barreto ajudou a formar o grupo Coalizão Cidades pela Água, que une governos, empresas e sociedade civil. Em dois anos, a iniciativa contribuiu para a conservação de 7 000 hectares de áreas de mananciais que alimentam os principais sistemas de água da região metropolitana, o Cantareira, o Alto Tietê e o Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). Um estudo da TNC realizado em 2014 mostrou que a restauração florestal de apenas 3% da área das bacias hidrográficas que abastecem os sistemas Cantareira e Alto Tietê pode reduzir em até 50% o carregamento de sedimentos para os rios e represas, o que causa redução de sua vazão, entre outros problemas.

Menos água

A estiagem hoje e seu efeito no principal reservatório da capital

Continua após a publicidade

36% menos água foi a redução na quantidade de chuva no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2017

40% era a capacidade com que operava o Sistema Cantareira na última quarta (25)

 

Publicidade