Camila Lisboa, 38 anos, foi eleita a presidente de um dos mais combativos sindicatos do país, o dos metroviários, com cerca de 7 000 integrantes, sendo só 18% mulheres. “O simbolismo da minha presença mostra que nós mulheres podemos fazer tudo. A gente pode operar trem, estar à frente da assembleia falando ao microfone ou ser mãe se a gente quiser”, diz.
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Torcedora do Santos, assim como seus antecessores no cargo, e filha de um médico e de uma professora da cidade do litoral, ela se rendeu cedo à política, ainda na época do centro acadêmico do curso de ciências sociais na Unicamp, em Campinas.
Já formada, veio para São Paulo procurar emprego e atuou como professora. Como apenas prestava serviço e queria algo mais estável, fez o concurso para o Metrô e foi admitida como agente de estação, em 2012. Ainda na integração no novo emprego, conheceu o sindicato e se filiou.
Dois anos depois, em junho de 2014, foi uma das 42 pessoas demitidas após cinco dias de greve. Sem salário, foi bancada financeiramente pelo sindicato. “Eu estava todo dia aqui no sindicato, acompanhando tudo.”
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Readmitida em 2018 por ordem judicial, voltou a trabalhar e ficou dois anos em estações até ser eleita uma das três coordenadoras-gerais do sindicato.
Embora não minimize a importância de ter sido eleita presidente (o cargo foi extinto em 2016 para dar espaço para um colegiado e só agora foi retomado), ela diz que já exercia uma posição de comando, embora quem mais aparecesse fosse o ex-presidente Altino Junior, hoje candidato do PSTU ao governo estadual.
Detalhe: apoiada por Altino em sua eleição para o sindicato, Camila, filiada ao PSOL, afirma que não votará nele nas eleições.
Questionada se a categoria é machista, ela relativiza. “O machismo existe entre os metroviários, assim como entre os jornalistas, e existe no mundo. Como os metroviários são parte desse mundo, existe entre nós”, diz.
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Casada — seu marido é diretor do sindicato — e sem filhos, já publicou um livro, fruto de seu mestrado na USP, sobre as greves da categoria. “Não é possível dizer que as pessoas desaprovam a greve”, diz. E aprovam? “A depender da circunstância, não.”
Uma paralisação estava prevista para terça (13), mas em assembleia no dia anterior a categoria decidiu não parar.
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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de setembro de 2022, edição nº 2807