Representantes dos blocos do Carnaval de rua da cidade de São Paulo emitiram uma nota conjunta no início da noite desta quarta-feira (1º) fazendo duras críticas a organização do Carnaval deste ano, a cargo da Secretaria Municipal de Cultura. A dez dias do início da folia, eles dizem que “o cenário é de abandono, na combinada falta de planejamento, ausência de transparência e diálogo mal feito”.
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Os alvos principais são a secretária Aline Torres (Cultura), que pela primeira vez está organizando o Carnaval, até então de responsabilidade da Secretaria das Subprefeituras; e o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Em nota, a Secretaria Municipal de Cultura informou que o diálogo com as organizações tem sido diário. “De forma a organizar cada cortejo adequadamente ao trajeto, bem como horários e datas solicitados”, diz a pasta. (leia mais abaixo)
A nota conjunta é assinada pelo Fórum dos Blocos, Comissão Feminina, Arrastão dos Blocos, Abasp (Associação das Bandas Carnavalescas de São Paulo), ABASP, Ubcresp (União dos Blocos de Carnaval de Rua do Estado de São Paulo), Ocupa o Carnaval e TremeSP – União dos Blocos de Música Eletrônica da Cidade de São Paulo.
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“Faltam 10 dias e até agora não tivemos acesso às informações sobre questões fundamentais para a garantia de desfiles tranquilos, tampouco sabemos o que está sendo feito pela tal comissão intersecretarial. A lista de questionamento é gigantesca e versa sobre protocolos para dispersão, redução de danos, combate ao assédio, trajetos, circuitos fechados, banheiros, ambulantes, bueiros, árvores, fiações, horários”, informa o texto. (leia íntegra do documento ao final do texto)
Zé Cury, do Fórum dos Blocos, afirmou à Vejinha que outro fator que vem preocupando os blocos são o que ele chamou de imposições feitas pela PM (Polícia Militar) em relação aos trajetos e horários de finalização dos desfiles. “Está claro que quem está mandando no Carnaval é a Policia Militar. Queremos um posicionamento do prefeito”, afirma.
A própria secretária Aline Torres já havia informado que a exclusão de alguns trajetos, tais como a avenida Tiradentes, ocorreu por solicitação da PM. Procurada para saber qual é o esquema para a segurança do Carnaval de 2023, a corporação informou que a reunião para discutir o assunto não havia siro realizada.
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O descontentamento dos blocos com a organização do Carnaval foi mostrada em reportagem publicada pela Vejinha no dia 16 de janeiro, em texto que abordou a alta concentração dos blocos na região da Sé, no Centro, e a desistência de 82 grupos por motivos que iam desde negativa de percurso solicitado até falta de apoio. A situação levou até a publicação de uma crítica no Diário Oficial da Cidade feita por um dos grupos.
Outra crítica dos grupos que representam os blocos de Carnaval é a de que a secretária Aline Torres instituiu uma comissão para intermediar as negociações com os blocos com pessoas sem expertise na folia. “Colocaram umas dez pessoas nessa comissão, muitas que não possuem nem networking para falar com os 600 blocos e inclusive eles nem receberam a lista com os contatos de todos os representantes dos blocos. Ou seja, eles não tem nem como falar com os blocos. É uma falácia”, afirma Zé Cury.
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O estopim que fez os grupos produzirem o comunicado conjunto foi a ausência de Aline Torres numa reunião prevista para esta quarta-feira (1º) na própria Secretaria Municipal de Cultura.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Secretaria Municipal de Cultura informou que mantém diálogos com as organizações dos blocos carnavalescos. “Como nos anos anteriores, os blocos têm reuniões com as suas respectivas Subprefeituras, que começaram a ser marcadas já no início de janeiro e, desde a semana passada, são realizadas diariamente”, informou.
Ainda segundo a prefeitura, no dia 8 de dezembro de 2022 foi instituído um Comitê de Participação Social no Carnaval de Rua 2023. “Assim, os representantes dos blocos apontam necessidades gerais e/ou específicas das organizações ou do carnaval em geral. Entre os critérios, estava a formação de uma comissão que representasse a diversidade do Carnaval e que tivesse representantes de todas as macrorregiões da cidade”, informa a nota.
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A Secretaria Municipal de Cultura informou não poder divulgar algumas informações pelo fato do evento ser muito complexo, o que impede fornecer dados como cancelamentos e mudança de trajetos. “Entretanto, a Prefeitura trabalha em um esforço intersecretarial, e, com apoio da Polícia Militar (PM), para proporcionar a melhor festa para todos. Todas as pastas envolvidas estão fazendo a sua parte para garantir o sucesso da festa”.
Leia abaixo a nota dos blocos na íntegra
NOTA MANIFESTA SOBRE O CARNAVAL 2023
Assinam: Fórum dos Blocos, Comissão Feminina, Arrastão dos Blocos, ABASP, UBCRESP, Ocupa o Carnaval e TremeSP – União dos Blocos de Música Eletrônica da Cidade de São Paulo
O carnaval mais esperado dos últimos tempos começa em 10 dias e para os blocos de carnaval de rua, charangas, troças, cordões e bandas carnavalescas o cenário é de abandono, na combinada falta de planejamento, ausência de transparência e diálogo mal feito. Tal situação faz parte de um projeto de desmonte das políticas públicas, em que a gestão pública é enfraquecida e desvalorizada, e em seus processos vai sendo substituída por um modelo de negócio privatizante, que desconhece e desrespeita os valores da cultura popular.
É preciso delimitar os papéis e a responsabilidade sobre os diversos aspectos da festa. Aos blocos cabe a cultura popular: a música, a dança, fantasias e alegorias, os ritos de futuros ancestrais. Ao poder público cabe suas funções notórias de gestão, mediação do espaço público, construção da política pública com participação social, cuidado com o povo.
Faltam 10 dias e até agora não tivemos acesso à informações sobre questões fundamentais para a garantia de desfiles tranquilos, tampouco sabemos o que está sendo feito pela tal comissão intersecretarial. A lista de questionamento é gigantesca e versa sobre protocolos para dispersão, redução de danos, combate ao assédio, trajetos, circuitos fechados, banheiros, ambulantes, bueiros, árvores, fiações, horários.
O poder público não pode se isentar de cumprir o seu papel, nem jogar essa responsabilidade sobre quem constrói a folia carnavalesca. Há falta de transparência sobre o planejamento e ações, bem como das diretrizes tomadas. As tentativas de controle excessivo e regras feitas por quem não conhece a festa só podem desembocar em soluções autoritárias que colocam blocos e foliões em risco.
Nós queremos a garantia de que poderemos sair sem sofrer repressão, e de que não sofreremos com judicializações que nos responsabilizem por aquilo que deveria ser papel do poder público garantir. Nós estamos fazendo nossa parte. A secretaria municipal de cultura e todo o poder público estão fazendo a sua?