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Cresce número de locais que aceitam o bitcoin na capital

Moeda virtual conquista mais adeptos entre os paulistanos; veja como funciona

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 8 dez 2017, 06h00 - Publicado em 8 dez 2017, 06h00
Zanini, da Tartuferia San Paolo: os clientes gastam três vezes mais (Antonio Milena/Veja SP)
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A paisagista Adines Reckziegel passou por uma situação inusitada no último mês de julho. Ao vender alguns vasos de plantas e outros objetos de decoração, recebeu de um comprador a oferta de pagar metade do valor de 8 000 reais na forma de bitcoins. “Na época eu nunca tinha ouvido falar dessa moeda”, diz. “Fui pesquisar um pouco, descobri como funcionava e acabei topando”, completa.

Na sequência dessa experiência, ela e o marido, o empresário Rodrigo Reckziegel, compraram 4 000 reais em unidades do dinheiro virtual. Cinco meses depois, a valorização transformou o investimento em mais de 15 000 reais. “Poderia até ser mais, pois realizamos algumas retiradas nesse período”, explica Adines.

Criado em 2009, o bitcoin foi a primeira “criptomoeda” a surgir no mercado. E hoje é também a mais famosa. Na prática, o investimento em bitcoin funciona de forma idêntica ao feito em moedas tradicionais, como euro e dólar. A pessoa adquire determinada quantia, acompanha a variação das cotações e realiza transações com os recursos disponíveis.

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Cláudio Carvajal: aulas na faculdade sobre o negócio (Antonio Milena/Veja SP)

Há, no entanto, diferenças importantes. Não existe dinheiro físico e todas as movimentações ocorrem por meio de computador, aplicativos e cartões de débito. Além disso, o sistema funciona sem regulação de países ou bancos. Suas oscilações ocorrem pela velha lei da oferta e da procura: quanto mais gente compra, mais o dinheiro virtual se valoriza.

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Em 2017, o bitcoin valorizou-se 100% ao mês em média. Em janeiro, uma unidade equivalia a cerca de 3 000 reais. Na semana passada, havia atingido o patamar de 42 000 reais. Ou seja, uma variação de 1 300%. Em comparação, o índice Small Cap — carteira de ações da Bolsa de Valores de São Paulo que foi uma das estrelas do mercado financeiro nos últimos tempos — acumulou rentabilidade de 40% ao longo deste ano.

O primeiro passo para movimentar bitcoins é abrir uma “carteira”, similar a uma conta bancária. Há vários sites e aplicativos disponíveis, mas o mais popular é o Block chain.info. Após se cadastrar, o correntista compra a quantidade desejada da moeda.

Estima-se que hoje existam cerca de 100 000 paulistanos investindo no modelo, um contingente 200 vezes maior do que há três anos. Com essa movimentação, recentemente surgiram diversas maneiras de simplificar a conversão em reais ou a compra de mercadorias na capital.

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Uma delas é adquirir uma espécie de cartão pré-pago junto a operadoras como Visa e Mastercard. O usuário transfere certa quantidade de bitcoins, que são transformados na moeda brasileira e podem ser usados em qualquer estabelecimento.

Há locais no comércio que vendem seus produtos diretamente em bitcoins. Hoje são cerca de trinta endereços do tipo por aqui, oferecendo os mais variados produtos, que vão desde imóveis de alto padrão, como na empreiteira Tecnisa, até lingeries, como no caso da butique Hera, em Santana.

Bitcoin
O estudante Felipe Fajardo: saques no caixa eletrônico (Antonio Milena/Veja SP)
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Entre os restaurantes, as duas unidades da Tartuferia San Paolo, nos Jardins, aderiram à moda em agosto. “O cliente que paga com esse dinheiro virtual gasta três vezes mais que a média”, calcula o proprietário Lalo Zanini.

Outra opção é sacar os valores em um caixa eletrônico. No momento, a capital conta com apenas um conectado ao sistema, na Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), na Avenida Paulista. “Tiro uns 3 000 reais todo mês”, diz o estudante Felipe Fajardo, matriculado em gestão de TI.

A instituição, aliás, é uma das primeiras a oferecer disciplinas sobre a moeda virtual na grade curricular. “Temos também cursos livres abertos ao público”, diz o coordenador acadêmico Cláudio Carvajal.

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Uma alternativa para investir no negócio são as corretoras, que intermedeiam operações em troca de comissões de 0,25%. A maior delas é a FoxBit, criada em 2014 e com cerca de 30 000 clientes na capital. Entre seus serviços está a orientação aos clientes para reduzir a possibilidade de fraudes. “Já barramos nomes envolvidos com corrupção em nossa carteira”, diz Felipe Trovão, um dos sócios da empresa.

O grau de risco que caracteriza a compra da criptomoeda, aliás, é um dos motivos que ainda afastam investidores menos agressivos. “Apesar de terem um rendimento menor neste ano, aplicações como ações e poupança possuem garantias institucionais”, diz o economista Antonio Hoffert.

Embora não tenham ocorrido grandes perdas nos últimos anos, há a desconfiança de que uma “bolha” estoure em um futuro próximo. “O bitcoin veio para ficar. Mas a curto e médio prazo não podemos descartar o risco de uma desvalorização”, completa Hoffert.

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