Billy Paul e outros artistas são figuras carimbadas nos palcos
Com ótima relação custo-benefício, músicos já com cheiro de naftalina ainda lotam plateias paulistanas
Os restaurantes lotados, a multiplicação de vendedores de rosas nos semáforos e as filas nas portas de motéis fazem parte das cenas mais que previsíveis em qualquer Dia dos Namorados. Tão certo quanto essas coisas é ouvir num palco da cidade, a certa altura da noite, um grupo fazer um breque para uma lenda da black music americana soltar os pulmões no seguinte refrão: “Me and… Mrsssss… Jo nesssss”.
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Reafirmando o que já se tornou uma tradição, Billy Paul, o autor desse hit dos anos 70, vai tocar novamente na cidade na noite de 12 de junho, na casa de shows HSBC Brasil. Será a nona apresentação do astro por aqui nos últimos dez anos. Quase tão assíduo quanto ele tem sido o conterrâneo John Pizzarelli, um bom cantor guitarrista de jazz. O público poderá conferir (mais uma vez) seu talento na quarta (1º) e na quinta (2) no Bourbon Street ou num show gratuito previsto para ocorrer em 5 de junho no Parque do Ibirapuera. A lista de figurinhas carimbadas no circuito tem ainda estrelas como o Village People, um dos ícones da era disco, e os roqueiros do Deep Purple. Nesses casos, quem eventualmente perde a chance de comprar o ingresso tem sempre o consolo: no ano que vem, é bem possível que haja outra oportunidade.
Por que essas atrações, muitas das quais já com cheiro de naftalina, viraram arroz de festa nos palcos paulistanos? Uma das principais explicações para o fenômeno é o fato de que os artistas representam uma ótima relação custo-benefício. Como os tempos de glória de vários deles ficaram para trás, o valor do cachê se tornou bem mais em conta. Enquanto gente como o ex-beatle Paul McCartney não abre a boca por menos de 4 milhões de dólares, uma apresentação do Iron Maiden sai por aproximadamente 350.000 dólares. Mesmo assim, os metaleiros ingleses, cujo auge artístico ocorreu na década de 80, quase sempre lotam os locais onde tocam. No último concerto, realizado em março no Estádio do Morumbi, eles atraíram um público de 55.000 pessoas. “Existe uma onda nostálgica, e por isso apostamos nesses artistas”, afirma Sueli Almeida, diretora artística do Via Funchal, casa que tem na sua programação de junho a previsão de clássicos como a banda Slayer e Colin Hay, ex-líder do Men at Work.
Outra vantagem é que a maioria já passou da fase de egotrip, materializada nos camarins com uma relação enorme de exigências. Combos ainda no auge elaboram listas cheias de pormenores. Os irlandeses do U2, que estiveram por aqui em abril, pediram mariscos no cardápio, garrafas de vinhos chilenos, 75 celulares e uma sala para reuniões e relaxamento. Já a trupe do Village People, que fez a festa dos fãs na semana passada num espetáculo realizado no HSBC Brasil, foi muito mais frugal. No camarim, os músicos queriam apenas água, toalhas e refrigerantes. “A turma é bastante flexível, não exige voar só de primeira classe ou se hospedar no melhor hotel, como os astros que estão na crista da onda”, afirma o empresário Julio Viseu, responsável pela vinda dos veteranos da disco.