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Incentivo a uso da bicicleta está em marcha lenta em São Paulo

Com coronavírus, Paris e Bogotá ampliaram ciclofaixas e Itália deu incentivo a compra de bikes; por aqui, nada foi feito, mas vendas de magrelas cresceram

Por Pedro Carvalho
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h45 - Publicado em 31 jul 2020, 06h00
O prefeito Bruno Covas, na Paulista: “medidas tímidas” (Ettore Chiereguini/AFP/Divulgação)
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As grandes cidades do mundo não perderam tempo. Tão logo perceberam que ônibus e metrô seriam ambientes indesejáveis após a quarentena (pelo óbvio motivo de não permitirem o distanciamento social), elas correram para incentivar o uso da bicicleta. Buscavam, assim, impedir que os moradores entupissem de carros as vias já congestionadas dessas metrópoles. Em Paris, a prefeitura criou 50 quilômetros de ciclofaixas emergenciais ao longo dos principais eixos de deslocamento. Uma das mais tradicionais ruas de comércio, a Rue de Rivoli, está interditada a veículos individuais até o fim do verão europeu. O governo passou a dar até uma ajuda de 50 euros para quem quiser consertar uma bicicleta avariada e um subsídio de 500 euros na compra de um modelo elétrico. O cenário é semelhante por toda a Europa. O Reino Unido constituiu um fundo de 250 milhões de libras (1,6 bilhão de reais) para adaptar espaços públicos às magrelas e adotar outras medidas que desincentivam o uso do carro. Na Itália, a expansão das ciclofaixas se soma a um subsídio de 70% para compra de bikes. No centro de Bruxelas, os veículos não podem mais ultrapassar os 20 quilômetros por hora. “É uma maneira inteligente, barata e eficaz de lidar com a emergência sanitária”, afirma o arquiteto Alexandre Delijaicov, coordenador de projetos de infraestrutura pública na USP.

Mesmo as problemáticas metrópoles latino-americanas, como Bogotá, Lima e Cidade do México, expandiram as ciclofaixas emergenciais no período. Na capital colombiana, a prefeitura fez 80 quilômetros de pistas — não para uso recreativo, mas ao longo dos eixos mais movimentados da cidade. “É como se instalassem uma faixa para bicicletas na Avenida 23 de Maio”, compara Aline Cavalcante, diretora de participação pública da Ciclocidade, uma tradicional associação de ciclistas.

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Milão bicicleta
Milão, na Itália: ajuda financeira para comprar bike (Mairo Cinquetti/Getty Images/Divulgação)

Em São Paulo, a população tem dado indícios de que as bicicletas poderiam ser um caminho seguro para a volta da quarentena. Uma pesquisa ainda inédita da Aliança Bike, que representa empresas do setor, mostra que a compra de bicicletas e equipamentos na cidade saltou 102% entre 15 de junho e 15 de julho, em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 8 207 bikes vendidas em lojas especializadas, ante 4 063 em 2019. Nos trinta dias anteriores, a alta tinha sido de 56%. “Na percepção dos lojistas, a maioria dos clientes é gente que compra a primeira bicicleta”, diz Daniel Guth, diretor da associação. “Em dois meses, são mais de 14 000 paulistanos que aderiram ao pedal”, diz. Quase todas as lojas já têm fila de encomendas, como acontece em Nova York, Washington e várias capitais europeias. “Para modelos básicos, a espera vai de uma semana a um mês. Estamos vendendo quatro vezes mais que o normal”, diz Fabio Petrillo, dono de uma loja no Tatuapé.

Para os especialistas, porém, a atual gestão municipal tem andado na pista lenta do incentivo às bikes. “Não houve um plano para a pandemia, apenas uma expansão tímida de ciclovias, que já estava prevista”, diz Guth. Desde março, foram requalificados 132 quilômetros de ciclovias e entregues 9 quilômetros de novos trechos — outros 12 estão em fase de obras ou sinalização, informa a prefeitura.

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As ciclofaixas montadas aos domingos ficaram desativadas na maior parte da quarentena. Estavam sem patrocínio desde agosto passado e foram reabertas apenas no dia 19. A CPTM também manteve fechada parte dos bicicletários das estações no período. “Houve falta de ambição da prefeitura”, diz Aline.

“(A prefeitura) acompanha as iniciativas de diversas cidades do mundo. É importante, entretanto, contextualizar tais exemplos (com) as dimensões das cidades, densidade demográfica, malha de transporte existente e muitos outros aspectos”, diz a nota da Secretaria de Transportes, que não concedeu entrevista.

 

* Atualização publicada 19h25 do dia 31/07:

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Após a publicação da reportagem, a Secretaria Municipal de Transportes solicitou que os planos da Prefeitura para as ciclofaixas (abaixo) para o restante do ano fossem incluídos ao texto:

“Até o fim de 2020, serão 173,5 km de novas conexões e 310 km de requalificações. Os investimentos são da ordem de R$ 325 milhões nesta etapa de ampliação e recuperação da infraestrutura cicloviária (a reforma inclui asfalto novo, nivelamento da sarjeta, mais tachões de segurança, sinalização horizontal e vertical).

As obras em andamento e as já entregues trazem melhorias permanentes para a mobilidade ativa que se manterão no pós-pandemia, o que vai muito além de soluções emergenciais durante o período de crise sanitária, como as ciclofaixas temporárias.

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Já foram entregues conexões em trechos importantes como nas avenidas Ricardo Jafet, Henrique Schaumann e Engenheiro Caetano Álvares. Estão em andamento obras na Avenida Jacu-Pêssego, Domingos de Morais, Vila Jaguara, entre outras”, afirma a nota da Secretaria Municipal de Transportes.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698. 

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