Aos ouvidos do público, os acordes de “Malandragem”, de Cazuza e Roberto Frejat, soam inicialmente como uma estranha ironia. Embalada pela versão instrumental da música, cuja letra possui os versos “quem sabe ainda sou uma garotinha/ esperando o ônibus da escola sozinha”, Bibi Ferreira sobe ao palco para apresentar o show teatral “Bibi — Histórias e Canções” e comemorar os 90 anos, completados em 1º de junho.
A atriz, cantora e diretora cria mais uma agradável desculpa para revisitar sete décadas de carreira e causos de sua vida, a maioria ocorrida lá pelo “século XVII”, como ela brinca. Não se trata da primeira vez que Bibi faz isso — e tomara que venham outras por aí. Tampouco há novidades em cena, mas a técnica e o bom humor da artista tornam o programa uma amostra de sua trajetória, conservadora na forma e cheia de frescor e de conteúdo inteligente.
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Apoiada por 21 músicos, Bibi ressalta a veia de comediante na divertida fusão de marchinhas carnavalescas e árias operísticas. A atriz dramática exacerba a melancolia de “Ternura Antiga”, de Dolores Duran, e de “Eu Sei que Vou Te Amar”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, contrastando com uma exaltação aos clássicos da Broadway. Ponto alto da sua carreira nos anos 70, o espetáculo “Gota d’Água” representa a tragédia. Escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes, a peça ressurge no arrepiante monólogo da transtornada Joana, além de, claro, na canção-título.
Mais narrativa é a remissão à cantora Edith Piaf. Em meio a temas como” La Vie en Rose” e “Non, Je Ne Regrette Rien”, a estrela comenta a biografia da diva francesa, interpretada por ela na década de 80 e de quem jamais se desvinculou. Sob a quase transparente direção cênica de João Falcão e regência musical de Flávio Mendes, Bibi esbanja uma rara versatilidade.
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