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OLÁ,

Bibi Ferreira: atriz

Com o teatro lotado a cada espetáculo de Às Favas com os Escrúpulos, ela brilha novamente na comédia, o gênero que a lançou em sua lendária carreira pelos palcos

Por Thales Guaracy
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Grande sucesso da temporada de 2007, com 40 000 espectadores nas suas primeiras 100 apresentações, a peça Às Favas com os Escrúpulos é uma catarse, da qual o público participa intensamente, vingando-se da nossa desmoralizada classe política conforme o velho princípio do teatro de Molière, “castigat ridendo mores” (castiga os costumes rindo). Na linha de Caixa Dois, outro sucesso de Juca de Oliveira, autor da peça e intérprete do senador adúltero e inescrupuloso de Às Favas, a obra fez brilhar Bibi Ferreira no papel da mulher traída por um marido de quem todos gostariam de vingar-se. Diva do teatro brasileiro em plena forma, aos 86 anos, Bibi extraiu o melhor da fórmula do sucesso, na qual uma grande atriz encontra um papel catalisador dos sentimentos do grande público a respeito de um poderoso tema do momento.

“O meu papel é o do povo sob todos os pontos de vista, emocionais e políticos”, acredita ela. “Sou traída em todos os sentidos. As pessoas se identificam com a personagem e riem muito.” Bibi adora a participação do público, que aplaude no meio da peça, interfere com comentários e chega a dar sugestões no curso da apresentação, em geral no sentido de aperfeiçoar a vingança. “Tenho de prestar muita atenção, senão me perco”, conta ela. “Há uma cena em que começo a beber e vou do zero ao máximo da bebedeira. Por causa das intervenções, quando volto ao texto às vezes não sei em que ponto do pifão estou, é complicado.”

Atriz desde o primeiro mês de idade, substituindo uma boneca numa das peças de seu pai, o lendário ator Procópio Ferreira (1898-1979), Bibi se tornou mais conhecida pelos musicais, nos quais investiu por mais de quatro décadas. Protagonizou clássicos como A Gota d’ Água e Piaf, o primeiro espetáculo a alcançar no Brasil mais de 1 milhão de espectadores. Porém, considera ter estreado “profissionalmente” aos 17 anos de idade, levada ao palco por Procópio, justamente nas comédias. “Fiz muitas, papai quase só tinha repertório para rir”, diz ela. Quando eles saíam dessa linha, o público estranhava. “Houve uma peça em que éramos amantes”, relembra. “Como a platéia sabia que se tratava de pai e filha na vida real, e eram os anos 40, foi uma tragédia. As pessoas iam saindo aos bocadinhos e depois de quatro dias papai tirou a peça de cartaz.”

Foi naquela época que ela passou a ter sua própria companhia teatral, aberta por decisão do pai, como uma “filial”. Sempre foi nômade, levando a arte aonde a platéia está. É dona de um apartamento na Avenida Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, diante do Pão de Açúcar, mas na prática mora em hotéis, desde o tempo em que ficava em pensões pulgueirinhas com banheiros coletivos, nos quais tomava banho de tamancos, “para manter distância daquilo que estava no chão”. Por conta de Às Favas, sua casa hoje é um quarto no Maksoud Plaza, onde sobre a mesa se amontoam DVDs, maquiagem e uma bandeira do Brasil, que ela comprou para a centésima apresentação da peça. Em uma carreira que se confunde com a da história da dramaturgia no Brasil, Bibi achava que ficaria mais conhecida pelos musicais. De volta aos braços da comédia, só tem a comemorar. “Digo ao Juca que Às Favas é um marco em nossas carreiras”, afirma ela. Prova de que sempre é tempo para surpresas e momentos extraordinários.

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