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“Os novos prédios de Campos Elíseos deverão abolir muros”, diz Bete França

Secretária municipal de Urbanismo diz que a mudança das pastas estaduais para o Centro é positiva, desde que os edifícios dialoguem com o entorno

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 abr 2024, 06h00
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  • Recém-nomeada para comandar a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), responsável por autorizar e conduzir o planejamento e o desenvolvimento da metrópole, a arquiteta Elisabete França, professora da Faap e da USP, se diz uma entusiasta do projeto do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de transferir todas as secretarias para o polo administrativo que será construído em Campos Elíseos.

    “É uma correção histórica no sentido de que eles estarão de volta ao Centro, após os governos preferirem se isolar no Morumbi”, diz. Sobre sua curta gestão até o fim do ano, Bete França, como é conhecida, afirma que seu principal desafio será tirar do papel quatro importantes projetos de intervenção urbana, chamados de PIUs, na Vila Leopoldina (Zona Oeste), Centro, Tamanduateí (Sudeste) e Jurubatuba (Sul).

    Leia a entrevista a seguir.

    Como a senhora vê o projeto do governador Tarcísio de Freitas para levar de volta a Campos Elíseos todas as suas secretarias?

    Sou super a favor. Sou membro do júri do concurso. A medida vai trazer 22 000 funcionários espalhados pela cidade. A gente sonha com isso há anos, pois a mudança vai evitar muitas viagens de carro para o Morumbi todos os dias. Até os manifestantes que porventura protestam no Palácio dos Bandeirantes terão mais facilidade para chegar ao Centro. É uma questão democrática. Pega o metrô e está na boca da reclamação.

    Trata-se de uma correção histórica, na sua avaliação, pois a sede do governo ficava em Campos Elíseos até se mudar para o Morumbi, em 1965?

    Acredito que sim. Teve um momento de políticas carrocratas, de não querer governo perto da população. Muitos governos, não só em São Paulo, preferiram se isolar.

    De que o projeto não pode abrir mão de jeito nenhum? Haverá uma grande esplanada, mas os edifícios precisam ser abertos para os espaços públicos, com as chamadas fachadas ativas (com comércios ou serviços nos térreos). Eles precisarão facilitar o acesso ao transporte público e convidar as pessoas a usar suas áreas. Também tem que haver muitas árvores.

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    E o que não pode haver em nenhum dos prédios?

    Muros. Eles precisarão ser abolidos dos projetos.

    A chegada de dezenas de secretarias e milhares de pessoas ao Centro vai conseguir acabar de vez com a Cracolândia?

    Não acredito que vá acabar. Mas o projeto vai ajudar a diminuir a quantidade de dependentes e traficantes. Porém, é preciso ter cuidado para não gentrificar o bairro e expulsar os pobres.

    Por que sucessivas gestões foram incapazes de resolver o gradual e constante abandono do Centro, com prédios cada vez mais vazios e com o aumento da população de rua?

    A população de rua é um problema mundial. Fui a Los Angeles recentemente e vi que há 80 000 pessoas nas ruas. Aqui, a nossa população de rua é decorrente do empobrecimento, da pandemia, da crise econômica. São Paulo registrou aumento porque é atrativa. Como em outras cidades não há atendimento suficiente, eles chegam aqui e vão parar na rua.

    Mas eu falo de um abandono como um todo e por muitas décadas.

    Não acho que o Centro esteja abandonado. A cidade está sendo mais usada à noite, o policiamento melhorou e é constante. Em algumas partes, como na Cracolândia, realmente existe a questão, mas falar que o Centro está abandonado é narrativa. Há cinquenta anos o Centro era utilizado pela burguesia. Isso não vai voltar.

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    Por quais motivos o Plano Diretor de 2014, revisado em 2023, não foi capaz de levar os mais pobres para morar próximo a grandes avenidas, como a Rebouças, cheia de edificações de alto padrão?

    Os chamados eixos atraíram muito investimento. É só passar na Rebouças ou pelo Tatuapé. Tem funções que a revisão tenta corrigir. Mas quando se restringem os limites das ZEUs (as áreas cercadas por transporte abundante), restringe-se o acesso à terra, que fica mais cara. E é mais difícil fazer empreendimentos que atendam a baixa renda. Agora ampliaram as ZEUs para essa tentativa.

    Outra questão insolúvel na cidade é a ocupação desordenada em áreas de mananciais. Por que até hoje há condomínios clandestinos sendo erguidos na beira das represas Billings e Guarapiranga?

    Essas obras reduziram nos dois últimos anos após o governo do estado aumentar o controle nos lotes. Quanto mais o setor público estiver presente, menor será a voracidade da clandestinidade. Mas é preciso que as pessoas olhem mais para as represas. Por isso eu acreditava que o Aquático-SP (barco que vai transportar passageiros do Grajaú à Pedreira) aumentaria essa visibilidade.

    Ao barrar a inauguração, a Justiça afirmou que a instalação do transporte foi precipitada.

    Precipitada? O Aquático está no Plano de Metas da prefeitura e é fruto de uma lei, criada pelo então vereador Ricardo Nunes. Se o Aquático-SP fosse no Ibirapuera, não iriam proibir. Mas, como é o pessoal que mora na Billings que vai usar, falaram que o meio ambiente será destruído. O barco é um equipamento singelo, que vai proporcionar a retirada de centenas de carros das ruas todos os dias.

    Quais serão as suas principais demandas até o fim da gestão? O prefeito me deu a tarefa de atuar com rapidez na regulamentação dos PIUs Central, Jurubatuba, Tamanduateí e Leopoldina. Desses, o Central é um dos fundamentais para a política de habitação.

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    O que emperra a regulamentação de todos eles, já aprovados na Câmara?

    As pessoas pensam que é uma tarefa fácil. Quando se criam leis, é preciso fazer compatibilização com outras legislações, como a de zoneamento, além de pesquisar áreas contaminadas. É um trabalho bem complexo, mas vamos correr.

    Publicado em VEJA São Paulo de 12 de abril de 2024, edição nº 2888

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