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Bauducco: 188 panetones por minuto

Com produção surpreendente, a empresa paulistana é a maior fabricante do doce natalino no país

Por Arnaldo Lorençato
Atualizado em 8 set 2020, 16h00 - Publicado em 18 set 2009, 20h35
Luigi Bauducco e linha de produção de panetones Bauducco (Divulgação/Divulgação)
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Quando o representante comercial Carlo Bauducco deixou Turim em 1948, nem por sonho ele imaginava trocar a Itália pelo Brasil. Menos ainda que seu sobrenome se transformaria em sinônimo de panetone não só em São Paulo como em todo o país. O motivo para cruzar o Atlântico de navio não era agradável. Vinha cobrar uma dívida de máquinas de modelagem de pão importadas por um amigo, também italiano. “Apesar de não falar uma palavra em português, meu pai recuperou parte do dinheiro”, conta Luigi Bauducco, de 74 anos, filho único de Carlo. Em vez de voltar à terra natal, o turinês então com 42 anos encantou-se pela cidade e decidiu ficar. O bom faro para negócios ajudou-o a perceber que o panetone era pouco consumido em São Paulo, onde havia muitos italianos e descendentes. Da pequena confeitaria aberta por ele no Brás em 1952 e hoje presidida por Luigi, a Bauducco transformou-se na maior fabricante brasileira do doce natalino. Só neste ano, saíram 35 milhões de unidades do gigantesco forno de 54 metros de comprimento, em Guarulhos. No período de pico da produção, entre agosto e a véspera do Natal, são assados 188 panetones por minuto.

Linha de produção de panetones na fábrica da Bauducco.
Linha de produção de panetones na fábrica da Bauducco. (MARIO RODRIGUES/Divulgação)

 

Curiosamente, Carlo Bauducco não cozinhava. “Meu pai conseguiu a receita com um amigo em Milão”, lembra Luigi. Para cuidar da preparação das guloseimas, o patriarca convidou o conterrâneo Armando Poppa, um habilidoso confeiteiro. Quando Poppa saiu para abrir sua própria doçaria, a Cristallo, em 1953, Carlo trouxe outros especialistas para substituí-lo, mas tomou o cuidado de preservar a fórmula original do doce recheado de frutas cristalizadas. Adepto de arrojadas técnicas de marketing, logo depois da abertura da primeira loja, encheu um avião de folhetos e os espalhou pela cidade. Conseguiu ao mesmo tempo divulgar o panetone, desconhecido para muita gente, e vender todo o estoque em apenas três dias. O grande salto, no entanto, foi dado em 1962 com a inauguração da fábrica em Guarulhos. Logo depois, também foi fundamental para a expansão da marca a entrada do produto em supermercados, onde o consumidor comprava por impulso. “Antes dependíamos da boa vontade dos vendedores de confeitarias”, afirma Luigi.

Linha de produção de panetones na fábrica da Bauducco.
Linha de produção de panetones na fábrica da Bauducco. (MARIO RODRIGUES/Divulgação)

 

Mesmo com todas essas mudanças, os Bauducco continuam a utilizar o mesmo processo de fermentação natural, responsável pela leveza do produto. Até o panetone ficar pronto para ser embalado, são necessárias 48 horas, vinte das quais para que a massa cresça lentamente. “Caso um deles não esteja perfeito, é descartado”, explica Roberto Negrini, gerente da fábrica. “Temos um controle informatizado capaz de rastrear qualquer problema.” Só em São Paulo 27 000 pontos-de-venda exibem em suas gôndolas caixas amarelas da Bauducco e comercializam 12 milhões de unidades em tamanhos de 80 gramas (2 reais) a 1 quilo (19 reais). Além disso, a empresa se encarrega de preparar panetones com receitas exclusivas para restaurantes como Massimo, Fasano e a rede de pizzarias Bráz.

 

Hoje, o principal cargo executivo da empresa familiar pertence a Massimo Bauducco, primogênito de Luigi. Os dois, como toda a família, são discretos, avessos a publicidade e não posam para fotos. No papel de gerente-geral, Massimo é figura-chave na renovação da marca. Em 1978, quando tinha apenas 19 anos, sugeriu ao pai uma novidade vista na Itália: o Chocottone. Fisgou assim fãs do bolo incapazes de comer frutas cristalizadas. Uma das mais importantes decisões de Massimo, que trabalha ao lado dos irmãos Silvana e Carlo Andrea, foi a compra da marca concorrente Visconti em 2001. Essa aquisição consolidou-os na liderança, com uma fatia de 70% do mercado de panetones. O executivo também investiu na diversificação dos produtos. Além de bolachas champanhe e torradas, passou a fazer biscoitos de vários tipos, bolos, barrinhas recheadas… No total, estão em operação quatro fábricas (três em São Paulo e uma em Minas Gerais) e nove centros de distribuição, nos quais trabalham 3.000 funcionários. O grupo ainda mantém em seu portfólio a marca Fritex, especializada em salgadinhos.

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Linha de produção de torradas na fábrica da Bauducco.
Linha de produção de torradas na fábrica da Bauducco. (MARIO RODRIGUES/Divulgação)

O título de número 1 da Bauducco não se limita apenas aos panetones. “De cada quatro pacotes de wafers vendidos no Brasil, um é nosso”, afirma Paulo Cardamone, diretor de marketing da empresa. “Somos o maior produtor mundial desse tipo de biscoito.” Campeã no Brasil e segunda no ranking mundial – perde apenas para a italiana Barilla nesse quesito –, a empresa tem uma linha de torradas de fazer inveja. Os produtos Bauducco cruzaram as fronteiras internacionais em 1979. São vendidos em cinqüenta países, entre os quais Estados Unidos, Japão, Portugal e Argentina. As exportações representam hoje 10% do faturamento da empresa, que tem o ambicioso plano de elevar essa participação a até 50% nos próximos três anos.

 

Os números do sucesso

 

35 milhões de panetones foram fabricados pela Bauducco em 2006

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12 milhões de unidades foram vendidas só na cidade

 

70% do mercado brasileiro de panetones é da empresa

 

48 horas é o tempo de preparação do panetone, da produção da massa à embalagem

 

54 metros é o comprimento do forno usado para assar os bolos

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